domingo, 12 de outubro de 2008

O pão (7) Cozer


Mais uma vez as pessoas tinham de se organizar para cozer o pão no forno comunitário. Como o forno era muito grande, juntavam-se duas famílias de cada vez e coziam o pão para uma semana. Todas as segundas-feiras havia uma família que tinha de ser a primeira a aquecer o forno, porque ela tinha de gastar duas ou três vezes mais de lenha do que as seguintes. Então essa família só voltava a ser a primeira depois de ter passado por todas as famílias da povoação a obrigação de cozer à segunda feira.
A primeira família a cozer na segunda-feira ia dando a vez à que queria cozer a seguir, a segunda dava à terceira e assim sucessivamente.
Chegada a nossa vez, vamos peneirar, que é separar o farelo da farinha, depois da farinha bem limpa dentro da maceira, junta-se à farinha água morna, fermento, sal e dois braços bem fortes para misturar tudo muito bem, pelo menos durante trinta minutos. Em seguida, tapa-se a massa para manter a temperatura morna e deixa-se fermentar, durante duas horas ou mais. Enquanto a massa fermenta vamos aquecer o forno com muita lenha. Entretanto alguém continua a aquecer o forno, outra vai tender a massa (dar a forma ao pão) e, para isso, tinha de ser alguém que soubesse do ofício, para que a massa não perdesse a sua elasticidade. Depois da massa tendida, punha-se no tabuleiro, onde se deixava a fermentar mais vinte minutos, tapando-se para manter a massa morna. Também se guardava uma tigela de massa para fermento da próxima fornada. Enquanto acabava de fermentar a massa, limpava-se o forno, retirando todas as brasas e cinza até as pedras ficarem bem limpas. Depois do forno estar bem quente e a massa fermentada, com uma pá de cabo bastante comprido, punha-se o pão dentro do forno, fechava-se a porta, dizendo sempre esta frase:
“Cresça o pão no forno e as graças de Deus pelo mundo todo “.
Uma hora depois o pão estava cozido, tirava-se do forno, punha-se no tabuleiro e levava-se para casa.
Os pães ficavam douradinhos, fofinhos e de crosta estaladiça.
Levava-mo-lo à mesa, juntávamos-lhe uma fatia de queijo ou de presunto ou uns bocadinhos de chouriça assada, comíamos e deliciava-mo-nos.
Esquecíamos todo o trabalho que ficava para trás mas, lá para o mês de Outubro, recomeçava tudo de novo.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

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