quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Pistolão

Passados alguns anos após o seu regresso do Brasil, o nosso amigo, levava uma vida completamente integrada e quando já com um grãosito na asa, começava a contar as peripécias fenomenais vividas Além –Atlântico, ora no Ceará ora na densa e perigosa selva Amazónica ,vinha sempre à baila , que o que sempre o salvara nestes críticos momentos de desespero fora sempre o seu pistolão. O problema é que ninguém lhe tinha posto a vista em cima.Ora o “cara” Bonifácio tinha uma Olga no Bico, que por diversas vezes era visitada pelas famintas vacas do Vasco do Azinhal. Como é óbvio o prejuízo dessas visitas era mais que muito!... Vociferava o Bonifácio que se as apanhasse na Olga, que com o pistolão matava as que lhe apetecia e que não tinha medo de ninguém, com o pistolão isto, com o pistolão aquilo !..., mas vê-lo, é que nada !....Ora numa certa noite, daquelas que não havia nada para fazer, eu e mais dois compinchas, lá vamos nós a casa do Bonifácio. É hoje que tem de nos mostrar o pistolão!...Depois de nos mandar entrar, lá nos sentámos à lareira e conversa daqui, banalidade da colá, mais um caneco para aconchegar e eis que se solta o repto :-Oh ti António, dizem as más línguas que tem para aí um pistolão que trouxe do Brasil, mas é tudo mentira e é tudo para nos meter medo não é?!......-Ai é !... Ai é!..., não tenho, não tenho, já ides ver se o tenho ou não!...Levantou-se bruscamente do banco de madeira e enquanto praguejava a bom praguejar, dirigiu-se em passo acelerado para a arca de centeio que se encontrava à entrada da casa e que fazia parte do mobiliário. Num ápice abriu com raiva felina o tampo da mesma, mergulhou o braço na dita e retirou de lá o tão afamado pistolão. Lá estava ele bem agarrado, esbracejando ufanosamente nas mãos do dono, para que todos o pudéssemos contemplar!...-Oh tio António,!.. mas isso não dispara!... é só fogo de vista!...-atirou um de nós à queima - roupa.- Ai não dispara, não dispara, já ides ver se dispara ou não!...Com destreza, puxa-lhe os cães para trás, dá dois passos na nossa direcção, vira-se para a arca do centeio e perante a nossa estupefacção puxa o gatilho e PUM !.....O eco do estrondo entranhou-se de tal maneira nos nossos ouvidos que por segundos ficámos completamente alucinados. Ainda não nos tínhamos recomposto do susto e já vociferava de novo o “cara”: - Ai não dispara !... Eu já vos mostro!..... e num repente voltou a repetir a operação e o estrondo arrasou-nos e convenceu-nos de tal maneira que nem um pio se ouviu das nossas bocas.Foi o culminar da sua vitória sobre os boatos da sua estimada arma. Dois grandes buracões confirmavam nas tábuas da arca de centeio que o rombo era mesmo a sério. Por eles esgueiravam-se rapidamente os grãos de cereal que tanto custaram a entrar na arca. Após saborear aqueles momentos de glória acordou o Bonifácio para a dura realidade e exclamou :-Eh cabrões do diabo!.... Além de me obrigarem a gastar o meu arsenal ainda me lixais o pão!.... Escondido o fumegante e quente pistolão lá foi tapar os dois buracos com uns farrapos que estavam ali à mão de semear. Ainda hoje perante um qualquer aperto se recorda : - Ai quem me dera ter à mão o pistolão do Bonifácio.!.....A propósito por onde andará tamanha maravilha?...




Autor: Joaquim Amaral

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Zeca Diabo

Lembram-se concerteza de um famoso protagonista de uma das telenovelas brasileiras mais badaladas da nossa praça, encarnada pelo actor Lima Duarte e que ficou conhecido por Zeca Diabo?... Pois é, na nossa aldeia também tínhamos um Sinhozinho Malta (estou certo ou estou errado?). Era nem mais nem menos que o António Bonifácio. Ora este nosso amigo, em tempos que já lá vão, tentou a sua sorte nas longínquas terras de Vera Cruz, seguindo uma tendência migratória daquela época, que se direccionava quase na sua totalidade para as pampas sul americanas (Venezuela, Argentina e Brasil). Como quase todos os nossos conterrâneos emigrados para essas paragens, não foram bafejados pela árvore das patacas e depois de alguns anos na diáspora, regressaram desiludidos ao lar que os viu nascer.
Lembro-me da sua chegada à aldeia, todo enfatuado de preto, camisa branca e a grossa corrente do relógio de bolso a baloiçar no colete bem apertado. O falar abrasileirado causava-nos admiração e até pegou a moda na aldeia de usar alguns termos que eram corriqueiros no parlapiê do “cara” António Bonifácio.
Sempre fanfarrão e repleto de histórias surpreendentes , a pouco e pouco se foi revelando que o homem além das magistrais vivências humanas e das pitorescas aventuras que nos deliciavam e nos deixavam de boca à banda, nada mais trazia que a vontade de viver pacatamente e aplicar as parcas economias amealhadas, na cultura de sobrevivência aproveitando e tentando melhorar os pouco haveres deixados na sua terra. Ora, nas conversas entre amigos, o dito gabava-se que desde latifundiário, domador de feras, hipnotizador de repteis, caçador de todo o tipo de animais selvagens, possuidor de poderes especiais que lhe tinham sido passados por um famoso pai de santo lá do Seara, que incluíam conhecimentos de males de coluna, ossos, torcicolos, eu sei lá, uma panóplia de profissões que ninguém lhe passava a perna em termos de sabedoria e conhecimento cientifico. Um espectáculo!...

I- O Endireita

É nesta qualidade de osteopata/endireita que vou assentar esta narrativa simples em bem humorada. Diz o povo e com razão, que nas horas de aflição e desespero nos agarramos a qualquer centelha de esperança, venha ela de onde vier. Foi o que aconteceu com o meu primo Zé Paulo, que embora sabendo da fanfarronice do dito, quando se viu apertado tentou a sua sorte. Quem conhece o Zé Paulo, sabe bem que é um rapaz calmo e ponderado, sempre a peneirar com perfeccionismo tudo o que idealiza e concretiza. Nessa tarde de domingo com a pressa de ir para um qualquer bailarico, foi má conselheira e apertou de mais o acelerador da sua estimada Zundapp. Esta estranhou tal atitude e não foi de modas, e malhou-lhe com o costelado no chão!...
Além de uns arranhões de pouca monta, ficou-lhe um nódulo na cota da mão, que lhe provocava algum incomodo e esteticamente não era nada animador. Depois de muitas pomadas e mesinhas o nódulo resistia e não houve outro remédio senão ir consultar o parecer “sábio” do mestre Bonifácio.
No dia 24 de Dezembro, depois da consoada e após termos aquecido as mãos na fogueira natalícia no adro da igreja, lá vamos nós sorrateiramente até ao largo do Oitão onde ficava a pequena casa do dito. Estava uma noite típica de Natal: um frio de rachar e um escuro cerrado que não se via um palmo à frente do nariz.
- Oh ti António!...
- Entre. Quem é? Respondeu com voz rouca e pigarreada pelo fumo do Kentucky ou mata ratos ou arrebenta barrocos, como esta marca de tabaco era conhecida pelos mais novos. Lá entrámos, meio a medo, e só a luz mortiça da candeia a petróleo, pendurada nas lares nos indicou onde o “mestre” se encontrava.
- Um bom Natal, oh ti António! Dissemos em uníssono.
- Para vós também!... Olha chegai-vos à fogueira, que é para o que está bom!... Com um bom copo e uma cigarrada, não podemos pedir mais!...
Após algumas trivialidades, o Bonifácio disparou:
- Então o que é que vos traz por cá, oh rapazes!...
Timidamente o meu primo lá explicou que tinha caído da mota, que tinha ali um alto na cota da mão, que não havia meio de desaparecer…
- Mostra cá isso, disse ele em tom vigoroso levantando-se do banco. E tu, chega aqui a candeia para eu ver melhor o que se passa.
Dito isto, agarrou bruscamente no pulso do meu primo e pespegou-lhe a palma da mão contra a parede cheia de felugem. O Zé nem ai nem ui!... Eu cheguei a candeia para junto da mão, enquanto o Bonifácio observava, apalpava e repalpava e depois de duas baforadas de fumo que lhe saiam pelo nariz e sem largar a mão do meu primo, atirou célere o veredicto:
- Oh rapaz, eu compor componho-ta, mas primeiro tenho que a partir toda!...
Como se fosse atingido por um raio, a mão do meu primo soltou-se e num repente já estava à porta da rua gritando por mim. Eu meio aturdido pela cena, avancei em passo acelerado com a candeia pela casa abandonando-a em cima da arca do centeio que estava à entrada da porta e pernas para que vos quero!...
Embrenhado no escuro só ouvia os palavrões do Zé Paulo:
- Filho da p…, parte-me a mão mas primeiro parto-lhe eu as trombas!...
De tal maneira o diagnóstico ficou celebre que ainda hoje quando nos queixamos de alguma entorse ou coisa similar, logo vem a sentença: eu compor componho-to, mas primeiro tenho que o partir todo.

Autor: Joaquim Amaral

A vindima


Se há actividade agrícola em que se mantém a tradição de entreajuda entre os habitantes da aldeia, a vindima é um exemplo que ilustra na perfeição essa atitude solidária.
Sem me querer alongar em exaustivas considerações, vêm-me no entanto à memória, que quando éramos garotos, uma vez que o nosso rendimento a vindimar era baixo e corríamos o risco de nos cortarmos, pois a falta de jeito era notória, mandavam-nos para dentro daquelas tinas enormes, que eram transportadas de vinha em vinha, pela valente junta de vacas do proprietário, a pisar os cachos que eram lançados pelos rapazes verguios que os transportavam aos ombros. Quando se aproximavam da tina e sem qualquer aviso para o pequeno pisador, aliviavam bruscamente a carga para cima de nós. Claro está, que estávamos constantemente a levar com as uvas na tola, provocando a nossa ira e a satisfação “maquiavélica “ dos mais velhos.
Hoje é tudo mais mecanizado. Os lagares de varas e de prensa são meras peças de museu. O transporte é rápido e as lagaradas vinícolas são meras recordações. O poder consumista da sociedade obriga a que tudo seja efectuado com tecnologia e rapidez. Não me admira nada que num futuro muito próximo, além do corte automático das uvas, quando se chegar ao final do arrêto, já o vinho esteja fermentado, embalado, devidamente rotulado e pronto a ser consumido.
Por agora, na nossa aldeia, só ainda estamos nos tractores com reboque e caixa, os respectivos latões alugados ao dia pela cooperativa vinícola e o corte, ainda continua a ser manual!...
O dia da vindima continua a ser portanto, o pretexto ideal para se saberem todas as tricas de momento, onde tudo se aceita e os segredos mais intimistas e os boatos mais intrigantes são dados a conhecer, obrigando-nos, muitos deles a exclamações de espanto e surpresa, tal é o tamanho da revelação efectuada. Quando por mero acaso, todo o rancho está mais compenetrado na sua missão de “soltar os presos, “é ver o nosso amigo Zé João, sempre pronto a dar uma palavra de incentivo e na maioria das vezes logo a seguir lá vem uma cantiga brejeira do Quim Barreiros ou de outro artista similar da nossa praça.Com aquela voz linda que possui, ele começa com “eu quero mamar nas tetas da cabritinha,”continua com “mexe- mexe, que eu gosto,” depois segue com “o teu corpo dá-me choque, dá-me choque,” e finaliza com “encosta-te a mim,”do Jorge Palma. É obra ter assim um reportório!.... É o suficiente para o pessoal animar de novo e relembrar aos mais sisudos que o trabalho pode ser feito com alegria.
Relacionado ainda com esta actividade, relembro que na segunda metade da década de setenta, houve um ciclo migratório sazonal para França, que concedeu a oportunidade a alguns elementos desempregados na altura de rumarem até à zona de Chablis para ali executarem a vindima do grande latifundiário Moreau, que possuía enormes vinhedos onde se produz o afamado champagne francês. Por ironia do destino, o agora meu sogro Zé Ferreira, também fazia parte da comitiva e como todos os que lidam com ele sabem que é uma personagem que não tem papas na língua. Homem de chalaça fácil e sempre com resposta pronta, admirava-se das uvas terem os bagos tão pequenos e por isso demorava uma eternidade a encher o balde. Certo dia, em pleno cascoutte (côdea) virou-se para o patrão e disparou no seu melhor “franciu” :
-Eh, Moreau, ici em França as “ raisins” são muito “petites”. Na minha “village”, cinco “raisins”,um “pagné”pleno. Ante o olhar atónito e perplexo do patrão com esta desenvoltura linguística do “ami”José, este fez sinal com o polegar direito que, sim senhor, tinha compreendido a mensagem.
Ainda hoje, quando o ritmo aperta, se está sempre a lembrar aos homens dos cestos para serem mais lestos, pois na nossa terra cinco “raisins” é um “pagné” pleno!...


Autor: Joaquim Amaral

terça-feira, 29 de julho de 2008

Notícia extraida do Jornal "A Guarda" de 08/02/2007

Joaquim Ribeiro e Natércia Lourenço

A notícia que aqui se transcreve, embora diga respeito a um evento já passado, faz parte da história do Carvalhal, razão porque me merece que seja mais uma vez aqui realçado o evento, assim como as informações prestadas pelos meus conterrâneos.


Arquivo: Edição de 08-02-2007
SECÇÃO:
Pinhel
Carvalhal de Atalaia, terra de tradições
“Uma aldeia exemplo, no concelho de Pinhel A Câmara Municipal de Pinhel escolheu a localidade de Carvalhal de Atalaia, localidade anexa da freguesia de Atalaia, para palco da apresentação pública do programa da edição da XII Feira das Tradições e Actividades Económicas de Pinhel, a realizar nos dias 16, 17 e 18 de Fevereiro sob a temática “Expressões Artesanais da Vida Rural”.A escolha do local, segundo o presidente da Câmara, António Ruas, ficou a dever-se ao facto de Carvalhal da Atalaia ser “uma das aldeias mais pequenas” do Concelho mas “é uma aldeia exemplo” em matéria de tradições e de recuperação de habitações. De facto, a aldeia que chegou a ter 500 habitantes e tem nesta altura menos de 40, possui uma grande actividade cultural proporcionada pela Associação Desportiva e Cultural “Os Amigos de Carvalhal”, presidida por Vasco Gaspar que criou uma área museológica que merece ser visitada.Na noite da apresentação do certame, o forno comunitário da aldeia voltou a ser aquecido, para satisfação dos presentes. Vasco Gaspar explicou então que o forno, antigamente, era “o clube” da aldeia. “Era o lugar onde se passavam os serões. O forno cozia toda a noite e todo o dia. As mulheres fiavam o linho e os homens faziam as decisões públicas no forno, como compor caminhos e a distribuição da água”.“Era o clube, era o lugar de reuniões e de acolhimento a todos os mendigos que passavam por aqui. Os caldeireiros e os pedreiros também aproveitavam o abrigo e calor do forno, porque a porta estava sempre aberta”, recordou o dirigente.Forno comunitário voltou a cozer pãoNaquela noite, Manuel Albino Pereira, de 70 anos, voltou a “aquecer” o forno onde foi cozido pão tradicional. “Daqueles que aqui estão, fui a pessoa que nasceu mais perto do forno e tenho que guardar a tradição”, atirou, referindo que “há mais de 40 anos que não metia lenha ao forno”.Para este habitante, “a evolução dos padeiros virem pelas portas”, acabou com a tradição “porque isto dá muito trabalho, é preciso ir à lenha e as mulheres têm que estender e amassar o pão e já não há pessoas que estejam em condições para fazer isso”. “Quando era aqui fabricado aquele pão centeio que era produzido nas terras e não levava adubo nem nada, o sabor era outro”, recordou.Já em relação ao seu trabalho, descreveu-o da seguinte forma: “Temos que ir à lenha e duas horas antes de se começar a preparar o pão temos que começar a aquecer o forno. É preciso estar sempre aqui a meter a lenha e com uns paus a arranhá-lo, como nós dizemos, que é para o pão não agarrar e ficar melhor”.Por sua vez, Natércia Lourenço, 77 anos, amassou o pão, coisa que também já não fazia “há 40 anos”, porque emigrou para a França e os habitantes da aldeia deixaram de dar utilidade ao forno. O trabalho da “amassadeira” está agora mais facilitado, pois como refere “agora a farinha já vem peneirada, mas antigamente era preciso peneirá-la”. “Peneirar o pão, depois amassá-lo e depois tendê-lo para o metermos ao forno”, eram as tarefas das mulheres, que, uma hora depois, retiravam o pão já cozido do seu interior.Natércia Lourenço estava muito contente naquela noite, pelo facto da terra ter mais vida do que o habitual. “Temos cá pouca gente, mas hoje temos cá muita”, referiu ao Jornal A Guarda, recordando que os mais novos da terra emigraram, outros foram para Lisboa e para a Guarda e “não querem saber disto”. “Quando nós morrermos, isto acaba tudo”, vaticina a mesma habitante de Carvalhal da Atalaia.

domingo, 27 de julho de 2008

O Forno

Todos os amigos do Carvalhal conhecem o forno comunitário.
Mas o que sabemos da sua construção?
Alguém tem memória do ano em que foi construído?
Quem contribuiu?
Foi feito pelo povo?
Quantos carros de lenha terão sido utilizados para o aquecer pela primeira vez?
As respostas a estas e outras perguntas permitirão conhecer e divulgar a história deste equipamento colectivo.
Escrevam para pontedaspoldras@gmail.com; contem o que sabem e o que ouviram contar e, todos juntos, escreveremos uma página da história do Carvalhal. Todos os contributos sérios serão publicados neste blog.
Aqui fica o desafio.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Uma dádiva da natureza

A imagem que publicamos reproduz a beleza dos campos no Carvalhal, que podem ser apreciados durante o mês de Abril.
Terrenos incultos, sem aproveitamento agrícola mas, nesta época, apresentam um manto de giestas floridas.
Dádiva da mãe natureza totalmente desaproveitada para promoção turística desta região. É assim o Portugal profundo!!.
Mas Abril, não é só o mês em que as “Maias” estão em flor. Comemora-se também o “Vinte e cinco de Abril”. Dia de sonhos e esperanças, cada vez mais esvaziadas. Cantado por
poetas e trovadores, como cantou Ary dos Santos no poema
“As portas que Abril abriu”:
- Contra tudo o que era velho
Levantado como um punho
Em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho -.

Gracinda

Extraido do Notícias do Carvalhal

terça-feira, 22 de julho de 2008

Pró Pereiro, carvalho!!!

Estava um dia de sol.
As mães pastavam serenamente a erva tenra do Lameiro da Ribeira enquanto os filhotes, mais de duas dezenas, enfileiravam-se na parte mais alta do lameiro, prontos para mais uma corrida brincalhona. A partida dava-se a nascente, junto à parede que confinava com o picarrão, desenvolvia-se em frente do portal e acabava, quase sempre, já próximo das quedas de água que transbordavam do caminho, a poente, para dentro do lameiro.
O juvenil pastor aproveitava para gozar o prazer de ver brincar os cordeirinhos e ler um clássico que tinha levantado na biblioteca itinerante da Gulbenkian que uma vez por mês se quedava na aldeia e onde os mais novos corriam ávidos as prateleiras para conseguirem os melhores romances que se liam na época. Lev Tolestoi, Dostoievski, Júlio Verne, Victor Hugo, Aquilino Ribeiro, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e outros.
O tempo passava suavemente.
Meio da manhã, na tapada por cima do caminho, mesmo em frente ao picarrão, e onde ainda se colocou o pendão, o ti Henriques assenta o arado que de seguida amarra ao jugo de uma parelha desequilibrada. De um lado uma vaca pachorrenta, mas firme na força aplicada para fazer deslizar o arado que iria aricar a seara de centeio, do outro, uma burra, que ainda que fosse esforçada, sempre se desequilibraria ante um ímpeto de força imposto pela vaca, sempre que sentia o aguilhão ou a voz estridente do lavrador.
Com o misto de uma parelha e de uma junta, o ti Henriques corria o risco de, em vez de aricar o centeio, arrancá-lo com o arado e por isso trazia sempre consigo a Dulce, sua filha, que à frente dos animais se encarregava de controlar as suas forças e movimentos, procurando levar torna direita.
O Ti Henriques, de rabiça na mão, lá ia dando orientações à Dulce que tudo fazia para as cumprir escrupulosamente, não fosse o pai vociferar umas estridentes carvalhadas que fariam eco nas encostas da Abilheira e se ouviriam por todos os que andassem nas redondezas, desde o Barroco Quebrado até às Lapaceiras.
A Dulce bem se esforçava, mas o ti Henriques tirava o azimute a cada dois segundos. Como a orientação pelos pontos cardeais não fazia parte do vocabulário do lavrador, este, a cada instante, gritava:
- Pró Pereiro, pra Valverde, prá Atalaia... a Dulce, numa fôna andarilheira, procurava mudar de direcção, puxando rédea ou com a vara molestando a vaca no focinho, conforme o pai pretendia um direcionamento mais à esquerda ou mais à direita.
Os regos a aricar não teriam mais de 30 ou 40 metros de cumprimento, mas o ti Henriques, nem por um instante se calava e sempre com a mesma ladainha:
- Pró Pereiro, pró Pereiro... prá Atalaia, carvalho, pra Valverde, prá Atalaia, Pró Azinhal, carvalho.
Era impossível. A Dulce bailava em frente da vaca e da burra, mas o ti Henriques, não satisfeito lá continuava:
Pra Peva, Pró Pereiro, carvalho, prá Atalaia, carvalho; pró Pereiro, pra Valverde, carvalho.
Os carvalhos saiam voláteis da boca do ti Henriques, vibravam nos tímpanos da Dulce e perdiam-se pelo vale da Ribeira das Cabras.
A Dulce ouvia em silêncio, a Dulce sofria, a Dulce aguentava. O pai, sobrevivente da batalha de "La Lys" na Flandres, França, era uma figura muito conhecida pelos seus alhos e bugalhos que espalhava aos quatro ventos.
Naquele dia o pequeno pastor ouviu mais alhos do que bugalhos teria já colhido nas moitas dos carvalhos, nos poucos anos que ainda tinha de vida.
Ficou a memória do dia que as ovelhas pastaram, os borregos brincaram e o ti Henriques semeou todos os alhos que a Dulce preferiu não arrancar...

domingo, 20 de julho de 2008

De Paris ao Carvalhal

Situada no centro da Aldeia.

Onde foi o lagar do ti Manuel Augusto nasceu uma simpática moradia cuja proprietária está radicada há muitos anos em França.
Com estes exemplos e outros que irei aqui divulgando se faz a reconstrução urbana do Carvalhal.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

A capela mortuária

Ela aí está. Nasceu fruto do querer e da generosidade de muitos amigos do Carvalhal. Simples, funcional e bem enquadrada com a sua envolvente, nomeadamente, com a igreja.
Mas para que conste e para que se perceba a generosidade dos amigos do Carvalhal consultei o "Notícias do Carvalhal" e aí encontram-se registados os contributos de pelo menos 77 doadores individuais, um donativo da Comissão de Festas do ano de 1996, no valor de €: 1.500,00 e uma comparticipação da Câmara Municipal de Pinhel no valor de €: 2.000,00.
Os terrenos foram, na quase totalidade, doados pelos seus proprietários, com excepção de uma pequena parcela que foi adquirida por €: 250,00.
Facilmente se percebe que a capela mortuária foi construída com base nos donativos da população ficando desse modo o município com um problema resolvido sem grande esforço financeiro.
Este é mais um dos exemplos da nobreza das gentes do Carvalhal. Pena é que essa nobreza de espírito e de acção se venha mais tarde a reflectir em aproveitamento do erário municipal por outros, que de justiça, deveria ter sido investido no Carvalhal.
Espero que o tempo não me venha dar razão.
Para que conste nos anais da história, a inauguração, nestes casos não desejada, foi feita com o velório do corpo do tio Amadeu Paulo, pessoa que foi muito querida e estimada na aldeia.
Que a tua memória perdure "ad eternum" tio Amadeu.
Senhor Presidente da Junta de Freguesia, agora é preciso concluir os arranjos exteriores. Esperamos que sejam plantadas árvores adaptadas ao local e se faça um pequeno jardim. Se a Junta não tiver dinheiro mova a sua magistrutura de influência junto do município.

domingo, 13 de julho de 2008

Um casamento no Carvalhal

O Chafariz da Lameira a servir de cenário a um casamento nos princípios da década de 70 do século passado.
O casario ao fundo deu lugar a novas habitações graças aos rendimentos provenientes da emigração.

Jardins no Carvalhal



Antigamente os habitantes do povoado mal tinham tempo para a sua faina agrícola. Hoje podemos apreciar estas belas flores num jardim particular do Carvalhal. Parabéns ao bom gosto pelo cultivo de tão belos exemplares.

Aqui fica o desafio aos visitantes para me dizerem em que jardim se encontram estas flores.


sexta-feira, 11 de julho de 2008

Passeio BTT


Aos amantes da modalidade, não faltem dia 10 de Agosto no Carvalhal.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Chafariz

O chafariz da Lameira situado no centro da aldeia.
Lugar onde matávamos a sede. Local de encontro e de confraternização. Local onde muitas raparigas, enquanto enchiam os cântaros ou os regadores de água, ouviam piropos lisongeiros da rapaziada. À sua volta correram centenas de crianças que jogavam às escondidas. Em seu redor colheram-se ensinamentos e receberam-se conselhos dos mais velhos. Enquanto o balde ou regador engolia a água que iria para as modestas cozinhas da aldeia, aproveitavam, as mais velhas, para fazer corte e costura das vizinhas, inventando namoros às moçoilas que muitas vezes, coitadas, ainda nem conheciam as virtudes e sensações de um beijo picante.
Estou certo que não haverá um nascido no Carvalhal que não tenha dentro de si uma bela recordação do chafariz da Lameira...
Chafariz do Cimo do Lugar
Recorte simples, linhas direitas, granito trabalhado; em redor, bancos acolhedores, fazem do chafariz de cimo do povo uma das construções mais bonitas da aldeia.
Quando houver oportunidade divulgarei aqui também a imagem do chafariz do Fundo do Lugar.
O trio de chafarizes que há na aldeia são, no seu conjunto, a memória do tempo em que o povoado não tinha rede de abastecimento de águas às habitações. Os habitantes carregavam as vasilhas e abasteciam-se da água, gratuitamente, que jorrava das torneiras dos chafarizes. Nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado, a aldeia embora povoada por centenas de consumidores não sabia o que era restrição ou falta de água.
Estranhamente, ou talvez não, com a migração veio um período, ainda longo, em que secaram as torneiras dos chafarizes.
Para muitos, a escassez de água foi motivo de distanciamento da sua terra natal, já que no verão, por vezes havia racionamento do precioso líquido, o que causava desconforto, incomodidade e falta de condições mínimas de qualidade de vida.
Há cerca de um ano, finalmente, os carvalhenses foram bafejados com o abastecimento de água potável, sem cortes no abastecimento; o que contribuiu para a melhoria da qualidade de vida e bem estar dos residentes e dos visitantes.
O Carvalhal ficou mais acolhedor e mais rico.
Os chafarizes são a memória de um passado em que se misturou o encanto e a alegria de ver uma aldeia a fervilhar de gente jovem e muita pequenada com a vida difícil do amanho das terras sem rendimento capaz de fixar as gentes ao local.

sábado, 5 de julho de 2008

Os fundadores da Associação "Os Amigos do Carvalhal".

Acabei de receber o nº 9 do Jornal "Notícias do Carvalhal".
Parabéns ao seu responsável editorial pelo excelente trabalho que vem desenvolvendo com a manutenção de um boletim informativo que prima sempre pela melhoria de edição e de conteúdos. Ao Joaquim Ribeiro, filho adoptivo do Carvalhal, os meus sentidos parabéns e reconhecimento pela sua dedicação à causa da nossa terra.
Li com atenção o editorial e merece-me dois pequenos apontamentos:
- A minha homenagem aos fundadores da Associação "Os Amigos do Carvalhal". Aqui reproduzo os seus nomes:
- Joaquim Oliveira Ribeiro, Manuel Albino Pereira, Joaquim Gaspar, António Marques, Américo Marques, Manuel Gil, Francisco Rocha, Eliseu do Amaral; Gracinda Carmo Ferreira Nunes, Maria Lia Gaspar e Horácio Afonso Pereira. Aos que já faleceram uma grata recordação, aos que continuam entre nós, um abraço de profunda amizade.
Apelo a todos os amigos do Carvalhal que respondam positivamente ao alerta que nos deixou o Joaquim Ribeiro - Enviem textos para serem publicados. O jornal deve ser um ponto de encontro entre os associados e os associados podem e devem participar activamente na história da nossa aldeia.
Noutros posts futuros voltarei a pronunciar-me sobre outros conteúdos do jornal, mas lanço já aqui um pedido ao seu editor - Teria muito gosto em divulgar aqui as fotos do "Carvalho Grande" e das "Maias".