quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A colocação da calçada caminha a bom ritmo.


Segundo a enviada especial de Pontedaspoldras ao Carvalhal na semana passada, a colocação da calçada está a desenvolver-se a bom ritmo.
Ainda segundo a nossa repórter e no seu "especializado entender" parece que os paralelos ficam muito separados uns dos outros. Será que a nossa repórter tem razão no seu reparo?
Aqui fica o alerta para os competentes serviços de fiscalização camarária, que estamos certos, não deixarão que nos "vendam" gato por lebre e por isso vamos todos acreditar "piamente" que a colocação da calçada prima pelas boas regras de arte e o reparo da nossa "maldizente" repórter não tenha qualquer fundamento. O tempo o dirá.
Como se pode ver nas fotos os habitantes "temporários" da R. do Fundo do Lugar já têm, no Verão, mais lugar para estacionamento. A situação que se estava a viver em Agosto "naquele bairro" era já preocupante no que se refere a estacionamento, pensando alguns que a solução teria que passar por colocação de parquímetros. Vemos com agrado que o problema parece agora melhor solucionado e daí convido os meus amigos a estacionarem os vossos carros no mês de Agosto no Carvalhal porque aí sempre ficará mais barato o parqueamento do que junto das praias do Algarve e com menos risco de furtos ou de carjacking.
Aqui fica o convite.
Com novas ruas "abertas ao trânsito", como se pode ver na foto, melhor seria a Câmara Municipal pensar na instalação de sinalética rodoviária adequada no povoado, devendo para o efeito criar uma comissão especial de aconselhamento e acompanhamento que sugiro, deveria ser constituída pelo "Nosso Cabo Gonçalves" a presidir, secretariado pelos vogais "Rei do Gado" e "Ponto de Ordem à Mesa".
Para terminar e, segundo a mesma enviada especial, faltará agora o calcetamento da rua principal entre a casa do Senhor Ribeiro e a casa da ti Natércia, nas Fontainhas, e o arruamento de acesso à escola primária.
Pode ser que depois de calcetada a rua o Senhor Presidente da Câmara já a possa visitar e encontrar uma solução para a restaurar no curto prazo!?
A todos os meus amigos e leitores deste blog quero deixar uma mensagem de esperança para 2009. Votos de BOM ANO

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Fogueira de Natal 2008


Cumpriu-se a tradição. Quem teve a oportunidade de passar o natal no Carvalhal pôde torrar pela frente e congelar por traz nos momentos que passou junto à fogueira.
Racionalmente perguntar-se-á que prazer pode haver naqueles momentos passados junto à fogueira em que as chamas voam alto e as labaredas se aproximam das nossas faces que as protegemos com as mãos e, no mesmo instante as costas sentem o gélido da noite, quando em alternativa se pode estar numa sala climatizada?
O sentido ancestral da fogueira, a tradição, o ponto de encontro de todo um povo que depois de ter consoado em família sente a necessidade de conviver com os restantes habitantes da aldeia; tudo isto e muito mais são ingredientes naturais que levam a manter a tradição da fogueira na noite de consoada e este ano, como se vê nas fotos, a tradição continuou a ser respeitada ainda que os convivas, não tenham sido muitos.
Há no entanto um pormenor que realço, a tradição já não é totalmente o que era, agora, como símbolo da subida ao poder das mulheres, são já elas que andam de pau na mão a controlar a fogueira; impensável à 50 anos.
Por último, relevo a beleza da figura que se pode apreciar no lado direito da primeira foto.
Aos enviados especiais do Pontedaspoldras que recolheram as imagens, os meus agradecimentos pela colaboração prestada.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Simplesmente... Maria.

A notícia voou veloz de porta em porta, de casa em casa e rapidamente todo o povoado se interrogava onde poderia estar.
Lanternas rasgaram a noite e os chamamentos ecoaram em todas as direcções, mas dela, nem um sinal.
Os dias sucediam-se, as noites tornavam-se cada vez mais longas e a esperança ia dando lugar à tristeza e ao desalento colectivo.
No povoado todos tinham opinião, ninguém estava indiferente ao sucedido.
- Isso não se fazia!
Desaparecer sem deixar rasto e sem mensagem de última vontade era um acto de cobardia, diziam alguns.
- Coitada, não lhe restava alternativa, opinavam outros.
Ao fim de alguns dias era já ponto assente que uma tragédia tinha acontecido e apontava-se já o causador de tamanha desgraça.
Só o grasnar dos corvos e o rodopio das águias nos céus iriam indicar onde os lobos se tinham banqueteado.
Era já lusco fusco, o luar ainda adormecido, os rouxinóis já se tinham acoitado, os pardais fechavam as pálpebras nos galhos dos freixos das regadas, a noitibó dava sinais da sua presença nas vinhas do cabeço, quando o Joaquim Jerónimo, depois de um dia de intensa labuta resolve ir prender a burra na regada ali próxima da casa da Zéfinha. Quando se preparava para travar a burra ouve uns murmúrios. A besta apruma as orelhas e dá dois sopros em sinal de alerta.
- Quem está aí?
Gritou o Joaquim Jerónimo, meio confuso com os sinais que lhe chegavam ao ouvido.
- Ti Joaquim, ti Joaquim sou eu, ouviu-se murmurar por detrás da parede da regada de baixo.
Correu o Joaquim Jerónimo ao encontro da infeliz, que desfalecida, lhe suplicou:
- Ti Joaquim, tenho fome, muita fome, preciso de ajuda, mas não diga a ninguém que estou aqui.
- Oh rapariga!
Pegou nela e rapidamente a levou para casa.
Tinham corrido oito dias e ela, coitada, vencida pela fome, teve que voltar, mais tarde, a um berço que não era dourado.
Foi o primeiro ensaio da fuga a uma vida ingrata, pois, decorrido algum tempo, imigrou para terras de sua majestade onde constituiu família e onde as suas lembranças de infância e juventude no Carvalhal não serão as melhores, mas onde o perdão não deixará de fazer parte do seu dicionário.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

As couves de Natal

É Natal.
Para uns um período do ano profundamente religioso.
Para outros o melhor pretexto para deitar o trabalho para trás das costas e aproveitar uns dias de descanso.
Para todos o desejo de comunhão familiar, nem sempre possível.
Para as crianças a alegria de rasgar papeis e descobrir aquela prenda sonhada, causadora das primeiras insónias.
Para muitos aquela ceia especial.

O Natal é neve, é chuva, é frio.
É fogo que rasga o breu da noite com fônas esvoaçantes
O Natal é visita de capelinhas onde se venera Baco.
Com lambra que abrasa a face e frio que congela as costas.

Quando falta algum destes ingredientes
falta a essência do Natal,
razão porque:
- Natal, só no Carvalhal.

O proprietário destas couves diz que não se importa de oferecer algumas a quem lhe oferecer o bacalhau!!!
Se alguém quiser fazer a permuta meta os pés a caminho e vá passar o Natal no Carvalhal.

A todos Boas Festas

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Obrigado "Carlitos"

No recentemente divulgado Jornal Notícias do Carvalhal tomei conhecimento que o nosso amigo e conterrâneo Eng.Carlos Amaral, para os da sua e minha geração, mais conhecido pelo "Carlitos", tinha doado uma propriedade para que seja lá instalada a estação de tratamento dos efluentes.
Mais um exemplo da forma de estar de muitos naturais do Carvalhal. Generosos, dando de si sem pensar em si,pensando no colectivo.
Pena é sentir e ver que com estes gestos e tantos outros que têm acontecido, de natureza semelhante, se libertam meios financeiros municipais que vão ser canalizados para servir outras populações, com prejuízo evidente do Carvalhal dos seus naturais e dos seus residentes que têm sido parentes pobres no Concelho.
Também é verdade que são estes gestos solidários que dão orgulho colectivo a esta simples, modesta, mas orgulhosa aldeia e às suas gentes.
- Para quando a construção do equipamento Senhor Presidente da Câmara?
- Santa Engrácia só há uma, a de Lisboa, e o Carvalhal não quer ter outra...

domingo, 14 de dezembro de 2008

O dia 24

Tal como os dias anteriores, o dia 24 de Dezembro acordou cinzento escuro.
O gelo acumulado de vários dias teimava em quebrar os galhos das árvores e o frio tinha vindo para ficar. O sol tinha-nos deixado há mais de oito dias e o nevoeiro intenso banhava todo o povoado invadido pelo sincêlo que gretava a terra e esbranquiçava a paisagem.
Ainda não eram sete da manhã e já as lareiras, crepitando, teimavam em tornar as casas menos inóspitas porque densamente carregadas de humidade e frio que até os cães e gatos fazia tinir.
O ar nas ruas era asfixiante; o fumo das lareiras não se erguia no céu devido à humidade intensa que pairava no ar .
Como em todos os dias, a caldeira pendurada nas lares era banhada pelas chamas de umas vides que preparavam a morte de uns belos cavacos de carrasco e já se ouvia o grunhir dos marranos um pouco por todo o lado e o mugido das vacas mais despertas. Se a maior parte das matanças já estavam feitas, algumas ainda estavam por fazer.
Panelas grandes ao lume porque o dia ia ser de festa.
Para alguns o dia era reservado aos preparativos da grande ceia natalícia.
Para outros, a rotina não podia ser quebrada. O gado berrava nas cortes chamando o pastor. Este, manta às costas e bornal a tiracolo, na companhia dos fiéis cães de guarda, sabia que ia ser mais um dia calcorreando pastagens mas, face à efeméride, também tinha guardado boas surpresas para o rebanho.
Aquele dia não era só festivo para as pessoas; o gado também tinha o direito de ver as suas refeições substancialmente melhoradas.
Bateu o meio dia e, em loucas correrias pelo adro da igreja, muitos putos dirigiram-se ao sino para não mais o largarem, revezando-se aos badalos, não fossem as mãos congelar.
Alguns, dizia, nem todos, porque outros ouviam os sinos fazendo eco nos cabeços vizinhos dos murtórios, das vinhas do cabeço ou da cotovia e uma dor profunda cortava-lhes o coração. Não podiam participar na festa colectiva do peditório e da acarranja da lenha que a pequenada fazia para, noite dentro, se aquecer o Menino Jesus.
Sim, os que tinham o privilégio dos pais não terem rebanhos, sujos e enlameados carregavam a lenha fazendo montes em diversos locais do povoado para, mais à noite, os rapazes carregarem nos carros de bois, puxados a pulso pelos jovens, em guinadas e ziguezagues, provocados pelas lamas, pedregulhos ou forças mal equilibradas no cambão.
Eles, os que faziam o pastoreio, continuavam no campo olhando o céu, ouvindo o latir dos cães enraivecidos pelo barulho dos sinos. Batiam os pés no chão para não congelarem, atiravam pedradas ou gritavam às ovelhas e cabras que teimava fazer seu o que era alheio. Encharcavam os pés nas regadas onde as águas corriam e se espalhavam provenientes das rigueiras transbordantes.
Naquele dia as horas eram eternas e a ânsia da chegada da noite era arrasadora para os que no campo nunca mais viam os sinais do entardecer.
- Quantos carros de lenha teriam eles já carregado?
- Este ano seria a maior fogueira já mais feita na aldeia?
Perguntas em silêncio que só mais tarde iriam obter resposta...

sábado, 6 de dezembro de 2008

A rega das batatas


Finais de Junho. Quatro da tarde. O sol bem alto, ainda no horizonte, desliza com suavidade em direcção ao zénite. O dia comporta ainda mais cinco horas de sol e este tende agora em diminuir o bafo abrasador que tinha atingido o seu máximo cerca de uma hora antes.
Novos e velhos deixam as sombras da casa da tia Rita e cada um tem um destino traçado. Os batatais que se estendem ao longo da ribeira aguardam angustiados salvação do tórrido calor que os fustigou nas últimas horas.
Albarda em cima e bem arreada, sem esquecer a trunfa e de um pinote monta-se na burra que com um espirro mais profundo procura afugentar as moscas que teimam em se passear nas suas narinas.
Os sachos estão na olga, o motor bem guardado à sombra dos amieiros, aguarda o impulso da manivela.
Depois de uns bons vinte minutos, ele desce da burra, coloca-a à nora, venda-lhe os olhos e os copos, em cadencia, despejam água no tabuleiro, fluindo depois pela canal até ao cimo das leiras.
As mangueiras, quais gibóias que se empertigam, mostram que o motor já chupa abundantemente o precioso liquido que rapidamente se vai juntar ao recolhido pelo passo sincronizado da burra ligada à nora pelo cambão.
Na rigueira, corre agora água com um grande caudal até às leiras mais carentes, onde a rama das batatas já dá sinais de querer murchar.
Numa leira, ela espreita que o rego encha para de seguida desviar a água para o seguinte; na outra, o irmão faz os mesmos gestos e, com o tempo a passar, vão-se contando as leiras já regadas.
Por baixo do caminho, o ti Manuel Vicente e a já muito curvada ti Anunciação desaparecem por entre o feijão de estaca que se ergue em direcção ao céu. Do outro lado da ribeira ouvem-se os berros do ti António Justino que já enervado grita " arre burra, arre burra... maldita burra, vou aí e parto-te os cornos, senão queres andar...", mas esta continua especada e com pouca vontade de circular. Mais acima, ouvem-se os gritos da ti Carlota que há instantes tinha passado por cima da olga montada na burra e com a cabrita sempre no seu encalço. Em frente a tia Arminda conduz a água, leira após leira e a rama das batatas vai mudando para um verde escuro mais intenso em sinal de agradecimento, enquanto que o ti Manuel Amaral vai descarregando algumas máquinas de remédio, na outra olga, porque o maldito do escaravelho se agarra, em cachos, na rama da batata e a devora num ver se te avias.
Eles aí continuaram durante mais umas horas de enche e passa a outro, enche e vira.
A russa nunca se negou e o motor, de quando em vez, lá ia ele alimentá-lo de petróleo para continuar a chupar com sofreguidão a água que se espraiava no leito da ribeira, como de uma albufeira se tratasse.
O sol começava a esconder-se por trás da cozinha do azinhal e, ele diz-lhe:
- Puta que pariu esta merda, por hoje já chega, vamos embora.
Chõ aí! Chô... burra e a russa, já suada, estanca imediatamente; ao motor estrangula-se o ar e ele queda-se.
-Rápido Maria, arranca aí umas terrábias, que eu vou cortar uns molhos de canas, ordenava o António.
Passados mais alguns minutos, já a burra tinha em cima dois molhos de canas encimados por um molho de terrábias.
Corria uma ligeira brisa e a noite aproximava-se, quando já iam junto ao pradinho em direcção a casa e se cruzam com o ti António Samuel que atrás das vacas se dirige em direcção à ribeira.
Ele era assim, os seus tempos de trabalho não se encaixavam no ritual normal dos restantes aldeões. Ele vinha quando os outros iam, ele ia quando os outros vinham; vá-se lá saber porquê.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Barragem da Meimoa



Na qualidade de técnico do Laboratório Nacional de Engenharia acompanhei toda a construção desta obra entre os anos de 1982 a 1984. É com saudade que comparo as duas fotos acima; a primeira corrresponde a uma imagem da actualidade, com a barragem em plena exploração; a segunda, estava a execução da obra em curso e, como é natural na região, fomos brindados com um nevão, o que permitiu alguma acalmia e descanso das máquinas e também a oportunidade de posar em cima do aterro coberto de neve.
Recordo alguns nomes ligados à execução da construção desta obra:
O meu colega António Barros
O ajudante Reinaldo da Meimoa
O motorista Barata que conduzia mais tempo a dormir do que acordado, mas com quem nunca tive nenhum acidente; no último instante e, quando já estava a ver a minha vida a andar para trás, o Barata franzia o sobrolho e com uma guinada milagrosa lá voltava a colocar o cavalo no alcatrão.
Eng. Avilez, dos então, Serviços Hidráulicos.
Engenheiros Goulão e Fernando Oliveira da empresa Moniz da Maia Serra e Fortunato,
Os fiscais dos Serviços Hidráulicos Romão, Fernando Dias, Raposo e Godinho.
Alguns dados sobre o empreendimento:
A Barragem localiza-se na Ribeira da Meimoa, afluente do Rio Zêzere, a cerca 5 km da povoação que lhe dá o nome, no concelho de Penamacor, distrito de Castelo Branco.
Foi a primeira obra construída no Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira.
A barragem, de terra, com 52 m de altura, domina uma bacia de 61 km2. O coroamento é definido à cota (571,5), e tem cerca de 656 m de extensão e 10 m de largura, assegurando uma via de comunicação. A descarga de fundo encontra-se à cota 526 e a tomada de água à cota 540m.
A albufeira criada pela barragem tem a cota de Pleno Armazenamento (NPA) de (568,5), criando uma albufeira de 222 ha de área. O nível mínimo de exploração (Nme) é constituído à cota (547,0); a capacidade total de albufeira é de 40,9 hm3 e a capacidade útil de 28,7 hm3.
Perfil
A barragem tem um perfil tipo zonado, com núcleo constituído por solos argilosos no paramento a montante, separado por um filtro do paramento de jusante que é constituído por materiais resultantes da escavação.
Órgãos hidráulicos
A descarga de fundo e a tomada de água são constituídas por condutas metálicas instaladas no interior da galeria de derivação.
Descarregador de superfície
O descarregador de cheias, com um desenvolvimento total de cerca de 700 m, localiza-se na margem direita foi dimensionado para o caudal de cheia de 124 m3 s-1.
Principais Características da Obra
Hidrologia
Área da bacia hidrográfica
61,0 km2
Albufeira
Nível de pleno armazenamento
568,5 m
Nível de máxima cheia
568,99 m
Volume de armazenamento
40,9 hm3
Superfície inundada
222 ha
Descarregador de Superfície
Tipo
No coroamento
Caudal máximo
124,0 m3s-1
Barragem
Desenvolvimento
656,0 m
Altura máxima
56,0 m
Largura do coroamento
10,0 m
Cota do coroamento
571,5 m

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Que estará a pensar?

Um homem com dois marmelos na mão o que poderá estar a pensar?
- Oh tempo volta pra trás...?
- Mais vale dois na mão que quatro em pensamento?
Nada disso ...
Simplesmente a reflectir no modo como pode melhorar a produção do marmelo e para isso analisa, cuidadosa e demoradamente, cada espécime que vai colhendo.
Com essa lentidão, amigo, os restantes que ainda se encontram na árvore, de tanto amadurecerem, ainda se vão "espaparrar" na tua cabeça.
No Carvalhal tudo é calmo, até na colheita do marmelo.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Pinhel e a revolução de 1640

Ribeiro (João Pinto).
n. ca. 1590. f. 11 de Agosto de 1649.

Um dos gloriosos conspiradores de 1640.
N. em Lisboa, segundo afirmam os seus panegiristas, no começo da última década do século XVI, fal. em Lisboa a 11 de Agosto de 1649. Era filho de Manuel Pinto Ribeiro e de Helena Gomes da Silva.
Matriculou-se na Universidade de Coimbra, onde estudou desde 1607 até 1612, tendo suprimido o último apelido, de que mais tarde fez uso, assim como também o último apelido de seu pai, pelo modo seguinte João Pinto, natural de Lisboa, filho de Manuel Pinto. Tomou o grau de bacharel em Direito Canónico, em 1615, conservando a mesma supressão de apelidos. Frequentou o sobredito curso de 1616 e 1617, não contando nos registros competentes daquela universidade, que ao primeiro grau de bacharel conseguisse juntar outro; apenas se encontra, nos assentos desses últimos períodos, o aumento do apelido que deu a seu pai, dizendo-se ali: João Pinto, filho de Manuel Pinto Ribeiro, natural de Lisboa. Pelo alvará de 12 de Julho de 1621 foi nomeado por Filipe II, juiz de fora da vila de Pinhel, e por carta régia, de Filipe III, passada a 23 de Junho de 1627, teve a nomeação de juiz de fora de Ponte de Lima. Nesta última residência escreveu o Discurso sobre os fidalgos e soldados portugueses não militarem em conquistas alheias, obra que se publicou em 1632, e alcançou grande fama. Em 1639 achava-se à testa da administração e negócios da Casa de Bragança em Lisboa, sob a denominação de agente, e foi nessa qualidade que entrou no noviciado da ordem de Cristo, e foi provido no hábito dela, por dois alvarás, ambos de 16 de Setembro de 1639, passados por Filipe II. Por outro alvará do mesmo soberano, com a data do 17 do referido mês e ano, foi armado cavaleiro, tendo em seguida a comenda de Santa Maria de Gimunde na mesma ordem, mercê que o duque de Bragança, estando em Almada, impetrou do soberano castelhano, numa carta que lhe dirigiu com a data de 8 de Julho, também de 1639, declarando que a dita comenda estava vaga pela morte do seu possuidor Fradique Lopes de Sousa, para que ele o mandasse nela instituir e confirmar. Filipe III atendeu a carta do duque de Bragança, confirmando a mercê da comenda a João Pinto Ribeiro, por carta de 18 de Novembro do mesmo ano.
Quando os fidalgos portugueses começaram a conspirar contra o domínio espanhol em Portugal, que durava havia já 60 anos, foi que o nome de João Pinto Ribeiro se tornou célebre na história, como um auxiliar importantíssimo. Vendo-se os conspiradores lutando com a dificuldade de fazer chegar, com segurança e a celeridade requeridas, a sua correspondência às mãos do duque de Bragança, em Vila Viçosa, lembrou D. Miguel de Almeida, que se convocasse João Pinto Ribeiro, não só por ser homem de grande talento, como por ser agente dos negócios do duque, e muito obrigado a procurar os seus interesses. Foi na reunião dos conjurados, em 12 de Outubro de 1640, a primeira vez que Pinto Ribeiro compareceu, mostrando-se desde logo um activíssimo auxiliar. Parece que até foi ele quem nessa reunião aconselhou, que se prosseguisse na empresa, sem se fazer caso das hesitações do duque de Bragança. Assim se resolveu, e Pedro de Mendonça teve o encargo de ir participar ao duque a resolução que se tomara. D. João acedeu, depois de muitas irresoluções, mas daí a poucos dias, achando-se outra vez hesitante, mandou chamar a Lisboa João Pinto Ribeiro, tomando por pretexto querer saber duma demanda que trazia a Casa de Bragança com os condes de Odemira. Foi João Pinto Ribeiro, e nessa entrevista com o duque, é que prestou verdadeiros serviços à causa nacional, aconselhando-o a que persistisse no seu intento, pintando-lhe todos as dificuldades como aplanadas, e conseguindo enfim trazer para Lisboa plenos poderes para D. Miguel de Almeida e Pedro de Mendonça. Os conjurados activaram as suas reuniões em diferentes pontos da cidade, principalmente depois do regresso de João Pinto Ribeiro de Vila Viçosa. Foi no dia 25 de Novembro que se marcou definitivamente o dia em que devia rebentar a revolução, e foi João Pinto Ribeiro quem o comunicou ao duque de Bragança numa carta enigmática, em que se lhe dizia que no dia 1 de Dezembro é que se devia de resolver o caso dos freires de Sacavém. Na véspera da revolução, isto é, no dia 30 de Novembro, esteve tudo prestes a perder-se. As palavras prudentes, de D. João da Costa, que lhe parecia temerária a tentativa, fizeram hesitar muitos dos conjurados. Nesse momento a reserva prudente era a maior das imprudências. Correram alta noite a casa de João Pinto Ribeiro dois dos conspiradores a avisá-lo do que sucedia; foi necessário expedir correios ao duque de Bragança. No dia seguinte, tudo se harmonizou, e João Pinto Ribeiro foi um aos que menos concorreram, para restabelecer a coragem dos conspiradores. No dia glorioso de 1 de Dezembro, o papel de Pinto Ribeiro foi naturalmente um pouco secundário. Depois das sabidas cenas do Terreiro do Paço, foi ele quem indicou a um irmão da Misericórdia o cadáver de Miguel de Vasconcelos, para que não ficasse completamente desamparado. Depois desaparece um pouco o vulto de João Pinto Ribeiro, que teve carta de conselho em 11 de Janeiro de 1641; carta de contador-mor dos contos do reino, em 14 do dito mês e ano; carta de desembargador supernumerário da Mesa do Desembargo do Paço, enquanto servisse de contador-mor, em 20 do referido mês e ano, e mais tarde carta de guarda-mor da Torre do Tombo, em 2 de Abril de 1644.

Lê-se no Diccionario Popular, vol. X, pág. 283 e 284:
«D. João IV seguiu o sistema de não recompensar pessoa alguma pelos serviços prestados na restauração, escolhendo sempre outros motivos para dar aos seus principais aclamadores as recompensas devidas. Este sistema embaraça um pouco, quando se pretende apreciar o verdadeiro papel representado pelos diferentes conspiradores na obra da Restauração. Acresce que João Pinto Ribeiro logo em 1642 escreveu a Usurpação, retenção e restauração de Portugal, e que, tendo a pena na mão, naturalmente se colocou em primeiro plano. Daqui se originou a tradição que fez de Pinto Ribeiro o centro e a alma da revolução, quando apenas foi o activo intermediário entre os conspiradores e o duque de Bragança, sendo o seu principal serviço o ter mantido o duque na resolução de aceitar a coroa que lhe ofereciam, vencendo as suas hesitações. O facto dele ter aparecido pela primeira vez no dia 12 de Outubro nas reuniões dos conjurados, o seu papel um pouco apagado nos acontecimentos de 1 de Dezembro, tudo concorre para nos mostrar que o papel de João Pinto Ribeiro, embora importante, não é nem por sombras, um primeiro papel.»
Em 1612 também escreveu um Elogio de D. João de Castro e um livro intitulado Injustas successões dos reis de Castella e de Leão e isenção de Portugal, um dos muitos, e um dos melhores que se escreveram para justificar a revolução portuguesa, o qual foi traduzido em italiano, com o título Anatomia delli regni di Spana nella quale si dimostra l'origine del dominio, Ia dilatatio delli Stati, successione delle linee dé suoi Re, con Ia distintione della corona de Portogallo d'aquelle di Leone e di Castiglia. Em 1645 escreveu Desengano ao parecer enganoso, que deu a el rei de Castella Filippe IV certo ministro contra Portugal, e em 1646 um outro folheto em que procurava conseguir que a cúria romana admitisse de novo Portugal no grémio dos filhos da Igreja, o qual tinha o título seguinte: Á santidade do monarcha ecclesiastico Innocencio X, expõe Portugal, as. causas do seu sentimento e das suas esperanças. Pinto Ribeiro não se julgava suficientemente recompensado, e queixava-se como muitos outros, de que se não tivessem em mais conta os serviços prestados na aclamação do rei, do que os que se lhes prestaram depois de estabelecido solidamente o trono. Por isso escreveu em 1644, o folheto: A acção de acclamar el‑rei D. João IV foi mais gloriosa e digna de honra, fama e remuneração que a dos que a seguiram acclamado.
Entendendo também que se estava dando demasiada atenção, aos que defendiam a pátria com a espada, enquanto senão atendiam igualmente aos que a defendiam com a pena perante a opinião pública europeia, escreveu em 1645 o folheto, que tem por título Preferencia das letras ás armas. João Pinto Ribeiro casou com D. Maria da Fonseca. Sobreviveu 9 anos à grandiosa restauração de Portugal, e esse tempo empregou-o activamente com a sua pena muito apreciada, pois João Pinto Ribeiro era tido na conta dum homem de alto engenho, e de escritor vernáculo e correctíssimo. Em 1643 escreveu também: Tres relações de alguns pontos de direito que se lhe ofereceram sendo juiz de fóra de Pinhel; e uma carta ao cronista Frei Francisco Brandão sobre os títulos da nobreza em Portugal e seus privilégios. Deixou manuscritos um Commentario ás rimas de Camões, um Commenta­rio ás ordenações do reino, e um Scutum armorum regio. Os diversos tratados e opúsculos por ele publicados avulsamente, foram muitos anos depois incorporados em colecção, e saíram com o título seguinte: Obras varias sobre varios casos, com três Relações de Direito, e Lustre do desembargo do Paço, ás eleições, perdões e pertenças de sua jurisdicção; compostas pelo doutor João Pinto Ribeiro, accrescentado com os tratados, Sonho Politico, Breve discurso das partes de um juiz perfeito, e Obras metricas pelo doutor Duarte Ribeiro de Macedo, etc., Coimbra, 1729; Obras compostas pelo doutor João Pinto Ribeiro, etc. Parte segunda., Coimbra, 1730.
Fonte: Portugal - Dicionário Histórico