domingo, 31 de maio de 2009

Não confiem nos cofres dos lares.

Dá-nos notícia o Jornal Pinhel Falcão que há dias os amigos do alheio passearam-se pelo Lar de Santo António, em Pinhel, pertencente à Santa Casa de Misericórdia e resolveram, com toda a lisura e delicadeza, levar o cofre da Instituição, que veio logo a ser encontrado próximo do Manigoto.
Esclareceu o Provedor da Santa Casa que havia cerca de 10.000.00 euros no referido cofre pertencentes aos utentes da instituição que, em resultado da operação, viram o seu dinheirinho voar. Pensavam os velhinhos que o seu dinheirinho estava seguro e junto deles e afinal evaporou-se. Alguns já estarão bem arrependidos de o terem tirado debaixo do colchão.
Diz ainda a notícia que no andar superior havia duas funcionárias de serviço que não deram por nada.
Em geito de má língua é caso para perguntar:
Estavam de serviço ou foram aí pernoitar?

sábado, 23 de maio de 2009

Quem tem fotos antigas?


Se os meus amigos e amigas tiverem fotos do Carvalhal e as quiserem divulgar podem enviá-las para pontedaspoldras@gmail.com .
Mais um desafio:
- Que casas estão atrás da "carripana" do Armando Susana de Pinhel?

domingo, 17 de maio de 2009

Assembleia Municipal de Pinhel

Sob o título acima referenciado escreveu no dia 7 de Maio de 2009 o jornal "Pinhel Falcão" - "No dia 30 de Abril realizou-se no Centro de Congressos Desportivos e Exposições de Pinhel, uma sessão ordinária da Assembleia Municipal de Pinhel"
Convenhamos, senhor Director, que esta informação raia o limiar da pobreza informativa já que nem uma linha sobre a ordem de trabalhos da respectiva assembleia e muito menos das intervenções dos eleitos locais.
Não havia mesmo nada para dizer ou informar?
Já agora aproveito para perguntar para que serviu a reestruturação do site da Câmara Municipal já que o seu conteúdo continua muito pobre.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A feira de Maio


O Delfim foi à feira de ano de Pinhel. Era no 1.º de Maio. Vinha do Carvalhal e nunca tinha visto tanta gente junta, nem nunca tinha apanhado tantos encontrões! Começava a andar já aflito no meio da multidão, ele que era ainda pequeno e aquela “gentiaga” tão forte e tão alta! Apertava bem a mão da mãe não fosse perder-se no meio de tanta gente. Aos poucos deu-lhe para perder o medo porque começava a observar coisas que nunca tinha visto: tendas e mais tendas com bancas cheias de coisas bonitas e casas e árvores a dar sombra a toda a volta.
Na feira tudo estava espalhado: nas bancas dos feirantes, no chão em cima de toldos e de panos, cobertores e mantas de várias cores. Aqui viam-se vendedores de roupa, que vendiam samarras, peliças e fatos de homem; acolá era a mulher das louças, a vender pratos, copos e jarras de vidro; mais adiante eram sapateiros que vendiam tamancos, sapatos, botins e botas. E as pessoas pegavam em tudo, perguntavam o preço, experimentavam para ver se lhes ficavam à medida, e depois ou mercavam ou voltavam a pôr tudo no seu lugar, dizendo apenas “não me serve” ou “é caro para a minha carteira!”.
- Anda Delfim, caminha, não fiques aí pasmado, dizia-lhe a mãe.
Um homem, em frente à loja do Zé do Cantinho, vendia realejos, cornetas, canivetes e pentes. Aí parou o Delfim, embevecido a olhar para aqueles objectos… Ó mãe compra-me uma navalha?
– P’ra que queres tu a navalha? Não, compro-te outra coisa.
– Um realejo? Suspirou o Delfim, que queria o canivete para fazer bonecos e arados dos paus de faia, e o realejo para tocar ao desafio com os melros e os rouxinóis lá no Vale do Pombo ou na Olga do Navalho. Mas a mãe não lhe comprou aquilo. Só parou na tenda dos sapateiros, e aí sim, a mãe decidiu comprar-lhe uma botas com rasto de pneu dos automóveis, que estrearia no dia em que voltasse a Pinhel, trazido pela professora, Dona Aurora, para fazer o exame da quarta classe. O Delfim experimentou-as, a mãe apertou-lhe os atacadores meio ensebados e a feirante perguntou:
- O menino dê um ou dois passos e veja se lhe doem! Só com medo que a mãe lhas não comprasse o Delfim disse que estavam boas. E a mãe comprou-lhe aquele par de botas.
Depois, quando já no largo da cadeia, viu a tenda dos brinquedos ao longe, só teve um desejo: de ir lá ver aqueles brinquedos todos. Mas teve sorte. A madrinha, que vinha lá dos lados do Marco, ao avistá-los dirigiu-se-lhes para os cumprimentar, à mãe e ao filho, e disse a este:
- Afilhado, vamos ali à atenda para escolheres um brinquedo, pois na Páscoa não te pude dar a prenda e hoje quero dar-te as maias.
Pronto! O Delfim olhou para aqueles brinquedos, uns feitos de madeira, como os pássaros graúdos, assentes numa roda que, quando em movimento, os fazia abrir e fechar as asas, outros em plástico e outros em lata pintada como os carros e as camionetas. Aí decidiu-se por uma camioneta azul e amarela reluzente, com portas de abrir e fechar, e de caixa aberta. A madrinha perguntou o preço à tendeira. Esta disse que custava sete e quinhentos.
– Isso é caro demais, retorquiu aquela.
Só lhe dou cinco escudos por ela.
E uma porque queria sete e quinhentos e outra porque só dava cinco escudos, a decisão arrasta-va-se aos olhos do Delfim que o mais depressa possível queria ter a camioneta nas mãos. Por fim, a vendedora rachou o preço e disse: - Não paga sete e quinhentos, nem sete, vai pagar seis e quinhentos. E o Delfim só acreditou que a camioneta era dele quando viu tirar do peito da madrinha a bolsita onde ela trazia o dinheiro.
Pronto! A camioneta estava por fim nas suas mãos, era dele. Já só queria sair daquela barafunda da feira de ano e voltar a casa, voltar ao largo do forno, à escola da Dona Aurora, para que todos lhe vissem a camioneta azul e amarela. Mas a mãe continuava pela feira abaixo, parando aqui e acolá, passando pelo Marco, pelo Largo dos Combatentes, pelas Encruzilhadas até chegar à feira do gado. E ali o Delfim começou a esquecer a camioneta para admirar coisas de que tanto gostava: as ovelhas enfeitadas e pintadas com cores, parecia que iam numa procissão para agradarem aos novos donos; e as vacas e os bezerros deitados à sombra pareciam nos seus olhos aguardarem que os donos fizessem a sua transacção. Eis senão quando vê ali perto algo que nunca lhe passou pela cabeça: um homem que deitava lume pela boca, e que quando parava de deitar lume, colocava uma cobra sobre os ombros e gritava de forma a ser ouvido no meio daquela barulheira:
- São só duas caixinhas por três escudos! Vendia uma pomada de banha de cobra, dito produto natural que curava tudo: dores de cabeça, de dentes, das costas, reumáticas, artrites, artroses, espondiloses, micoses e mais doenças, mesmo sem serem terminadas em oses, como eczemas e picadas de bichos. E aos passantes que não acreditavam por aí além nas virtudes da banha da cobra e não lhe compravam a pomada, o vendedor repetia uma frase lapidar:
- Pode não fazer bem! Mas mal não faz de certeza; foi o que valeu às pessoas no tempo da peste, arengava ele com voz forte. Mas o Delfim não tirava os olhos da cobra. Parecia-lhe tão amiga do dono, parecia enrolar-se-lhe nos braços e no pescoço, parecia-lhe que ela estava até com medo dos outros humanos que faziam uma roda para a verem e alguns comprarem a miraculosa pomada…
Dali ainda foram até ao fundo da feira de ano.
Na caixa de uma camioneta cheia de cobertores e toalhas, uma mulher, com um microfone enrolado ao pescoço e embrulhado num lenço de assoar, gritava para a multidão:
- Venham fregueses, olhem para este cobertor, cinquenta escudos! Mas com este cobertor vai uma carrada: mais este, mais este, mais esta… E com os mesmos cinquenta escudos eu ainda ofereço um canivete e um realejo!
- Mãe compra a carrada porque assim ficamos com mais cobertores para o Inverno e toalhas para o Verão. Compra mãe.
Pronto. A mãe decidiu-se comprar uma daquelas carradas. E lá vinham o canivete e o realejo!
- Mãe já me doem as pernas. Vamos para casa …vamos.
A mãe acedeu e lá foram, cidade acima, até ao cabanal do Ti Messias buscar a burra. Ali a mãe meteu nos alforges a roupa, a camioneta, o realejo e o canivete. As botas, essas, uma presa à outra pelos atacadores, escarrancharam-nas na albarda da burra, cada uma para seu lado, esperando estreá-las no dia do exame. Mas para isso era preciso que a Dona Aurora lhe dissesse daí a um mês se ia ou não a Pinhel fazer exame da 4.ª classe!


Autora: Eneida Beirão
publicado no Jornal Pinhel Falcão

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Não estamos sós




Flores do carvalhal







Sou leitor, nem sempre muito assíduo, do Pinhel Falcão, jornal quinzenal que se publica em Pinhel. Não se deve a falta de assiduidade de leitura a outra causa que não a escassês de tempo; as solicitações de natureza familiar, profissional e de intervenção cívico politica, às vezes absorvem-nos o suficiente para dizermos que o dia tem poucas horas.
Vem isto a propósito de, pese embora, já outras leituras de anteriores crónicas antes publicadas nesse jornal me terem suscitado sinais de que a autora teria bastante afinidade com o Carvalhal, quando li a última publicada e tendo esta feito referência a dois lugares da "folha" pertença da nossa aldeia, pensei com os meus botões de que quem descreve, como descreve, só pode, no mínimo conhecer, para não dizer que se trataria de uma natural.
Ousei contactar por escrito a cronista de que falo, Eneida Beirão que, sob o título de "A feira de Maio" nos recorda alguém, uma criança nascida no Carvalhal que pela primeira vez foi à feira do 1º de Maio em Pinhel com a sua mãe.
Simplesmente bonito, simplesmente um texto que no final da sua leitura pensamos, o Delfim sou eu, tais são as parecenças da personagem com as reacções que também nós tivemos há muitos anos, quando, pela primeira vez saímos do nosso lugarejo e fomos à cidade na companhia dos nossos familiares.
Como disse, contactei a Eneida Beirão que muito amavelmente me autorizou a publicar o seu texto aqui neste blog e, estou certo, irá ser muito apreciado por aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de o ler directamente no jornal. Muito obrigado Eneida Beirão.
Poderei referir, julgo sem cometer nenhuma inconfidência censurável, que a Eneida Beirão traduz um pseudónimo de alguém que me confessou no cemitério do Carvalhal estarem sepultados os seus antepassados.
Ela faz-nos sentir que não estamos sós no desejo da perpetuação das vivências ocorridas nesse pequeno nada do planeta, a que deram o nome de Carvalhal, na muito longínqua e muito próxima região beirã de granito agreste.
Logo que possível aqui publicarei a crónica do Delfim que "terá" sido aluno da Dª Aurora, antiga professora que há muitos anos leccionou no Carvalhal e também já aqui referida

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Plano de pormenor precisa-se.

A foto mostra uma área degradada da aldeia onde as ruínas são visíveis e onde a "reconversão urbanistica" tem dado azo a alguns diferendos entre vizinhos, com recurso à via judicial.
Olhem para a imensidão do horizonte e pensem que a sã convivência vale muito mais do que alguns míseros palmos de terra...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Barrigada de fome.

1º de Maio anos mais tarde
Dia 29 de Abril de 74 tinha entrado ao serviço do Laboratório Nacional de Engenharia. Ainda mal sabia como se viajava de Campo de Ourique para a Av. do Brasil e já podia festejar o primeiro feriado, o 1º de Maio.
O sol erguia-se bem alto quando resolveu sair de casa à procura de uma tasquinha para matar o bicho; comer uma sandes e beber talvez um sumo ou um galão.
Transpôs a porta do prédio e dirigiu-se na direcção do jardim de Campo de Ourique; não conhecia o bairro mas a sua intuição dizia-lhe que seria naquela direcção que iria encontrar um estabelecimento de comes e bebes aberto.
Depois de ter feito a aproximação a dois ou três que se mostravam fechados começou a sentir os primeiros arrepios e a pensar no que lhe estava a acontecer. Continuou e aproximou-se do Canas, cervejaria e casa de marisco muito famosa na época e, portas trancadas. Deitou contas à vida e pensou:
- Não haverá um único café aberto nesta maldita cidade? Será que vou passar uma barrigada de fome?
Voltas e mais voltas, calcorreando ruas na zona de Campo de Ourique, Estrela, Infante Santo, Pedro Álvares Cabral e, nada.
Bem sabia que a festa do 1º de Maio se desenrolava na Alameda, mas, além de não saber em que zona da cidade ficava essa dita Alameda, também não o motivava ir juntar-se às multidões desconhecidas onde não passaria de uma formiga de todos desconhecida e porventura por muitos pisada. O jovem provinciano, acabadinho de chegar à capital, sentia-se isolado e só, nada à vontade para ir gritar slogans revolucionários.
Em casa da velhinha que lhe tinha arrendado um pequenino quarto sabia que não tinha o direito de pedir nem que fosse pão seco e por isso, depois de já muito extenuado, dirigiu-se ao jardim da estrela ao inicio da tarde e por aí esperou que a noite caísse. Ao escurecer recolheu-se ao quarto e de barriga vazia lá procurou dormitar à espera que novo dia chegasse e assim pudesse matar a fome, que foi negra.
Nos anos seguintes ainda foi uma ou duas vezes para a rua festejar o 1º de Maio no meio da multidão, mas nunca esqueceu o 1º de Maio de de 74 e talvez por isso, ainda que compreenda o grande significado da efeméride, nunca se adaptou ao convívio das multidões que sempre as considerou irracionais e instrumentalizadas. Razão porque:
-Viva o 1º de Maio, mas multidões, não obrigado.