quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A casa do Ti Matias

Em tempos distantes, num daqueles dias de pleno inverno, em que só se estava bem junto à lareira, pois chovia copiosamente, o criado no varandim da casa e olhando para o horizonte da azinheira, lá ia cantando:
- Chova água e venham dias, quem paga é o Matias.
O Ti Matias, que tinha ouvidos de tísico, não gostou do que ouviu e lá de dentro, bem alto, ripostou:
- Chova água, água venha, junge os bois e vai à lenha.
E lá foi o criado à lenha...
Nem sempre o que se pensa se deve dizer...
Hoje a casa do ti Matias é do Carlos da Arminda Josefa; foi totalmente remodelada e ampliada.
A casa do ti Matias é também para mim uma referência de infância. Ali conheci o primeiro rádio a válvulas e que à época, segundo creio, era exemplar único na aldeia.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A bica do largo das Moreirinhas.

Corre suavemente, mas recusa-se a morrer em pleno período estival. Ano após ano, ali vai debitando "fonte de vida" que, como se pode ver na foto, se perde sem glória ali mesmo ao lado no terreno arenoso. O gado é cada vez menos, as lavadeiras sumiram-se e o precioso liquido vai-se escoando para o nada e para parte alguma, sem utilidade visível.
Esperamos que o calcetamento das ruas seja uma realidade a muitíssimo curto prazo. Mas vai ficar tudo em pedra?
Não seria boa altura para se pensar no aproveitamento desta água para alimentar um pequeno sistema de rega, fazendo-se um pequeno jardim em volta do monumento que se colocou a escassos metros no centro do largo?
Bastaria uma torneira e uns reduzidos metros de tubo. A gravidade faria o resto.
Pense nisso senhor Presidente. Nisso, ou numa solução melhor!!!... o importante é não deixar ficar tudo como está, porque o que está, não está bem...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Transferências do Estado para o Município de Pinhel

Uma parte das receitas das Câmaras Municipais corresponde às transferências que são feitas da Administração Central para os municípios ao abrigo da Lei das Finanças Locais.
Para que os pinhelenses possam saber que montantes são transferidos anualmente, deixo-vos aqui os números de 2007 e 2008, bem como o proposto para 2009.
2007 -7 .115 .536,00 euros
2008 - 7.471.313,00 euros
Proposta de orçamento para 2009 -7.844.879,00 euros.

Estes valores correspondem ao somatório de:
a) FEF -Fundo de Equilíbrio Financeiro, cujo valor é igual a 25,3% da média aritmética simples da receita proveniente dos impostos de IRS, IRC e IVA
b) FSM - Fundo Social Municipal, cujo valor corresponde às despesas relativas às atribuições e competências transferidas da administração central para os municípios.
c) Uma participação variável de 5% no IRS, dos sujeitos passivos com domicílio fiscal no concelho.

sábado, 18 de outubro de 2008

Receita das freguesias do Concelho de Pinhel, proveniente do O.E. (FFF), para o ano de 2009

As freguesias têm direito a uma participação nos impostos do Estado equivalente a 2,5% da média aritmética simples da receita do IRS, IRC e do IVA., nos termos da Lei das Finanças Locais - Lei nº 2/2007 de 15 de Janeiro.
Esta não é a única fonte de financiamento das freguesias, mas hoje deixo aqui um quadro das transferências previstas para as Freguesias do Concelho de Pinhel para 2009.

Alverca da Beira 25 384
Atalaia 25 313
Azevo 30 072
Bogalhal 16 937
Bouça Cova 21 495
Cerejo 25 384
Cidadelhe 23 333
Ervas Tenras 17 837
Ervedosa 25 384
Freixedas 44 460
Gouveia 31 742
Lamegal 29 397
Lameiras 27 299
Manigoto 25 384
Pala 27 230
Pereiro 29 953
Pinhel 74 799
Pínzio 34 595
Pomares 21 710
Póvoa d' El-Rei 16 511
Safurdão 16 511
Santa Eufémia 21 710
Sorval 16 511
Souro Pires 28 538
Valbom 25 384
Vale de Madeira 18 635
Vascoveiro 26 032

domingo, 12 de outubro de 2008

O pão (8) Havia muita para contar...

Alguns dos utensílios que eram utilizados no campo
O tabuleiro, a peneira, os alqueires de 11 e 14 litros, medidas de 1 e de 2 litros e o rasoiro

Havia ainda muito trabalho para descrever inerente ao cultivo dos cereais; por exemplo, cortar a lenha e transportá-la para aquecer o forno, cuidar dos animais todos os dias, durante todo o ano, porque eles eram necessários para o cultivo das terras e transporte das culturas.
Acontecia muitas vezes o agricultor trabalhar durante todo o ano e, por grandes secas ou intempéries, ver a sua colheita reduzida a quase nada.
Conto-vos uma história verídica passada com o meu pai. Ele trazia de renda o casal do Sr. Matias a quem tinha de pagar cento e vinte alqueires de grão; houve um ano que a sua colheita foi apenas de cento e trinta alqueires. Conclusão, o meu pai ficou apenas com dez alqueires de grão para transformar em farinha para uma família de sete pessoas. E o que ele teve de fazer? Foi comprar os cem alqueires de grão ao patrão para poder alimentar a família.


A receita do pão
10kg de farinha
6l de água morna
150g de sal
150g de fermento.

CONCLUSÃO
Primeira fase: As sementeiras. São deitadas as sementes à terra, germinam, crescem, e amadurecem.
Segunda fase: As ceifas. Ceifam-se as cearas transporta-se para as eiras e aí faz-se a debulha, onde se separa a palha do grão.
Terceira fase: A moagem. Onde se transforma em farinha e é separada a casca do grão.
Quarta fase: Cozer o pão. Amassar a farinha, deixar fermentar, tender e, finalmente, vai ao forno a cozer.
Espero ter-vos dado a conhecer, todo o processo e transformação, pelo qual um grão de semente tem de passar; assim como o trabalho do agricultor, do moleiro e do padeiro.
E depois de saberem todo o trabalho que houve, compreendem o porquê do ditado: “Não estragues o pão porque é pecado”.
Assim me dizia a minha avó Maria Júlia.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

O pão (7) Cozer


Mais uma vez as pessoas tinham de se organizar para cozer o pão no forno comunitário. Como o forno era muito grande, juntavam-se duas famílias de cada vez e coziam o pão para uma semana. Todas as segundas-feiras havia uma família que tinha de ser a primeira a aquecer o forno, porque ela tinha de gastar duas ou três vezes mais de lenha do que as seguintes. Então essa família só voltava a ser a primeira depois de ter passado por todas as famílias da povoação a obrigação de cozer à segunda feira.
A primeira família a cozer na segunda-feira ia dando a vez à que queria cozer a seguir, a segunda dava à terceira e assim sucessivamente.
Chegada a nossa vez, vamos peneirar, que é separar o farelo da farinha, depois da farinha bem limpa dentro da maceira, junta-se à farinha água morna, fermento, sal e dois braços bem fortes para misturar tudo muito bem, pelo menos durante trinta minutos. Em seguida, tapa-se a massa para manter a temperatura morna e deixa-se fermentar, durante duas horas ou mais. Enquanto a massa fermenta vamos aquecer o forno com muita lenha. Entretanto alguém continua a aquecer o forno, outra vai tender a massa (dar a forma ao pão) e, para isso, tinha de ser alguém que soubesse do ofício, para que a massa não perdesse a sua elasticidade. Depois da massa tendida, punha-se no tabuleiro, onde se deixava a fermentar mais vinte minutos, tapando-se para manter a massa morna. Também se guardava uma tigela de massa para fermento da próxima fornada. Enquanto acabava de fermentar a massa, limpava-se o forno, retirando todas as brasas e cinza até as pedras ficarem bem limpas. Depois do forno estar bem quente e a massa fermentada, com uma pá de cabo bastante comprido, punha-se o pão dentro do forno, fechava-se a porta, dizendo sempre esta frase:
“Cresça o pão no forno e as graças de Deus pelo mundo todo “.
Uma hora depois o pão estava cozido, tirava-se do forno, punha-se no tabuleiro e levava-se para casa.
Os pães ficavam douradinhos, fofinhos e de crosta estaladiça.
Levava-mo-lo à mesa, juntávamos-lhe uma fatia de queijo ou de presunto ou uns bocadinhos de chouriça assada, comíamos e deliciava-mo-nos.
Esquecíamos todo o trabalho que ficava para trás mas, lá para o mês de Outubro, recomeçava tudo de novo.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

O pão (6) A Moagem

O grão limpo para se voltar a semear ou para se moer


A moagem era feita no Inverno porque os moinhos funcionavam com a corrente da água que fazia rodar as mós dos moinhos.
Cada agricultor ia levando o seu grão ao moleiro, nos dias que lhe eram marcados. O moleiro tinha de humedecer o grão e deixá-lo repousar durante algumas horas, só depois iam enchendo a caixa que fica por cima da mó. Da mó ia caindo a farinha que o moleiro ia recolhendo para dentro dos sacos. O moleiro também tinha de picar as pedras quando estavam gastas para uma melhor fricção uma com a outra. No fim da moagem a farinha era transportada de novo pelos burros ou carros de bois para grandes arcas de madeira. A farinha ficava aí armazenada e cada um ia retirando as quantidades necessárias, não só para se fazer o pão, mas também para se fazerem bolos e sobremesas.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

O pão (5) A malha



Na eira era feita a mêda com a mesma técnica do rolheiro para que a chuva não molhá-se as espigas.
No mês de Agosto organizava-se a debulha ou malha, sempre em regime de troca.
Como só havia uma máquina debulhadora era preciso organizarem-se os agricultores para saberem quem era o primeiro, o segundo, o terceiro e assim sucessivamente.
Para a debulha eram necessárias as seguintes pessoas:
Uma pessoa atirava os molhos abaixo da mêda, outra que o passava para o cimo da debulhadora, outro em cima da debulhadora para desatar os molhos e os fazer passar dentro da máquina. Atrás da máquina outra pessoa apanhava a palha e colocava-a na verga dos vergueiros, três jovens robustos que a transportavam pela escada acima para o palheiro. O palheiro tinha de ser feito por um especialista que lhe dava uma forma arredondada e terminar em bico, para não deixar entrar a água. Do outro lado uma pessoa tomava conta dos sacos que se iam enchendo de grão limpo e mais duas pessoas que iam juntando o grão que caía fora dos sacos e dos crivos. O dono da máquina, por sua vez, garantia o bom funcionamento da mesma.
Ao fim do dia eram carregados os sacos do grão no carro de bois e despejados nas arcas ou celeiros. No mínimo eram precisas cerca de onze ou doze pessoas.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

O pão (4) As ceifas


Nos meses de Junho e Julho, vinha o trabalho mais difícil, as ceifas. Para que o trabalho fosse menos penoso, faziam-se trocas, (eu ia ceifar um dia para o vizinho e ele vinha outro para mim) e assim se juntava um rancho de vinte a vinte e cinco pessoas, para ceifar, mais três ou quatro homens para atar os molhos do pão. Tínhamos de estar na seara ao nascer do sol. Comíamos a côdea, que era o pão com queijo ou chouriça; às nove horas já íamos olhando para o caminho, para ver se alguém aparecia com o pequeno-almoço. Continuávamos o dia, rego a pós rego, até chegar o almoço, seguido de uma pausa de uma hora. Recomeçávamos o trabalho; torna a pós torna, sob o calor ardente próprio da época.
Para esquecer as dores das costas e dos pulsos, alguém começava a entoar uma canção a que todos os outros se juntavam e assim se ia aliviando o cansaço. Ao fim do dia todos participavam no juntar dos molhos e, um ou dois homens faziam os rolheiros, pois era preciso uma certa técnica; as espigas sempre viradas para o interior e terminá-lo com inclinação, as espigas tinham de ser protegidas de uma eventual tempestade.
O dia de trabalho só terminava ao pôr-do-sol.
Pelos caminhos de regresso a casa ainda havia a boa disposição para cantar, brincar ou chalacear uns com outros.
Eram precisas duas mulheres para preparar as refeições e levá-las ao campo. Terminadas as ceifas, cada um ia recolher os seus rolheiros e levá-los para a eira. A recolha era feita em carros de bois.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

O pão (3) ...Finais de Maio...


Finais de Maio.
Era lindo ver os campos com as cearas, as espigas, quase douradas, a ondular com o vento, parecia que toda a ceara fugia pelas encostas acima.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

sábado, 11 de outubro de 2008

O pão (2) Começávamos por amanhar as terras


Começávamos por amanhar a terra.
A terra tem de ser lavrada, o mínimo duas ou três vezes, dependendo do tipo de terra isto, num intervalo de quinze em quinze dias, para a terra ficar bem arejada e limpa de ervas daninhas. A seguir era preciso gradear ou seja, pôr a terra direita para se poderem espalhar as sementes do trigo ou do centeio.
Para espalhar as sementes, era posto um saco com cerca de quinze quilos ao ombro, e de mão cheia a mão cheia, talhando visualmente uma courela até cobrir todo o terreno com as sementes. Atrás seguia a junta dos bois com um arado e, rego a rego, eram enterradas as sementes. Era preciso abrir os regos e preparar as linhas de água de maneira a que durante o Inverno as sementes não fossem arrastadas pelas chuvas.
As sementeiras eram feitas em Outubro ou Novembro; em Janeiro ou Fevereiro era preciso fazer a monda, que consistia em arrancar todas as ervas daninhas que nasciam junto com as sementes, para tanto, o lavrador ia aricar a seara, que consistia em lavrar a terra pelo mesmo rego que tinha feito na sementeira. O lavrador tinha de segurar bem firme a rabiça do arado e ter um bom controle sobe as vacas que puxavam o arado, para que este não fosse arrancar o centeio no cume do rego; o resto era feito à mão ou com a ajuda de uma faca ou sacho.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O pão (1)

O pão é um alimento quase indispensável à nossa mesa.
Suponho que há muita gente, em especial os mais jovens, que desconhecem os procedimentos pelo qual um grão de trigo tem que passar e o que as pessoas têm de trabalhar, para que esse alimento chegue à nossa mesa.
Tenho o conhecimento de todas as etapas e desenvolvimentos, participei em todas as tarefas e processos, desde o deitar as sementes à terra, até chegar como pão à nossa mesa.
As novas tecnologias chegaram, não só às cidades mas também ao mundo rural. Hoje tudo é diferente. As máquinas agrícolas substituiriam o braço do homem e ajudaram a um grande desenvolvimento e tudo está mais facilitado.
Gostava de vos dar a conhecer como se produzia o pão na década de mil novecentos e sessenta, na minha terra, Carvalhal de Atalaia, concelho de Pinhel, Beira Alta.

Texto de Maria dos Anjos Oliveira que, em vários posts, trará aqui o seu testemunho sobre o pão.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Drª Julieta Saraiva com os seus meninos da Escola Técnica de Pinhel

Inicio da década de 7o.
Alunos da antiga Escola Técnica de Pinhel, Curso Geral do Comercio e Curso de Formação electromecânica. Junto aos alunos a Directora da Escola Drª Julieta Saraiva que era a minha protectora contra as "investidas" do mestre de oficinas que, diga-se em abono da verdade, nunca fui muito à bola com ele e com a sua pose de prepotente. No meio da "malta" encontra-se o Professor Peralta, muito estimado por todos e ainda a professora de Inglês. Esta, como leccionava ao Curso Geral do Comercio, já não me recordo do seu nome. Me desculpe Senhora Professora.
Pode ser que algum amigo ou amiga se reconheça na foto e pense com os seus botões
-Como eu era.... Como estou!!!
Um abraço amigo a todos, mas uma saudação especial ao meu amigo Antero Ramos, que já naquela época era possuidor de uma formação e de um pensamento humanista que muito admirávamos.

Castelo de Pinhel




Protecção Legal
Monumento Nacional (MN), Dec. N.º 37801, publicado a 02-05-1950; Zona Especial de Protecção (ZEP) - DG n.º 8, 2.ª série, 10-01-1963
Endereço
Câmara Municipal de PinhelRua Silva Gouveia6400-455 Pinhel
Freguesia
Pinhel
Concelho
Pinhel
Distrito
Guarda
Tipo de Gestão
Contrato Programa-Gestão com o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR)
Responsável
Câmara Municipal de Pinhel
Descrição
No local onde se ergue o Castelo de Pinhel, desde a época pré-romana existia um recinto fortificado. Esta área assumiu com D. Afonso Henriques um papel de destaque na reconquista cristã, teor esse que volta a ser sublinhado com D. Sancho I em 1189 com a atribuição de carta foral a Pinhel e subsequente construção do castelo.A estruturação deste complexo fortificado tem ainda continuidade durante o reinado de D. Afonso II, sendo também reconstruído e alargado sob a égide de D. Dinis. De facto, entre a baliza cronológica que medeia o último quartel do século XII e o primeiro quartel do século XIII, seis torres de planta quadrada são construídas (e posteriormente consolidadas quando da confirmação de foral em 1510 com D. Manuel), às quais correspondem seis entradas - rematadas com arcos a pleno centro e quebrado -, a saber: Porta da Vila, de Santiago, de Marrocos, de São João, de Alvacar e de Marialva.
Durante o reinado de D. Dinis reestruturou-se ainda a muralha envolvente e, no contexto da Restauração de 1640, o castelo irá também sofrer novas intervenções no sentido de melhorar o seu papel defensivo. A construção, de planta oval, denuncia um estilo que segue um formulário manuelino, corroborado na janela mainelada e na janela de lintel recto, que rasgam, no recinto da cidadela, as duas torres com matacães que ainda subsistem, uma das quais a Torre de Menagem. A classificação inclui ainda uma moradia anexa, de carácter rústico, que se encontra adossada a uma torre. Em Agosto de 1999, sob orientação do IPPAR, iniciam-se obras de revitalização, que ainda decorrem.
Horário
Recinto aberto (temporariamente)
Ingresso
Gratuito
Telefone
+351 271 410 000
Fax
+351 271 413 388
E-mail
cm-pinhel@domdigital.pt

sábado, 4 de outubro de 2008

Lagares de vinho no Carvalhal




Estamos em época de vindimas.
Quando escrevo estas linhas a cerca de 375km de distância sei que muitos dos meus conterrâneos andam, em rancho, a fazer as suas vindimas.
Hoje toda a produção é entregue na Adega Cooperativa de Pinhel, a qual, segundo tenho ouvido dizer, paga tarde e a más horas, já que efectua os pagamentos dois anos depois da colheita... mas não é dos incumprimentos da cooperativa que quero falar, mas sim dos antigos lagares do Carvalhal.
As fotos dizem respeito ao lagar que foi do ti António Augusto e que é hoje do amigo Viriato, seu filho. Este lagar é uma peça de museu que nos leva ao passado onde toda a produção do vinho era feita na aldeia.
Com o tempo recordaremos aqui as diversas etapas da produção do vinho, desde a vindima, para não falar da poda, até à entrada do vinho nos toneis.
Vou deixar, concerteza, alguns no esquecimento, mas recordo-me de na décadas de 60, 70 do século findo haver no Carvalhal, pelo menos os seguintes lagares:
-Lagar do ti António Augusto
-Lagar do ti Manuel Augusto
- Lagar do ti Manuel Pereira
- Lagar do ti Matias, para mim o que me foi mais familiar, já que tendo sido o meu pai caseiro deste abastado proprietário teve a posse do referido lagar durante muitos anos.
-Lagar do ti José Lourenço
-Lagar do ti António Sebastião
Como a minha memória não prima pela grandeza, confesso que de momento não consigo identificar mais nenhum proprietário, sendo certo que me recordo de mais um lagar junto à casa do ti Alípio mas não sei de quem era.
Aqui fica o desafio aos meus amigos para me chamarem de esquecido e outros nomes prazenteiros e me venham dizer que havia outros lagares aqui não referenciados.


quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Cavar as marradas

Toda a terra era pouca para deitar as sementes do centeio.
As chamadas "terras direitas" de boa lavra e boa produção não eram suficientes para uma boa colheita de centeio traduzida em alqueires que se pudessem despejar nas robustas arcas e que mais tarde se trocava por farinha vinda dos lados da Freineda.
A produção do centeio e da batata eram a charneira do sustento das famílias.

Quando vinha a época das sementeiras, os agricultores, às dezenas, espalhavam-se por toda a folha, desde a galafura às trigueiras, passando pelas casas, descendo ao val da areia, torneando pelo cabeço do curvo até à enchara, passando pelas lapaçeiras, transpondo a ribeira desde o bico ao val do pombo, descendo para as lajas pintas e subindo às tapadas do cantinho, deslizando até à abilheira, saltando até ao barrôco cobrado, ranhadoiro em direcção à gorgolicha e à faia, subindo pelo val de vela, sem esquecer o cavaleiro e a trema, para não falar de outros lugares, onde meses mais tarde iriam ondular belas searas, produto do esforço, da dedicação e saber dos homens, aliados à força, à perseverança e ao sacrifício das suas juntas de vacas.
Se nas terras direitas havia o brio de deixar os regos rectilíneos, recordo o despique entre António Rocha e António do Zé Joaquim, na queimadinha, já nas terras mais pobres salpicadas de barrôcos, lajes mais ou menos acentuadas e outros obstáculos, não era possível dar azo à desenvoltura rectilínea, mas era necessário "arrumar" o mais possível com o arado até onde fosse possível fazer chegar a relha.
O barrôco era torneado pelo arado pela esquerda e pela direita, por vezes abriam-se regos ao travesso, mas era impossível lavrar com o arado de pau todos os cantinhos, que na gíria se apelidavam de marradas.
Enquanto o pai ou os irmãos mais velhos se agarravam ao arado atrás das vacas para proceder à sementeira extensiva, os putos, de enxada na mão, cavavam as marradas onde houvesse um centímetro de profundidade de terra em que o arado não chegasse para cobrir as sementes.
O resultado era o aproveitamento total dos terrenos, tirando-se deles o máximo de rendimento para ajudar no sustento da família.
Hoje quando começo a descer os val de barreiros e olho para as encostas da abelheira e tapadas do cantinho e vejo o mato que por ali prolifera questiono-me como foi possível esventrar aquelas terras e tirar dali as poisas de pão que, juntamente com as provenientes de outras paragens faziam o orgulho das mêdas que meses mais tarde se elevavam nas eiras do pradinho.
Ao meu pai, ao meu avô António Jerónimo e a todos os outros agricultores do Carvalhal presto aqui a minha homenagem ao seu esforço, à sua luta pela sobrevivência mas que, com dignidade souberam criar os seus filhos, transmitindo-lhe valores de respeito e de boa vivência em sociedade.