domingo, 30 de novembro de 2008

Balada da Neve


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação entra em mim,
fica em mim presa.
Cai neve na Natureza .
E cai no meu coração.

Augusto Gil

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Grandes malhanços


Já andava farto de subir ao primeiro andar dos "verdinhos" que percorriam as artérias da capital. Invejava alguns amigos que se passeavam junto das garotas de mini, mas o salário era curto e absorvido pelos vícios e extravagâncias.
Um dia resolvi que não estava mais para esperar nas paragens dos autocarros e vai daí, resolvi comprar este belo exemplar.
Era bestial!
Com mais uns patacos comprei o capacete, uns óculos e toca de começar a circular por Lisboa.
Não podia ser mais económico; o pedal, como auxiliar do motor, servia também para fazer algum músculo nas pernas.
Nos semáforos ficava sempre na frente. É certo que quando o sinal verde abria, era vê-los arrancar em altas correrias, mas, como tartaruga que não teme lebre, no semáforo seguinte lá estava eu novamente na frente. Pelo menos enquanto estávamos parados nos semáforos tinha a honra de ser o primeiro e, se depois ficava em último, vinha o semáforo seguinte lembrar aos aceleras que a tartaruga não se deixava atrasar.
A máquina era perfeita, mas tinha uma manha terrível; no inverno e com piso escorregadio, a travagem tinha que ser feita sem que houvesse inclinação do corpo, pois se isso não acontecesse era espalhanço pela certa.
Foram muitas as vezes que o cavalo atirou com o cavaleiro ao chão, mas alguns segundos depois, lá continuava a marcha cidade fora, esquecendo a vergonha do olhar de desdém daqueles e daquelas que se sentavam ao volante de umas carripanas mais confortáveis.
Foi na década de 70 e fervilhava a capital nas onde de choque do 25 de Abril de 74. Nessa altura estava já desgostoso com a formação política em que militava, a UDP. Afinal já tinha percebido que muitos dos intelectuais, melhor dizendo, "bem falantes", não se importavam de ser da classe operária, desde que eles fossem os mestres de oficina.
Recordo o Durão Barroso, o Arnaldo de Matos, do MRPP, o Saldanha Sanches ou o actual Ministro António Nunes Correia, da UDP, ou o Mário Lino, actual Ministro das Obras Públicas, grande líder da classe operária do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Quando se criam condições positivas para reaparecerem as Solex e demais familiares, com pistas adequadas à sua circulação?
Seria bom que este tipo de veículo não fosse encarado com estatuto de menoridade, mas sim como um utilitário amigo do ambiente e facilicitador da mobilidade.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Vindimas 2008


Não, não andei lá. Não sou vinhateiro.
Estas fotos foram cedidas por uma leitora do blog que esteve no Carvalhal a fazer as vindimas. Parece que este ano a colheita não foi muito satisfatória, mas presumo que foi um período de confraternização para muitos que marcaram presença.


domingo, 23 de novembro de 2008

Saiba quem vive e vivia no Carvalhal

Para memória futura aqui vos deixo os nomes dos actuais habitantes permanentes do Carvalhal.
Manuel Albino e Lurdes, Joaquim Gaspar e Lia, Palmira, Maria Preciosa, Joaquim Ventura e Maria Delfina, Natércia Paulo, José Luís e Ana Lourenço, (Bruno, André, Mafalda) filhos da Ana e do José Luís, José Marques, Celeste Pereira, António Lourenço, Joaquim Gonçalves e Inês, José Lourenço e Lídia, António do zé Joaquim e Lurdes, Maria Odete, Joaquim Oliveira e Adelina Pereira, Américo Gil, José Gonçalves, Francisco Gil e Carolina Gil, Artur Fraga, Piedade Rocha, Abel Guilhoto e Fátima e Olinda Almeida.
TOTAL - 35 pessoas, das quais 2 jovens e uma criança.
Número de casas habitadas em permanência - 21
Em 1961/62 a escola primária era frequentada por 32 crianças.
Agora, num exercício de memória, vou tentar quantificar o número de habitantes do Carvalhal no início da década de 60.
Alípio Caetano - 4
Joaquim Aurélio - 5
Henriques Aurélio - 3
António Albino - 5
José Amaral - 6
Joaquim Aurélio - 4
José Joaquim -4
Amadeu Paulo - 3
Manuel Lourenço - 4
Joaquim Paulo - 6
Américo Marques - 6
Porfírio - 2
Eliseu Amaral - 6
Balbina - 1
Maria Antónia - 2
Manuel Prazeres - 5
António Jerónimo -2
Ana Águeda -1
Joaquim Gil -4
Joaquim Simões - 6
António Justino - 6
Luís Justino -3
António Samuel - 3
Zefinha - 1
Joaquim Matias -2
Maria da Quinta Nova - 2
Maria Arminda - 2
António Sebastião - 7
Alfeu - 5
Maria Águeda - 3
Sebastião Inocêncio - 5
Joaquim Jerónimo - 7
António César - 7
Joaquim Sebastião - 1
António Neto - 6
Joaquim Justino - 2
Abel Guilhoto -4
Manuel Rebelo - 5
Rita Pereira - 1
António Augusto -6
Piedade Rocha -2
José Samuel -5
José Coelho - 1
José marques -2
José Gonçalves - 3
Ilídio Gonçalves - 1
António Gonçalves - 1
Manuel Augusto - 3
António Pedro - 1
Francisco Domingos - 1
Manuel Amaral - 4
José Jaime - 7
Joaquim Oliveira - 4
Manuel Neto -4
Manuel Justino - 4
Albino Gil - 6
José Jacinto - 5
Manuel Simões - 5
Francisco Aurélio - 5
José Júlio - 1
Manuel Vicente - 2
Carlota Vicente - 2
António João - 7
Joaquim Marques - 3
José Lourenço -3
Manuel Pereira - Quinta da Sarça - 6
César António - Quinta da Sobreira -3
José António - Quinta da Sobreira - 8
Total - 256*
* Este número não é exacto, corresponde a uma aproximação; até porque alguns agregados familiares já nessa altura tinham filhos migrados e não garanto que não haja esquecimentos da minha parte.
O desafio está sempre lançado aos meus amigos para me corrigirem.
Feitas as contas a população actual corresponde 14% da população da década de 60. Em cerca de 50 anos o Carvalhal perdeu cerca de 221 pessoas, cerca de 85% da população.

sábado, 22 de novembro de 2008

A nogueira

Capilares são as tuas raízes
Veias teus ramos
Artérias são os teus galhos
O tronco a tua coluna
As nozes são os teus frutos
As folhas o teu agasalho
A seiva é o teu sangue
O solo o teu coração.




A poda da vinha

Não há sementeiras para fazer. A azeitona ainda não amadureceu. O vinho está na adega. O que se pode fazer no Carvalhal?
Calmamente faz-se a poda.
Antigamente era arte que se fazia alguns meses mais tarde, entre Janeiro e Fevereiro, período mais invernoso e aproveitavam-se os meses de Outubro, Novembro para fazer a sementeira do centeio, antes de começar a chover copiosamente.
O Zé João, com todo o tempo do mundo, vai podando a sua vinha do galego.
Dois dedos de conversa e pouco tempo depois aparece o Gaspar.
-Então já te vieste embora?
Perguntou o zé.
-Está frio, caralhis. Que se lixe a vinha. Ainda temos muito tempo...
Respondeu o Gaspar
-Puta que pariu, mas está mesmo frio.
confirmou o zé.
Vamos mas é para a adega, propôs o Gaspar.
Descemos a estrada em direcção à casa do Ribeiro entrámos na aldeia e quedá-mo-nos na adega do Gaspar.
Afinal, nada como beber uma jeropiga para aquecer...
A poda havia de continuar noutro dia, com calma, sem pressa. Para stress já bastou o tempo em que o malandro do Mantorras pregava coices bem aviados às multidões que se aproximavam...
Agora no Carvalhal, nada de correrias.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

De França até ao Carvalhal

O casal Ventura, depois de muitos anos em França, resolveu regressar às origens. Para isso construiu esta bela casa junto ao Largo da Igreja. Mais um sinal de que o povoado continua a rejuvenescer-se, mais no casario, menos nas pessoas, mas, ainda que o repovoamento se esteja a fazer com jovens reformados, não deixa de ser positivo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Roda



A descoberta da roda por volta do ano 2.000 a.c. é a segunda maior revolução do conhecimento humano logo atrás da descoberta do fogo que ocorreu no período paleolítico - 600.000 a 10.000 a.c..
Depois da descoberta da roda outras revoluções no domínio do conhecimento foram acontecendo ao longo dos séculos criando a estrada da civilização humana. É certo que o conhecimento e apreensão das revoluções do conhecimento não é universal, o que vai gerando níveis de desenvolvimento diferenciados e de patamares nas diversas culturas espalhadas por todo o mundo.
As imagens retiradas do museu do Carvalhal mostram-nos dois tipos de rodas de carros de bois. A chamada roda de raios substituiu a tradicional roda de madeira, com ganhos de qualidade, resistência, durabilidade, leveza, estética, etc.
Ainda está nos meus ouvidos de criança aquela ruideira que ecoava e silvava por montes e vales das dezenas de carros de bois com rodas antigas de madeira que diariamente subiam e desciam na direcção da ribeira, quer o destino fosse as olgas da ribeira de pínzio, do bico, das lapaçeiras, das poldras, do barroco quebrado, do porto, ou do mais distante navalho. Mais tarde os agricultores mais abastados ou mais despertos para a evolução tecnológica começaram a comprar os rodados dos carros com rodas de raios.
Se tiver oportunidade não deixe de visitar o museu do Carvalhal.




segunda-feira, 17 de novembro de 2008

No seminário Pe Dehon, Boavista, Porto

Da esquerda para a direita, Zé Gil (Fonseca), Manuel Silva, Albino Martins e por último, de costas e pouco interessado na foto, o José Guedes.






Como o dinheiro era naquela época um "bem" muito escasso, esta é a única foto dos meus tempos de seminarista, que decorreu entre os anos de 1966 a 1969.


Os meus amigos que estão na foto, o Silva, exímio jogador de futebol, o José Luís, muito dotado para a música, excelente interprete de piano e órgão e o meu grande amigo Guedes com uma voz de excepcional qualidade que deu brilho a uma opereta cómica exibida no seminário e que, na época, foi vista por muito público portuense.


Segundo me recordo a dita opereta cómica era um hino às tropas falangistas na guerra civil de Espanha. Estávamos em pleno período fascista e, como é óbvio, os padres que dirigiam o seminário estavam bem identificados com o dito regime e nós crianças seminaristas éramos utilizados para a defesa dos valores de quem nos dirigia.


O Zé Luís, puto ainda mais franzino do que eu, era pouco dado aos chutos na bola e, como ele preferia estar sentado ao piano, olhando para a pauta musical, fazia-me grandes favores nos períodos em que eu estava escalado para o piano, já que eu preferia ir para o recreio exterior a jogar futebol. Escusado será dizer que eu era uma nulidade a música e ao fim de três anos, pouco mais fiquei a saber do que soletrar o dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.


A estes meus amigos e tantos outros que comigo conviveram durante três anos aqui fica uma palavra de saudade pelas boas recordações que nos ficaram na hora em que partimos, uns voluntariamente, outros, como foi o meu caso, por expulsão, já que perceberam que não tinha vocação para ser Padre. Pudera, no dia que entrei nem sabia rezar o terço...


Nota - Como se pode verificar na legenda da foto, confundi o Zé Luis com o Albino Martins. As falhas de memória têm destas coisas. O importante é que o Albino não deixou passar esta minha falha de memória espero um dia dar-lhe um abraço e pedir desculpa pelo lapso.

domingo, 16 de novembro de 2008

De onde saltou a vareta?


Era domingo. Corria o ano de 1978.
Depois de uma visita ao Rogério na Parede, deslizava o Fiat 850 calmamente na estrada, quando na curva que antecede a chegada ao Aqueduto das Águas Livres, resolve ficar descontrolado e zigezague para aqui, mais ziguezague para ali, com outros carros a contornarem o animal descontrolado, decide quietar-se entre a faixa de rodagem que sobe em direcção à Praça de Espanha e a que desce, mesmo junto ao pilar do Aqueduto com uma das rodas traseiras encaixada, milagrosamente, num pneu ali abandonado, o que obrigou o burro a parar virado com o traseiro aos carros que desciam em direcção a Monsanto e a frente com vista panorâmica para a via que subia rumo à Praça de Espanha.
Os ocupantes, sem as cuecas sujas, mas a tremer como varas verdes, olhavam atónitos um para o outro e ainda não tinham compreendido o que tinha acontecido.
O condutor só tinha uma explicação, obra do diabo; a seu lado, o amigo Carlitos olha espantado para o seu colo onde repousa uma vareta de óleo.
Pega na vareta, ainda amarelo e pergunta:
- É pá, mas como é que a vareta do óleo do motor veio parar aqui?
O condutor, preso de raciocínio, ainda com o coração a palpitar e a imaginar-se debaixo de um autocarro que passava acelerado, diz:
- Sei lá, deve ter vindo do motor.
Mas, como aconteceu isso, pá?
Ripostava o Carlitos, já mais aliviado de tensão e de pensamento mais lúcido.
O condutor com alguns suores frios que lhe percorriam o corpo e meditando nas razões do despiste, continuava:
- Saltou do motor, pá.
- Porra, mas como é que saltou do motor se o motor está lá atrás , o carro não está nada partido, não bateu em lado nenhum e até está a trabalhar?
E assim continuaram sem perceber a razão mágica da vareta ter vindo ali parar.
Ao fim de uns bons minutos de cogitação sobre fenómeno tão estranho, o condutou, berrou:
-Porra, que grande estúpido, essa merda é uma vareta velha que eu trazia aí no porta luvas.
Riram do despiste, riram do caricato da vareta e, mais calmos lá saíram do bólide.
Tudo bem, nada partido, o susto tinha passado.
Depois de duas aceleradelas, aí vão eles em direcção à Praça de Espanha...

sábado, 15 de novembro de 2008

De Gaia até ao Carvalhal

A restauração e rejuvenecimento no Carvalhal continua. Devagarinho, é certo, mas continua. Aos proprietários votos de muitos e bons anos de fruição.

De quem é o barroco?

O majestoso afloramento granítico foi aproveitado para servir de parede à casa que se vê na foto. Por sua vez, o dito, parece assentar no quintal, mais conhecido por chão do barroco.
O chão do barroco e a casa que encosta ao barroco não são do mesmo proprietário.
Pergunto:
- o barroco é parte integrante da casa ou está integrado no chão do barroco?
Imagine que o rochedo é de boa qualidade para efeitos de construção e alguém o queira comprar para daí tirar aproveitamento económico. Quem o poderia vender?
Aceitam-se opiniões.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A casa do Barroco

Esta casa está totalmente construída em cima de uma laje. Não sendo caso único no Carvalhal é, sem dúvida, a mais representativa da construção que assenta em laje granítica; talvez por isso uma das suas proprietárias e minha ilustre colega tenha entendido que o afloramento granítico que existia na rua a nascente da casa não deveria ter sido destruído.
Não partilho da mesma opinião. Considero até que a Câmara Municipal deveria desfazer o resto da laje e nivelar o arruamento de modo a permitir no local uma melhor movimentação de pessoas e viaturas.
O princípio da preservação da natureza não se confunde com a manutenção de obstáculos à melhoria das condições de vida das populações, quando estejam em causa situações de insignificante, ou mesmo nulo, valor do ponto de vista paisagístico e patrimonial.
Diria que barrocos há muitos...mas com valor fora de contexto de pedreira serão muito poucos.
Vamos lá... o local está muito degradado e nesta altura seria optimo que o trabalho fosse feito

sábado, 8 de novembro de 2008

Aqui também é Carvalhal

A foto foi tirada algures nas cercanias do Carvalhal.
Deixo aqui o desafio de me dizerem onde foi tirada a foto e que paisagem aí está reproduzida.
Participe. Quero saber se você conhece as paisagens do Carvalhal.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O Chafariz do Fundo do Lugar

Em anterior post tive oportunidade de divulgar as imagens dos chafarizes do cimo do povo e da lameira. Conjuntamente com o chafariz do fundo do lugar, fica divulgado o trio de chafarizes existentes neste belo povoado.
Em tempos não muito distantes não havia água canalizada nas habitações do Carvalhal, fazendo-se o abastecimento das famílias, de tão precioso líquido, por recurso à torneira do chafariz mais próximo. Um chafariz no cimo do povo, outro no meio da aldeia e este mais abaixo, constituíram um equipamento colectivo que durante muitos anos foi o orgulho da aldeia, já que era das povoações do concelho de Pinhel melhor servida em abastecimento de água e proveniente da captação do cavaleiro.
Era junto aos chafarizes que as crianças da aldeia se juntavam e onde nasciam as mais diversas iniciativas de brincadeiras, até porque, fundamentalmente no Verão, depois de correrias loucas uns atrás dos outros, jogando à bola, jogando às escondidas, jogando à tinta, correr com o arco, etc. o suor era intenso e nada como carregar na torneira e beber sofregamente a abundante água que dela jorrava.
Sendo estes três chafarizes uma referência da aldeia esperamos que o tempo os perpetue para a eternidade e se mantenham com a melhor conservação.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Deita-lhe o fogo...

A luz ténue da candeia caminhava a passos largos para o perecimento.
A ponta da torcida que se erguia para o exterior do bico da candeia sustentou a última chama que rapidamente se transformou num tição escuro, ficando a restar a luminosidade intermitente das chamas da lareira para dar à cozinha uma tonalidade sombreada reflectida na face pálida dos seus ocupantes.
Ela apagou a candeia e, agilmente, procurou recargá-la com petróleo, antes que as chamas da lareira desaparecessem e a cozinha se viesse a transformar numa câmara de revelação.
Saiu disparado o petróleo pelo largo gargalo do garrafão e depressa a candeia transbordou, alojando-se uma boa parte do cheiroso líquido no seu avental.
- Oh meu Deus!!!!
- E agora como tiro este cheiro do avental?
Perguntou ela, muito atrapalhada, aos presentes; esperando que algum deles lhe desse a solução milagrosa de se ver livre daquele cheiro intenso que lhe subia às narinas, vindo do avental que continuava amarrado à cintura.
- Olha!!!.
- Deita-lhe o fogo, que isso desaparece tudo.
Foram, em murmurio, as palavras pausadas, serenas e convincentes, proferidas pelo sensato marido, que sendo homem de poucas falas, mas de pensamento rectilíneo, não podia estar a gozar com a situação embaraçosa em que se encontrava ela e, vai daí, num ápice, a Efigénia pega num fosforo aceso e aproxima-o do avental, dando resposta ao sábio conselho do marido que era pessoa de não dizer disparate nem dar um mau conselho.
Rapidamente as chamas se encarregaram de fazer desaparecer o petróleo que se tinha entranhado no avental e, como não era altura de fazer selecção, com o petróleo a ser dizimado, era devorado, também, o avental.
Ela aflita gritou por ajuda, mas os espectadores, que tinham pago o seu bilhete, mantiveram-se distantes, batendo na barriga e contorcendo-se com um riso desbravado que lhes inundava o semblante.
- Acudam-me, socorro...
Gritou desesperada a Efigénia.
Os filhos e o marido continuavam a rir às gargalhadas, até que ela, num gesto desesperado de raiva e aflição, lá teve a brilhante ideia de soltar o avental da cintura e de o arremessar para a fogueira da lareira, quando uma boa parte da preciosa peça de vestuário já se encontrava consumida .
Aqui fica o meu respeito e admiração por conselho tão brilhante, que o bom do António João deu à sua estimada esposa.
De uma penada, ela matou dois coelhos.
Livrou-se do cheiro estonteante do petróleo e de um avental já fora de moda.
Mas o que a Efigénia aprendeu naquela noite é que nem sempre o seu maridinho lhe dava bons e proveitosos ensinamentos; por sua vez, o António João terá pensado:
- Tenho uma mulher que vale ouro, faz tudo o que eu lhe mando...

De pé...


A chuva regou
O vento abanou
O calor abrasou
Até que um dia
Cansado de tanto suportar
Secou
As folhas voaram pelo horizonte
Douraram o chão que abraçaram.
A morte espera
Mas também desespera
O "velho" sobreiro
teima em manter-se firme.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Momentos de recolhimento.




Foram cerca de 8 dezenas de naturais, familiares e amigos, que no dia 1 se recolheram ao silêncio e recordaram os seus ente queridos já falecidos.
Não importa que fé professamos, o que importa é o momento interior de ligação a quem nos deixou e que muito consideramos, estimamos e continuamos a amar.

domingo, 2 de novembro de 2008

A calçada...


Finalmente!!!.
A obra de calcetamento das ruas do Carvalhal iniciou-se há 8 dias.
Prevê-se que dentro de 3 meses a aldeia tenha novo brilho e de uma vez por todas se acabem com as lamas e lameiros de Inverno e com as poeiras de Verão.
Há no entanto alguns reparos a fazer:
- As ligações da rede de saneamento às habitações não estão feitas. Quando se acabar a obra de calcetamento volta-se a arrancar a calçada para proceder às ligações.... Não acham que além de ser um desperdício temporal, é também um grave erro de planeamento?
- É notório que a calçada está a ser assente com fuga à colocação de areia, com consequências nefastas para a conservação futura da calçada livre de ervas daninhas. A fiscalização municipal já esteve no local, mas segundo pude observar, com fracos resultados em termos de melhoria significativa na qualidade do serviço prestado. Dizem por aí que no poupar é que está o ganho... mas, o ganho de quem?
Senhor Presidente da Câmara, não permita que alguém poupe agora e tenham que ser os cofres do município a ter que suportar encargos futuros por trabalhos mal realizados hoje.
A população não é especialista em calcetamento de ruas mas entende que alguém pode sair beneficiado com a falta de colocação de umas toneladas de areia nos arruamentos da aldeia.