quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A colocação da calçada caminha a bom ritmo.


Segundo a enviada especial de Pontedaspoldras ao Carvalhal na semana passada, a colocação da calçada está a desenvolver-se a bom ritmo.
Ainda segundo a nossa repórter e no seu "especializado entender" parece que os paralelos ficam muito separados uns dos outros. Será que a nossa repórter tem razão no seu reparo?
Aqui fica o alerta para os competentes serviços de fiscalização camarária, que estamos certos, não deixarão que nos "vendam" gato por lebre e por isso vamos todos acreditar "piamente" que a colocação da calçada prima pelas boas regras de arte e o reparo da nossa "maldizente" repórter não tenha qualquer fundamento. O tempo o dirá.
Como se pode ver nas fotos os habitantes "temporários" da R. do Fundo do Lugar já têm, no Verão, mais lugar para estacionamento. A situação que se estava a viver em Agosto "naquele bairro" era já preocupante no que se refere a estacionamento, pensando alguns que a solução teria que passar por colocação de parquímetros. Vemos com agrado que o problema parece agora melhor solucionado e daí convido os meus amigos a estacionarem os vossos carros no mês de Agosto no Carvalhal porque aí sempre ficará mais barato o parqueamento do que junto das praias do Algarve e com menos risco de furtos ou de carjacking.
Aqui fica o convite.
Com novas ruas "abertas ao trânsito", como se pode ver na foto, melhor seria a Câmara Municipal pensar na instalação de sinalética rodoviária adequada no povoado, devendo para o efeito criar uma comissão especial de aconselhamento e acompanhamento que sugiro, deveria ser constituída pelo "Nosso Cabo Gonçalves" a presidir, secretariado pelos vogais "Rei do Gado" e "Ponto de Ordem à Mesa".
Para terminar e, segundo a mesma enviada especial, faltará agora o calcetamento da rua principal entre a casa do Senhor Ribeiro e a casa da ti Natércia, nas Fontainhas, e o arruamento de acesso à escola primária.
Pode ser que depois de calcetada a rua o Senhor Presidente da Câmara já a possa visitar e encontrar uma solução para a restaurar no curto prazo!?
A todos os meus amigos e leitores deste blog quero deixar uma mensagem de esperança para 2009. Votos de BOM ANO

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Fogueira de Natal 2008


Cumpriu-se a tradição. Quem teve a oportunidade de passar o natal no Carvalhal pôde torrar pela frente e congelar por traz nos momentos que passou junto à fogueira.
Racionalmente perguntar-se-á que prazer pode haver naqueles momentos passados junto à fogueira em que as chamas voam alto e as labaredas se aproximam das nossas faces que as protegemos com as mãos e, no mesmo instante as costas sentem o gélido da noite, quando em alternativa se pode estar numa sala climatizada?
O sentido ancestral da fogueira, a tradição, o ponto de encontro de todo um povo que depois de ter consoado em família sente a necessidade de conviver com os restantes habitantes da aldeia; tudo isto e muito mais são ingredientes naturais que levam a manter a tradição da fogueira na noite de consoada e este ano, como se vê nas fotos, a tradição continuou a ser respeitada ainda que os convivas, não tenham sido muitos.
Há no entanto um pormenor que realço, a tradição já não é totalmente o que era, agora, como símbolo da subida ao poder das mulheres, são já elas que andam de pau na mão a controlar a fogueira; impensável à 50 anos.
Por último, relevo a beleza da figura que se pode apreciar no lado direito da primeira foto.
Aos enviados especiais do Pontedaspoldras que recolheram as imagens, os meus agradecimentos pela colaboração prestada.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Simplesmente... Maria.

A notícia voou veloz de porta em porta, de casa em casa e rapidamente todo o povoado se interrogava onde poderia estar.
Lanternas rasgaram a noite e os chamamentos ecoaram em todas as direcções, mas dela, nem um sinal.
Os dias sucediam-se, as noites tornavam-se cada vez mais longas e a esperança ia dando lugar à tristeza e ao desalento colectivo.
No povoado todos tinham opinião, ninguém estava indiferente ao sucedido.
- Isso não se fazia!
Desaparecer sem deixar rasto e sem mensagem de última vontade era um acto de cobardia, diziam alguns.
- Coitada, não lhe restava alternativa, opinavam outros.
Ao fim de alguns dias era já ponto assente que uma tragédia tinha acontecido e apontava-se já o causador de tamanha desgraça.
Só o grasnar dos corvos e o rodopio das águias nos céus iriam indicar onde os lobos se tinham banqueteado.
Era já lusco fusco, o luar ainda adormecido, os rouxinóis já se tinham acoitado, os pardais fechavam as pálpebras nos galhos dos freixos das regadas, a noitibó dava sinais da sua presença nas vinhas do cabeço, quando o Joaquim Jerónimo, depois de um dia de intensa labuta resolve ir prender a burra na regada ali próxima da casa da Zéfinha. Quando se preparava para travar a burra ouve uns murmúrios. A besta apruma as orelhas e dá dois sopros em sinal de alerta.
- Quem está aí?
Gritou o Joaquim Jerónimo, meio confuso com os sinais que lhe chegavam ao ouvido.
- Ti Joaquim, ti Joaquim sou eu, ouviu-se murmurar por detrás da parede da regada de baixo.
Correu o Joaquim Jerónimo ao encontro da infeliz, que desfalecida, lhe suplicou:
- Ti Joaquim, tenho fome, muita fome, preciso de ajuda, mas não diga a ninguém que estou aqui.
- Oh rapariga!
Pegou nela e rapidamente a levou para casa.
Tinham corrido oito dias e ela, coitada, vencida pela fome, teve que voltar, mais tarde, a um berço que não era dourado.
Foi o primeiro ensaio da fuga a uma vida ingrata, pois, decorrido algum tempo, imigrou para terras de sua majestade onde constituiu família e onde as suas lembranças de infância e juventude no Carvalhal não serão as melhores, mas onde o perdão não deixará de fazer parte do seu dicionário.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

As couves de Natal

É Natal.
Para uns um período do ano profundamente religioso.
Para outros o melhor pretexto para deitar o trabalho para trás das costas e aproveitar uns dias de descanso.
Para todos o desejo de comunhão familiar, nem sempre possível.
Para as crianças a alegria de rasgar papeis e descobrir aquela prenda sonhada, causadora das primeiras insónias.
Para muitos aquela ceia especial.

O Natal é neve, é chuva, é frio.
É fogo que rasga o breu da noite com fônas esvoaçantes
O Natal é visita de capelinhas onde se venera Baco.
Com lambra que abrasa a face e frio que congela as costas.

Quando falta algum destes ingredientes
falta a essência do Natal,
razão porque:
- Natal, só no Carvalhal.

O proprietário destas couves diz que não se importa de oferecer algumas a quem lhe oferecer o bacalhau!!!
Se alguém quiser fazer a permuta meta os pés a caminho e vá passar o Natal no Carvalhal.

A todos Boas Festas

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Obrigado "Carlitos"

No recentemente divulgado Jornal Notícias do Carvalhal tomei conhecimento que o nosso amigo e conterrâneo Eng.Carlos Amaral, para os da sua e minha geração, mais conhecido pelo "Carlitos", tinha doado uma propriedade para que seja lá instalada a estação de tratamento dos efluentes.
Mais um exemplo da forma de estar de muitos naturais do Carvalhal. Generosos, dando de si sem pensar em si,pensando no colectivo.
Pena é sentir e ver que com estes gestos e tantos outros que têm acontecido, de natureza semelhante, se libertam meios financeiros municipais que vão ser canalizados para servir outras populações, com prejuízo evidente do Carvalhal dos seus naturais e dos seus residentes que têm sido parentes pobres no Concelho.
Também é verdade que são estes gestos solidários que dão orgulho colectivo a esta simples, modesta, mas orgulhosa aldeia e às suas gentes.
- Para quando a construção do equipamento Senhor Presidente da Câmara?
- Santa Engrácia só há uma, a de Lisboa, e o Carvalhal não quer ter outra...

domingo, 14 de dezembro de 2008

O dia 24

Tal como os dias anteriores, o dia 24 de Dezembro acordou cinzento escuro.
O gelo acumulado de vários dias teimava em quebrar os galhos das árvores e o frio tinha vindo para ficar. O sol tinha-nos deixado há mais de oito dias e o nevoeiro intenso banhava todo o povoado invadido pelo sincêlo que gretava a terra e esbranquiçava a paisagem.
Ainda não eram sete da manhã e já as lareiras, crepitando, teimavam em tornar as casas menos inóspitas porque densamente carregadas de humidade e frio que até os cães e gatos fazia tinir.
O ar nas ruas era asfixiante; o fumo das lareiras não se erguia no céu devido à humidade intensa que pairava no ar .
Como em todos os dias, a caldeira pendurada nas lares era banhada pelas chamas de umas vides que preparavam a morte de uns belos cavacos de carrasco e já se ouvia o grunhir dos marranos um pouco por todo o lado e o mugido das vacas mais despertas. Se a maior parte das matanças já estavam feitas, algumas ainda estavam por fazer.
Panelas grandes ao lume porque o dia ia ser de festa.
Para alguns o dia era reservado aos preparativos da grande ceia natalícia.
Para outros, a rotina não podia ser quebrada. O gado berrava nas cortes chamando o pastor. Este, manta às costas e bornal a tiracolo, na companhia dos fiéis cães de guarda, sabia que ia ser mais um dia calcorreando pastagens mas, face à efeméride, também tinha guardado boas surpresas para o rebanho.
Aquele dia não era só festivo para as pessoas; o gado também tinha o direito de ver as suas refeições substancialmente melhoradas.
Bateu o meio dia e, em loucas correrias pelo adro da igreja, muitos putos dirigiram-se ao sino para não mais o largarem, revezando-se aos badalos, não fossem as mãos congelar.
Alguns, dizia, nem todos, porque outros ouviam os sinos fazendo eco nos cabeços vizinhos dos murtórios, das vinhas do cabeço ou da cotovia e uma dor profunda cortava-lhes o coração. Não podiam participar na festa colectiva do peditório e da acarranja da lenha que a pequenada fazia para, noite dentro, se aquecer o Menino Jesus.
Sim, os que tinham o privilégio dos pais não terem rebanhos, sujos e enlameados carregavam a lenha fazendo montes em diversos locais do povoado para, mais à noite, os rapazes carregarem nos carros de bois, puxados a pulso pelos jovens, em guinadas e ziguezagues, provocados pelas lamas, pedregulhos ou forças mal equilibradas no cambão.
Eles, os que faziam o pastoreio, continuavam no campo olhando o céu, ouvindo o latir dos cães enraivecidos pelo barulho dos sinos. Batiam os pés no chão para não congelarem, atiravam pedradas ou gritavam às ovelhas e cabras que teimava fazer seu o que era alheio. Encharcavam os pés nas regadas onde as águas corriam e se espalhavam provenientes das rigueiras transbordantes.
Naquele dia as horas eram eternas e a ânsia da chegada da noite era arrasadora para os que no campo nunca mais viam os sinais do entardecer.
- Quantos carros de lenha teriam eles já carregado?
- Este ano seria a maior fogueira já mais feita na aldeia?
Perguntas em silêncio que só mais tarde iriam obter resposta...

sábado, 6 de dezembro de 2008

A rega das batatas


Finais de Junho. Quatro da tarde. O sol bem alto, ainda no horizonte, desliza com suavidade em direcção ao zénite. O dia comporta ainda mais cinco horas de sol e este tende agora em diminuir o bafo abrasador que tinha atingido o seu máximo cerca de uma hora antes.
Novos e velhos deixam as sombras da casa da tia Rita e cada um tem um destino traçado. Os batatais que se estendem ao longo da ribeira aguardam angustiados salvação do tórrido calor que os fustigou nas últimas horas.
Albarda em cima e bem arreada, sem esquecer a trunfa e de um pinote monta-se na burra que com um espirro mais profundo procura afugentar as moscas que teimam em se passear nas suas narinas.
Os sachos estão na olga, o motor bem guardado à sombra dos amieiros, aguarda o impulso da manivela.
Depois de uns bons vinte minutos, ele desce da burra, coloca-a à nora, venda-lhe os olhos e os copos, em cadencia, despejam água no tabuleiro, fluindo depois pela canal até ao cimo das leiras.
As mangueiras, quais gibóias que se empertigam, mostram que o motor já chupa abundantemente o precioso liquido que rapidamente se vai juntar ao recolhido pelo passo sincronizado da burra ligada à nora pelo cambão.
Na rigueira, corre agora água com um grande caudal até às leiras mais carentes, onde a rama das batatas já dá sinais de querer murchar.
Numa leira, ela espreita que o rego encha para de seguida desviar a água para o seguinte; na outra, o irmão faz os mesmos gestos e, com o tempo a passar, vão-se contando as leiras já regadas.
Por baixo do caminho, o ti Manuel Vicente e a já muito curvada ti Anunciação desaparecem por entre o feijão de estaca que se ergue em direcção ao céu. Do outro lado da ribeira ouvem-se os berros do ti António Justino que já enervado grita " arre burra, arre burra... maldita burra, vou aí e parto-te os cornos, senão queres andar...", mas esta continua especada e com pouca vontade de circular. Mais acima, ouvem-se os gritos da ti Carlota que há instantes tinha passado por cima da olga montada na burra e com a cabrita sempre no seu encalço. Em frente a tia Arminda conduz a água, leira após leira e a rama das batatas vai mudando para um verde escuro mais intenso em sinal de agradecimento, enquanto que o ti Manuel Amaral vai descarregando algumas máquinas de remédio, na outra olga, porque o maldito do escaravelho se agarra, em cachos, na rama da batata e a devora num ver se te avias.
Eles aí continuaram durante mais umas horas de enche e passa a outro, enche e vira.
A russa nunca se negou e o motor, de quando em vez, lá ia ele alimentá-lo de petróleo para continuar a chupar com sofreguidão a água que se espraiava no leito da ribeira, como de uma albufeira se tratasse.
O sol começava a esconder-se por trás da cozinha do azinhal e, ele diz-lhe:
- Puta que pariu esta merda, por hoje já chega, vamos embora.
Chõ aí! Chô... burra e a russa, já suada, estanca imediatamente; ao motor estrangula-se o ar e ele queda-se.
-Rápido Maria, arranca aí umas terrábias, que eu vou cortar uns molhos de canas, ordenava o António.
Passados mais alguns minutos, já a burra tinha em cima dois molhos de canas encimados por um molho de terrábias.
Corria uma ligeira brisa e a noite aproximava-se, quando já iam junto ao pradinho em direcção a casa e se cruzam com o ti António Samuel que atrás das vacas se dirige em direcção à ribeira.
Ele era assim, os seus tempos de trabalho não se encaixavam no ritual normal dos restantes aldeões. Ele vinha quando os outros iam, ele ia quando os outros vinham; vá-se lá saber porquê.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Barragem da Meimoa



Na qualidade de técnico do Laboratório Nacional de Engenharia acompanhei toda a construção desta obra entre os anos de 1982 a 1984. É com saudade que comparo as duas fotos acima; a primeira corrresponde a uma imagem da actualidade, com a barragem em plena exploração; a segunda, estava a execução da obra em curso e, como é natural na região, fomos brindados com um nevão, o que permitiu alguma acalmia e descanso das máquinas e também a oportunidade de posar em cima do aterro coberto de neve.
Recordo alguns nomes ligados à execução da construção desta obra:
O meu colega António Barros
O ajudante Reinaldo da Meimoa
O motorista Barata que conduzia mais tempo a dormir do que acordado, mas com quem nunca tive nenhum acidente; no último instante e, quando já estava a ver a minha vida a andar para trás, o Barata franzia o sobrolho e com uma guinada milagrosa lá voltava a colocar o cavalo no alcatrão.
Eng. Avilez, dos então, Serviços Hidráulicos.
Engenheiros Goulão e Fernando Oliveira da empresa Moniz da Maia Serra e Fortunato,
Os fiscais dos Serviços Hidráulicos Romão, Fernando Dias, Raposo e Godinho.
Alguns dados sobre o empreendimento:
A Barragem localiza-se na Ribeira da Meimoa, afluente do Rio Zêzere, a cerca 5 km da povoação que lhe dá o nome, no concelho de Penamacor, distrito de Castelo Branco.
Foi a primeira obra construída no Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira.
A barragem, de terra, com 52 m de altura, domina uma bacia de 61 km2. O coroamento é definido à cota (571,5), e tem cerca de 656 m de extensão e 10 m de largura, assegurando uma via de comunicação. A descarga de fundo encontra-se à cota 526 e a tomada de água à cota 540m.
A albufeira criada pela barragem tem a cota de Pleno Armazenamento (NPA) de (568,5), criando uma albufeira de 222 ha de área. O nível mínimo de exploração (Nme) é constituído à cota (547,0); a capacidade total de albufeira é de 40,9 hm3 e a capacidade útil de 28,7 hm3.
Perfil
A barragem tem um perfil tipo zonado, com núcleo constituído por solos argilosos no paramento a montante, separado por um filtro do paramento de jusante que é constituído por materiais resultantes da escavação.
Órgãos hidráulicos
A descarga de fundo e a tomada de água são constituídas por condutas metálicas instaladas no interior da galeria de derivação.
Descarregador de superfície
O descarregador de cheias, com um desenvolvimento total de cerca de 700 m, localiza-se na margem direita foi dimensionado para o caudal de cheia de 124 m3 s-1.
Principais Características da Obra
Hidrologia
Área da bacia hidrográfica
61,0 km2
Albufeira
Nível de pleno armazenamento
568,5 m
Nível de máxima cheia
568,99 m
Volume de armazenamento
40,9 hm3
Superfície inundada
222 ha
Descarregador de Superfície
Tipo
No coroamento
Caudal máximo
124,0 m3s-1
Barragem
Desenvolvimento
656,0 m
Altura máxima
56,0 m
Largura do coroamento
10,0 m
Cota do coroamento
571,5 m

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Que estará a pensar?

Um homem com dois marmelos na mão o que poderá estar a pensar?
- Oh tempo volta pra trás...?
- Mais vale dois na mão que quatro em pensamento?
Nada disso ...
Simplesmente a reflectir no modo como pode melhorar a produção do marmelo e para isso analisa, cuidadosa e demoradamente, cada espécime que vai colhendo.
Com essa lentidão, amigo, os restantes que ainda se encontram na árvore, de tanto amadurecerem, ainda se vão "espaparrar" na tua cabeça.
No Carvalhal tudo é calmo, até na colheita do marmelo.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Pinhel e a revolução de 1640

Ribeiro (João Pinto).
n. ca. 1590. f. 11 de Agosto de 1649.

Um dos gloriosos conspiradores de 1640.
N. em Lisboa, segundo afirmam os seus panegiristas, no começo da última década do século XVI, fal. em Lisboa a 11 de Agosto de 1649. Era filho de Manuel Pinto Ribeiro e de Helena Gomes da Silva.
Matriculou-se na Universidade de Coimbra, onde estudou desde 1607 até 1612, tendo suprimido o último apelido, de que mais tarde fez uso, assim como também o último apelido de seu pai, pelo modo seguinte João Pinto, natural de Lisboa, filho de Manuel Pinto. Tomou o grau de bacharel em Direito Canónico, em 1615, conservando a mesma supressão de apelidos. Frequentou o sobredito curso de 1616 e 1617, não contando nos registros competentes daquela universidade, que ao primeiro grau de bacharel conseguisse juntar outro; apenas se encontra, nos assentos desses últimos períodos, o aumento do apelido que deu a seu pai, dizendo-se ali: João Pinto, filho de Manuel Pinto Ribeiro, natural de Lisboa. Pelo alvará de 12 de Julho de 1621 foi nomeado por Filipe II, juiz de fora da vila de Pinhel, e por carta régia, de Filipe III, passada a 23 de Junho de 1627, teve a nomeação de juiz de fora de Ponte de Lima. Nesta última residência escreveu o Discurso sobre os fidalgos e soldados portugueses não militarem em conquistas alheias, obra que se publicou em 1632, e alcançou grande fama. Em 1639 achava-se à testa da administração e negócios da Casa de Bragança em Lisboa, sob a denominação de agente, e foi nessa qualidade que entrou no noviciado da ordem de Cristo, e foi provido no hábito dela, por dois alvarás, ambos de 16 de Setembro de 1639, passados por Filipe II. Por outro alvará do mesmo soberano, com a data do 17 do referido mês e ano, foi armado cavaleiro, tendo em seguida a comenda de Santa Maria de Gimunde na mesma ordem, mercê que o duque de Bragança, estando em Almada, impetrou do soberano castelhano, numa carta que lhe dirigiu com a data de 8 de Julho, também de 1639, declarando que a dita comenda estava vaga pela morte do seu possuidor Fradique Lopes de Sousa, para que ele o mandasse nela instituir e confirmar. Filipe III atendeu a carta do duque de Bragança, confirmando a mercê da comenda a João Pinto Ribeiro, por carta de 18 de Novembro do mesmo ano.
Quando os fidalgos portugueses começaram a conspirar contra o domínio espanhol em Portugal, que durava havia já 60 anos, foi que o nome de João Pinto Ribeiro se tornou célebre na história, como um auxiliar importantíssimo. Vendo-se os conspiradores lutando com a dificuldade de fazer chegar, com segurança e a celeridade requeridas, a sua correspondência às mãos do duque de Bragança, em Vila Viçosa, lembrou D. Miguel de Almeida, que se convocasse João Pinto Ribeiro, não só por ser homem de grande talento, como por ser agente dos negócios do duque, e muito obrigado a procurar os seus interesses. Foi na reunião dos conjurados, em 12 de Outubro de 1640, a primeira vez que Pinto Ribeiro compareceu, mostrando-se desde logo um activíssimo auxiliar. Parece que até foi ele quem nessa reunião aconselhou, que se prosseguisse na empresa, sem se fazer caso das hesitações do duque de Bragança. Assim se resolveu, e Pedro de Mendonça teve o encargo de ir participar ao duque a resolução que se tomara. D. João acedeu, depois de muitas irresoluções, mas daí a poucos dias, achando-se outra vez hesitante, mandou chamar a Lisboa João Pinto Ribeiro, tomando por pretexto querer saber duma demanda que trazia a Casa de Bragança com os condes de Odemira. Foi João Pinto Ribeiro, e nessa entrevista com o duque, é que prestou verdadeiros serviços à causa nacional, aconselhando-o a que persistisse no seu intento, pintando-lhe todos as dificuldades como aplanadas, e conseguindo enfim trazer para Lisboa plenos poderes para D. Miguel de Almeida e Pedro de Mendonça. Os conjurados activaram as suas reuniões em diferentes pontos da cidade, principalmente depois do regresso de João Pinto Ribeiro de Vila Viçosa. Foi no dia 25 de Novembro que se marcou definitivamente o dia em que devia rebentar a revolução, e foi João Pinto Ribeiro quem o comunicou ao duque de Bragança numa carta enigmática, em que se lhe dizia que no dia 1 de Dezembro é que se devia de resolver o caso dos freires de Sacavém. Na véspera da revolução, isto é, no dia 30 de Novembro, esteve tudo prestes a perder-se. As palavras prudentes, de D. João da Costa, que lhe parecia temerária a tentativa, fizeram hesitar muitos dos conjurados. Nesse momento a reserva prudente era a maior das imprudências. Correram alta noite a casa de João Pinto Ribeiro dois dos conspiradores a avisá-lo do que sucedia; foi necessário expedir correios ao duque de Bragança. No dia seguinte, tudo se harmonizou, e João Pinto Ribeiro foi um aos que menos concorreram, para restabelecer a coragem dos conspiradores. No dia glorioso de 1 de Dezembro, o papel de Pinto Ribeiro foi naturalmente um pouco secundário. Depois das sabidas cenas do Terreiro do Paço, foi ele quem indicou a um irmão da Misericórdia o cadáver de Miguel de Vasconcelos, para que não ficasse completamente desamparado. Depois desaparece um pouco o vulto de João Pinto Ribeiro, que teve carta de conselho em 11 de Janeiro de 1641; carta de contador-mor dos contos do reino, em 14 do dito mês e ano; carta de desembargador supernumerário da Mesa do Desembargo do Paço, enquanto servisse de contador-mor, em 20 do referido mês e ano, e mais tarde carta de guarda-mor da Torre do Tombo, em 2 de Abril de 1644.

Lê-se no Diccionario Popular, vol. X, pág. 283 e 284:
«D. João IV seguiu o sistema de não recompensar pessoa alguma pelos serviços prestados na restauração, escolhendo sempre outros motivos para dar aos seus principais aclamadores as recompensas devidas. Este sistema embaraça um pouco, quando se pretende apreciar o verdadeiro papel representado pelos diferentes conspiradores na obra da Restauração. Acresce que João Pinto Ribeiro logo em 1642 escreveu a Usurpação, retenção e restauração de Portugal, e que, tendo a pena na mão, naturalmente se colocou em primeiro plano. Daqui se originou a tradição que fez de Pinto Ribeiro o centro e a alma da revolução, quando apenas foi o activo intermediário entre os conspiradores e o duque de Bragança, sendo o seu principal serviço o ter mantido o duque na resolução de aceitar a coroa que lhe ofereciam, vencendo as suas hesitações. O facto dele ter aparecido pela primeira vez no dia 12 de Outubro nas reuniões dos conjurados, o seu papel um pouco apagado nos acontecimentos de 1 de Dezembro, tudo concorre para nos mostrar que o papel de João Pinto Ribeiro, embora importante, não é nem por sombras, um primeiro papel.»
Em 1612 também escreveu um Elogio de D. João de Castro e um livro intitulado Injustas successões dos reis de Castella e de Leão e isenção de Portugal, um dos muitos, e um dos melhores que se escreveram para justificar a revolução portuguesa, o qual foi traduzido em italiano, com o título Anatomia delli regni di Spana nella quale si dimostra l'origine del dominio, Ia dilatatio delli Stati, successione delle linee dé suoi Re, con Ia distintione della corona de Portogallo d'aquelle di Leone e di Castiglia. Em 1645 escreveu Desengano ao parecer enganoso, que deu a el rei de Castella Filippe IV certo ministro contra Portugal, e em 1646 um outro folheto em que procurava conseguir que a cúria romana admitisse de novo Portugal no grémio dos filhos da Igreja, o qual tinha o título seguinte: Á santidade do monarcha ecclesiastico Innocencio X, expõe Portugal, as. causas do seu sentimento e das suas esperanças. Pinto Ribeiro não se julgava suficientemente recompensado, e queixava-se como muitos outros, de que se não tivessem em mais conta os serviços prestados na aclamação do rei, do que os que se lhes prestaram depois de estabelecido solidamente o trono. Por isso escreveu em 1644, o folheto: A acção de acclamar el‑rei D. João IV foi mais gloriosa e digna de honra, fama e remuneração que a dos que a seguiram acclamado.
Entendendo também que se estava dando demasiada atenção, aos que defendiam a pátria com a espada, enquanto senão atendiam igualmente aos que a defendiam com a pena perante a opinião pública europeia, escreveu em 1645 o folheto, que tem por título Preferencia das letras ás armas. João Pinto Ribeiro casou com D. Maria da Fonseca. Sobreviveu 9 anos à grandiosa restauração de Portugal, e esse tempo empregou-o activamente com a sua pena muito apreciada, pois João Pinto Ribeiro era tido na conta dum homem de alto engenho, e de escritor vernáculo e correctíssimo. Em 1643 escreveu também: Tres relações de alguns pontos de direito que se lhe ofereceram sendo juiz de fóra de Pinhel; e uma carta ao cronista Frei Francisco Brandão sobre os títulos da nobreza em Portugal e seus privilégios. Deixou manuscritos um Commentario ás rimas de Camões, um Commenta­rio ás ordenações do reino, e um Scutum armorum regio. Os diversos tratados e opúsculos por ele publicados avulsamente, foram muitos anos depois incorporados em colecção, e saíram com o título seguinte: Obras varias sobre varios casos, com três Relações de Direito, e Lustre do desembargo do Paço, ás eleições, perdões e pertenças de sua jurisdicção; compostas pelo doutor João Pinto Ribeiro, accrescentado com os tratados, Sonho Politico, Breve discurso das partes de um juiz perfeito, e Obras metricas pelo doutor Duarte Ribeiro de Macedo, etc., Coimbra, 1729; Obras compostas pelo doutor João Pinto Ribeiro, etc. Parte segunda., Coimbra, 1730.
Fonte: Portugal - Dicionário Histórico

domingo, 30 de novembro de 2008

Balada da Neve


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação entra em mim,
fica em mim presa.
Cai neve na Natureza .
E cai no meu coração.

Augusto Gil

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Grandes malhanços


Já andava farto de subir ao primeiro andar dos "verdinhos" que percorriam as artérias da capital. Invejava alguns amigos que se passeavam junto das garotas de mini, mas o salário era curto e absorvido pelos vícios e extravagâncias.
Um dia resolvi que não estava mais para esperar nas paragens dos autocarros e vai daí, resolvi comprar este belo exemplar.
Era bestial!
Com mais uns patacos comprei o capacete, uns óculos e toca de começar a circular por Lisboa.
Não podia ser mais económico; o pedal, como auxiliar do motor, servia também para fazer algum músculo nas pernas.
Nos semáforos ficava sempre na frente. É certo que quando o sinal verde abria, era vê-los arrancar em altas correrias, mas, como tartaruga que não teme lebre, no semáforo seguinte lá estava eu novamente na frente. Pelo menos enquanto estávamos parados nos semáforos tinha a honra de ser o primeiro e, se depois ficava em último, vinha o semáforo seguinte lembrar aos aceleras que a tartaruga não se deixava atrasar.
A máquina era perfeita, mas tinha uma manha terrível; no inverno e com piso escorregadio, a travagem tinha que ser feita sem que houvesse inclinação do corpo, pois se isso não acontecesse era espalhanço pela certa.
Foram muitas as vezes que o cavalo atirou com o cavaleiro ao chão, mas alguns segundos depois, lá continuava a marcha cidade fora, esquecendo a vergonha do olhar de desdém daqueles e daquelas que se sentavam ao volante de umas carripanas mais confortáveis.
Foi na década de 70 e fervilhava a capital nas onde de choque do 25 de Abril de 74. Nessa altura estava já desgostoso com a formação política em que militava, a UDP. Afinal já tinha percebido que muitos dos intelectuais, melhor dizendo, "bem falantes", não se importavam de ser da classe operária, desde que eles fossem os mestres de oficina.
Recordo o Durão Barroso, o Arnaldo de Matos, do MRPP, o Saldanha Sanches ou o actual Ministro António Nunes Correia, da UDP, ou o Mário Lino, actual Ministro das Obras Públicas, grande líder da classe operária do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Quando se criam condições positivas para reaparecerem as Solex e demais familiares, com pistas adequadas à sua circulação?
Seria bom que este tipo de veículo não fosse encarado com estatuto de menoridade, mas sim como um utilitário amigo do ambiente e facilicitador da mobilidade.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Vindimas 2008


Não, não andei lá. Não sou vinhateiro.
Estas fotos foram cedidas por uma leitora do blog que esteve no Carvalhal a fazer as vindimas. Parece que este ano a colheita não foi muito satisfatória, mas presumo que foi um período de confraternização para muitos que marcaram presença.


domingo, 23 de novembro de 2008

Saiba quem vive e vivia no Carvalhal

Para memória futura aqui vos deixo os nomes dos actuais habitantes permanentes do Carvalhal.
Manuel Albino e Lurdes, Joaquim Gaspar e Lia, Palmira, Maria Preciosa, Joaquim Ventura e Maria Delfina, Natércia Paulo, José Luís e Ana Lourenço, (Bruno, André, Mafalda) filhos da Ana e do José Luís, José Marques, Celeste Pereira, António Lourenço, Joaquim Gonçalves e Inês, José Lourenço e Lídia, António do zé Joaquim e Lurdes, Maria Odete, Joaquim Oliveira e Adelina Pereira, Américo Gil, José Gonçalves, Francisco Gil e Carolina Gil, Artur Fraga, Piedade Rocha, Abel Guilhoto e Fátima e Olinda Almeida.
TOTAL - 35 pessoas, das quais 2 jovens e uma criança.
Número de casas habitadas em permanência - 21
Em 1961/62 a escola primária era frequentada por 32 crianças.
Agora, num exercício de memória, vou tentar quantificar o número de habitantes do Carvalhal no início da década de 60.
Alípio Caetano - 4
Joaquim Aurélio - 5
Henriques Aurélio - 3
António Albino - 5
José Amaral - 6
Joaquim Aurélio - 4
José Joaquim -4
Amadeu Paulo - 3
Manuel Lourenço - 4
Joaquim Paulo - 6
Américo Marques - 6
Porfírio - 2
Eliseu Amaral - 6
Balbina - 1
Maria Antónia - 2
Manuel Prazeres - 5
António Jerónimo -2
Ana Águeda -1
Joaquim Gil -4
Joaquim Simões - 6
António Justino - 6
Luís Justino -3
António Samuel - 3
Zefinha - 1
Joaquim Matias -2
Maria da Quinta Nova - 2
Maria Arminda - 2
António Sebastião - 7
Alfeu - 5
Maria Águeda - 3
Sebastião Inocêncio - 5
Joaquim Jerónimo - 7
António César - 7
Joaquim Sebastião - 1
António Neto - 6
Joaquim Justino - 2
Abel Guilhoto -4
Manuel Rebelo - 5
Rita Pereira - 1
António Augusto -6
Piedade Rocha -2
José Samuel -5
José Coelho - 1
José marques -2
José Gonçalves - 3
Ilídio Gonçalves - 1
António Gonçalves - 1
Manuel Augusto - 3
António Pedro - 1
Francisco Domingos - 1
Manuel Amaral - 4
José Jaime - 7
Joaquim Oliveira - 4
Manuel Neto -4
Manuel Justino - 4
Albino Gil - 6
José Jacinto - 5
Manuel Simões - 5
Francisco Aurélio - 5
José Júlio - 1
Manuel Vicente - 2
Carlota Vicente - 2
António João - 7
Joaquim Marques - 3
José Lourenço -3
Manuel Pereira - Quinta da Sarça - 6
César António - Quinta da Sobreira -3
José António - Quinta da Sobreira - 8
Total - 256*
* Este número não é exacto, corresponde a uma aproximação; até porque alguns agregados familiares já nessa altura tinham filhos migrados e não garanto que não haja esquecimentos da minha parte.
O desafio está sempre lançado aos meus amigos para me corrigirem.
Feitas as contas a população actual corresponde 14% da população da década de 60. Em cerca de 50 anos o Carvalhal perdeu cerca de 221 pessoas, cerca de 85% da população.

sábado, 22 de novembro de 2008

A nogueira

Capilares são as tuas raízes
Veias teus ramos
Artérias são os teus galhos
O tronco a tua coluna
As nozes são os teus frutos
As folhas o teu agasalho
A seiva é o teu sangue
O solo o teu coração.




A poda da vinha

Não há sementeiras para fazer. A azeitona ainda não amadureceu. O vinho está na adega. O que se pode fazer no Carvalhal?
Calmamente faz-se a poda.
Antigamente era arte que se fazia alguns meses mais tarde, entre Janeiro e Fevereiro, período mais invernoso e aproveitavam-se os meses de Outubro, Novembro para fazer a sementeira do centeio, antes de começar a chover copiosamente.
O Zé João, com todo o tempo do mundo, vai podando a sua vinha do galego.
Dois dedos de conversa e pouco tempo depois aparece o Gaspar.
-Então já te vieste embora?
Perguntou o zé.
-Está frio, caralhis. Que se lixe a vinha. Ainda temos muito tempo...
Respondeu o Gaspar
-Puta que pariu, mas está mesmo frio.
confirmou o zé.
Vamos mas é para a adega, propôs o Gaspar.
Descemos a estrada em direcção à casa do Ribeiro entrámos na aldeia e quedá-mo-nos na adega do Gaspar.
Afinal, nada como beber uma jeropiga para aquecer...
A poda havia de continuar noutro dia, com calma, sem pressa. Para stress já bastou o tempo em que o malandro do Mantorras pregava coices bem aviados às multidões que se aproximavam...
Agora no Carvalhal, nada de correrias.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

De França até ao Carvalhal

O casal Ventura, depois de muitos anos em França, resolveu regressar às origens. Para isso construiu esta bela casa junto ao Largo da Igreja. Mais um sinal de que o povoado continua a rejuvenescer-se, mais no casario, menos nas pessoas, mas, ainda que o repovoamento se esteja a fazer com jovens reformados, não deixa de ser positivo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Roda



A descoberta da roda por volta do ano 2.000 a.c. é a segunda maior revolução do conhecimento humano logo atrás da descoberta do fogo que ocorreu no período paleolítico - 600.000 a 10.000 a.c..
Depois da descoberta da roda outras revoluções no domínio do conhecimento foram acontecendo ao longo dos séculos criando a estrada da civilização humana. É certo que o conhecimento e apreensão das revoluções do conhecimento não é universal, o que vai gerando níveis de desenvolvimento diferenciados e de patamares nas diversas culturas espalhadas por todo o mundo.
As imagens retiradas do museu do Carvalhal mostram-nos dois tipos de rodas de carros de bois. A chamada roda de raios substituiu a tradicional roda de madeira, com ganhos de qualidade, resistência, durabilidade, leveza, estética, etc.
Ainda está nos meus ouvidos de criança aquela ruideira que ecoava e silvava por montes e vales das dezenas de carros de bois com rodas antigas de madeira que diariamente subiam e desciam na direcção da ribeira, quer o destino fosse as olgas da ribeira de pínzio, do bico, das lapaçeiras, das poldras, do barroco quebrado, do porto, ou do mais distante navalho. Mais tarde os agricultores mais abastados ou mais despertos para a evolução tecnológica começaram a comprar os rodados dos carros com rodas de raios.
Se tiver oportunidade não deixe de visitar o museu do Carvalhal.




segunda-feira, 17 de novembro de 2008

No seminário Pe Dehon, Boavista, Porto

Da esquerda para a direita, Zé Gil (Fonseca), Manuel Silva, Albino Martins e por último, de costas e pouco interessado na foto, o José Guedes.






Como o dinheiro era naquela época um "bem" muito escasso, esta é a única foto dos meus tempos de seminarista, que decorreu entre os anos de 1966 a 1969.


Os meus amigos que estão na foto, o Silva, exímio jogador de futebol, o José Luís, muito dotado para a música, excelente interprete de piano e órgão e o meu grande amigo Guedes com uma voz de excepcional qualidade que deu brilho a uma opereta cómica exibida no seminário e que, na época, foi vista por muito público portuense.


Segundo me recordo a dita opereta cómica era um hino às tropas falangistas na guerra civil de Espanha. Estávamos em pleno período fascista e, como é óbvio, os padres que dirigiam o seminário estavam bem identificados com o dito regime e nós crianças seminaristas éramos utilizados para a defesa dos valores de quem nos dirigia.


O Zé Luís, puto ainda mais franzino do que eu, era pouco dado aos chutos na bola e, como ele preferia estar sentado ao piano, olhando para a pauta musical, fazia-me grandes favores nos períodos em que eu estava escalado para o piano, já que eu preferia ir para o recreio exterior a jogar futebol. Escusado será dizer que eu era uma nulidade a música e ao fim de três anos, pouco mais fiquei a saber do que soletrar o dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.


A estes meus amigos e tantos outros que comigo conviveram durante três anos aqui fica uma palavra de saudade pelas boas recordações que nos ficaram na hora em que partimos, uns voluntariamente, outros, como foi o meu caso, por expulsão, já que perceberam que não tinha vocação para ser Padre. Pudera, no dia que entrei nem sabia rezar o terço...


Nota - Como se pode verificar na legenda da foto, confundi o Zé Luis com o Albino Martins. As falhas de memória têm destas coisas. O importante é que o Albino não deixou passar esta minha falha de memória espero um dia dar-lhe um abraço e pedir desculpa pelo lapso.

domingo, 16 de novembro de 2008

De onde saltou a vareta?


Era domingo. Corria o ano de 1978.
Depois de uma visita ao Rogério na Parede, deslizava o Fiat 850 calmamente na estrada, quando na curva que antecede a chegada ao Aqueduto das Águas Livres, resolve ficar descontrolado e zigezague para aqui, mais ziguezague para ali, com outros carros a contornarem o animal descontrolado, decide quietar-se entre a faixa de rodagem que sobe em direcção à Praça de Espanha e a que desce, mesmo junto ao pilar do Aqueduto com uma das rodas traseiras encaixada, milagrosamente, num pneu ali abandonado, o que obrigou o burro a parar virado com o traseiro aos carros que desciam em direcção a Monsanto e a frente com vista panorâmica para a via que subia rumo à Praça de Espanha.
Os ocupantes, sem as cuecas sujas, mas a tremer como varas verdes, olhavam atónitos um para o outro e ainda não tinham compreendido o que tinha acontecido.
O condutor só tinha uma explicação, obra do diabo; a seu lado, o amigo Carlitos olha espantado para o seu colo onde repousa uma vareta de óleo.
Pega na vareta, ainda amarelo e pergunta:
- É pá, mas como é que a vareta do óleo do motor veio parar aqui?
O condutor, preso de raciocínio, ainda com o coração a palpitar e a imaginar-se debaixo de um autocarro que passava acelerado, diz:
- Sei lá, deve ter vindo do motor.
Mas, como aconteceu isso, pá?
Ripostava o Carlitos, já mais aliviado de tensão e de pensamento mais lúcido.
O condutor com alguns suores frios que lhe percorriam o corpo e meditando nas razões do despiste, continuava:
- Saltou do motor, pá.
- Porra, mas como é que saltou do motor se o motor está lá atrás , o carro não está nada partido, não bateu em lado nenhum e até está a trabalhar?
E assim continuaram sem perceber a razão mágica da vareta ter vindo ali parar.
Ao fim de uns bons minutos de cogitação sobre fenómeno tão estranho, o condutou, berrou:
-Porra, que grande estúpido, essa merda é uma vareta velha que eu trazia aí no porta luvas.
Riram do despiste, riram do caricato da vareta e, mais calmos lá saíram do bólide.
Tudo bem, nada partido, o susto tinha passado.
Depois de duas aceleradelas, aí vão eles em direcção à Praça de Espanha...

sábado, 15 de novembro de 2008

De Gaia até ao Carvalhal

A restauração e rejuvenecimento no Carvalhal continua. Devagarinho, é certo, mas continua. Aos proprietários votos de muitos e bons anos de fruição.

De quem é o barroco?

O majestoso afloramento granítico foi aproveitado para servir de parede à casa que se vê na foto. Por sua vez, o dito, parece assentar no quintal, mais conhecido por chão do barroco.
O chão do barroco e a casa que encosta ao barroco não são do mesmo proprietário.
Pergunto:
- o barroco é parte integrante da casa ou está integrado no chão do barroco?
Imagine que o rochedo é de boa qualidade para efeitos de construção e alguém o queira comprar para daí tirar aproveitamento económico. Quem o poderia vender?
Aceitam-se opiniões.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A casa do Barroco

Esta casa está totalmente construída em cima de uma laje. Não sendo caso único no Carvalhal é, sem dúvida, a mais representativa da construção que assenta em laje granítica; talvez por isso uma das suas proprietárias e minha ilustre colega tenha entendido que o afloramento granítico que existia na rua a nascente da casa não deveria ter sido destruído.
Não partilho da mesma opinião. Considero até que a Câmara Municipal deveria desfazer o resto da laje e nivelar o arruamento de modo a permitir no local uma melhor movimentação de pessoas e viaturas.
O princípio da preservação da natureza não se confunde com a manutenção de obstáculos à melhoria das condições de vida das populações, quando estejam em causa situações de insignificante, ou mesmo nulo, valor do ponto de vista paisagístico e patrimonial.
Diria que barrocos há muitos...mas com valor fora de contexto de pedreira serão muito poucos.
Vamos lá... o local está muito degradado e nesta altura seria optimo que o trabalho fosse feito

sábado, 8 de novembro de 2008

Aqui também é Carvalhal

A foto foi tirada algures nas cercanias do Carvalhal.
Deixo aqui o desafio de me dizerem onde foi tirada a foto e que paisagem aí está reproduzida.
Participe. Quero saber se você conhece as paisagens do Carvalhal.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O Chafariz do Fundo do Lugar

Em anterior post tive oportunidade de divulgar as imagens dos chafarizes do cimo do povo e da lameira. Conjuntamente com o chafariz do fundo do lugar, fica divulgado o trio de chafarizes existentes neste belo povoado.
Em tempos não muito distantes não havia água canalizada nas habitações do Carvalhal, fazendo-se o abastecimento das famílias, de tão precioso líquido, por recurso à torneira do chafariz mais próximo. Um chafariz no cimo do povo, outro no meio da aldeia e este mais abaixo, constituíram um equipamento colectivo que durante muitos anos foi o orgulho da aldeia, já que era das povoações do concelho de Pinhel melhor servida em abastecimento de água e proveniente da captação do cavaleiro.
Era junto aos chafarizes que as crianças da aldeia se juntavam e onde nasciam as mais diversas iniciativas de brincadeiras, até porque, fundamentalmente no Verão, depois de correrias loucas uns atrás dos outros, jogando à bola, jogando às escondidas, jogando à tinta, correr com o arco, etc. o suor era intenso e nada como carregar na torneira e beber sofregamente a abundante água que dela jorrava.
Sendo estes três chafarizes uma referência da aldeia esperamos que o tempo os perpetue para a eternidade e se mantenham com a melhor conservação.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Deita-lhe o fogo...

A luz ténue da candeia caminhava a passos largos para o perecimento.
A ponta da torcida que se erguia para o exterior do bico da candeia sustentou a última chama que rapidamente se transformou num tição escuro, ficando a restar a luminosidade intermitente das chamas da lareira para dar à cozinha uma tonalidade sombreada reflectida na face pálida dos seus ocupantes.
Ela apagou a candeia e, agilmente, procurou recargá-la com petróleo, antes que as chamas da lareira desaparecessem e a cozinha se viesse a transformar numa câmara de revelação.
Saiu disparado o petróleo pelo largo gargalo do garrafão e depressa a candeia transbordou, alojando-se uma boa parte do cheiroso líquido no seu avental.
- Oh meu Deus!!!!
- E agora como tiro este cheiro do avental?
Perguntou ela, muito atrapalhada, aos presentes; esperando que algum deles lhe desse a solução milagrosa de se ver livre daquele cheiro intenso que lhe subia às narinas, vindo do avental que continuava amarrado à cintura.
- Olha!!!.
- Deita-lhe o fogo, que isso desaparece tudo.
Foram, em murmurio, as palavras pausadas, serenas e convincentes, proferidas pelo sensato marido, que sendo homem de poucas falas, mas de pensamento rectilíneo, não podia estar a gozar com a situação embaraçosa em que se encontrava ela e, vai daí, num ápice, a Efigénia pega num fosforo aceso e aproxima-o do avental, dando resposta ao sábio conselho do marido que era pessoa de não dizer disparate nem dar um mau conselho.
Rapidamente as chamas se encarregaram de fazer desaparecer o petróleo que se tinha entranhado no avental e, como não era altura de fazer selecção, com o petróleo a ser dizimado, era devorado, também, o avental.
Ela aflita gritou por ajuda, mas os espectadores, que tinham pago o seu bilhete, mantiveram-se distantes, batendo na barriga e contorcendo-se com um riso desbravado que lhes inundava o semblante.
- Acudam-me, socorro...
Gritou desesperada a Efigénia.
Os filhos e o marido continuavam a rir às gargalhadas, até que ela, num gesto desesperado de raiva e aflição, lá teve a brilhante ideia de soltar o avental da cintura e de o arremessar para a fogueira da lareira, quando uma boa parte da preciosa peça de vestuário já se encontrava consumida .
Aqui fica o meu respeito e admiração por conselho tão brilhante, que o bom do António João deu à sua estimada esposa.
De uma penada, ela matou dois coelhos.
Livrou-se do cheiro estonteante do petróleo e de um avental já fora de moda.
Mas o que a Efigénia aprendeu naquela noite é que nem sempre o seu maridinho lhe dava bons e proveitosos ensinamentos; por sua vez, o António João terá pensado:
- Tenho uma mulher que vale ouro, faz tudo o que eu lhe mando...

De pé...


A chuva regou
O vento abanou
O calor abrasou
Até que um dia
Cansado de tanto suportar
Secou
As folhas voaram pelo horizonte
Douraram o chão que abraçaram.
A morte espera
Mas também desespera
O "velho" sobreiro
teima em manter-se firme.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Momentos de recolhimento.




Foram cerca de 8 dezenas de naturais, familiares e amigos, que no dia 1 se recolheram ao silêncio e recordaram os seus ente queridos já falecidos.
Não importa que fé professamos, o que importa é o momento interior de ligação a quem nos deixou e que muito consideramos, estimamos e continuamos a amar.

domingo, 2 de novembro de 2008

A calçada...


Finalmente!!!.
A obra de calcetamento das ruas do Carvalhal iniciou-se há 8 dias.
Prevê-se que dentro de 3 meses a aldeia tenha novo brilho e de uma vez por todas se acabem com as lamas e lameiros de Inverno e com as poeiras de Verão.
Há no entanto alguns reparos a fazer:
- As ligações da rede de saneamento às habitações não estão feitas. Quando se acabar a obra de calcetamento volta-se a arrancar a calçada para proceder às ligações.... Não acham que além de ser um desperdício temporal, é também um grave erro de planeamento?
- É notório que a calçada está a ser assente com fuga à colocação de areia, com consequências nefastas para a conservação futura da calçada livre de ervas daninhas. A fiscalização municipal já esteve no local, mas segundo pude observar, com fracos resultados em termos de melhoria significativa na qualidade do serviço prestado. Dizem por aí que no poupar é que está o ganho... mas, o ganho de quem?
Senhor Presidente da Câmara, não permita que alguém poupe agora e tenham que ser os cofres do município a ter que suportar encargos futuros por trabalhos mal realizados hoje.
A população não é especialista em calcetamento de ruas mas entende que alguém pode sair beneficiado com a falta de colocação de umas toneladas de areia nos arruamentos da aldeia.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A casa do Ti Matias

Em tempos distantes, num daqueles dias de pleno inverno, em que só se estava bem junto à lareira, pois chovia copiosamente, o criado no varandim da casa e olhando para o horizonte da azinheira, lá ia cantando:
- Chova água e venham dias, quem paga é o Matias.
O Ti Matias, que tinha ouvidos de tísico, não gostou do que ouviu e lá de dentro, bem alto, ripostou:
- Chova água, água venha, junge os bois e vai à lenha.
E lá foi o criado à lenha...
Nem sempre o que se pensa se deve dizer...
Hoje a casa do ti Matias é do Carlos da Arminda Josefa; foi totalmente remodelada e ampliada.
A casa do ti Matias é também para mim uma referência de infância. Ali conheci o primeiro rádio a válvulas e que à época, segundo creio, era exemplar único na aldeia.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A bica do largo das Moreirinhas.

Corre suavemente, mas recusa-se a morrer em pleno período estival. Ano após ano, ali vai debitando "fonte de vida" que, como se pode ver na foto, se perde sem glória ali mesmo ao lado no terreno arenoso. O gado é cada vez menos, as lavadeiras sumiram-se e o precioso liquido vai-se escoando para o nada e para parte alguma, sem utilidade visível.
Esperamos que o calcetamento das ruas seja uma realidade a muitíssimo curto prazo. Mas vai ficar tudo em pedra?
Não seria boa altura para se pensar no aproveitamento desta água para alimentar um pequeno sistema de rega, fazendo-se um pequeno jardim em volta do monumento que se colocou a escassos metros no centro do largo?
Bastaria uma torneira e uns reduzidos metros de tubo. A gravidade faria o resto.
Pense nisso senhor Presidente. Nisso, ou numa solução melhor!!!... o importante é não deixar ficar tudo como está, porque o que está, não está bem...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Transferências do Estado para o Município de Pinhel

Uma parte das receitas das Câmaras Municipais corresponde às transferências que são feitas da Administração Central para os municípios ao abrigo da Lei das Finanças Locais.
Para que os pinhelenses possam saber que montantes são transferidos anualmente, deixo-vos aqui os números de 2007 e 2008, bem como o proposto para 2009.
2007 -7 .115 .536,00 euros
2008 - 7.471.313,00 euros
Proposta de orçamento para 2009 -7.844.879,00 euros.

Estes valores correspondem ao somatório de:
a) FEF -Fundo de Equilíbrio Financeiro, cujo valor é igual a 25,3% da média aritmética simples da receita proveniente dos impostos de IRS, IRC e IVA
b) FSM - Fundo Social Municipal, cujo valor corresponde às despesas relativas às atribuições e competências transferidas da administração central para os municípios.
c) Uma participação variável de 5% no IRS, dos sujeitos passivos com domicílio fiscal no concelho.

sábado, 18 de outubro de 2008

Receita das freguesias do Concelho de Pinhel, proveniente do O.E. (FFF), para o ano de 2009

As freguesias têm direito a uma participação nos impostos do Estado equivalente a 2,5% da média aritmética simples da receita do IRS, IRC e do IVA., nos termos da Lei das Finanças Locais - Lei nº 2/2007 de 15 de Janeiro.
Esta não é a única fonte de financiamento das freguesias, mas hoje deixo aqui um quadro das transferências previstas para as Freguesias do Concelho de Pinhel para 2009.

Alverca da Beira 25 384
Atalaia 25 313
Azevo 30 072
Bogalhal 16 937
Bouça Cova 21 495
Cerejo 25 384
Cidadelhe 23 333
Ervas Tenras 17 837
Ervedosa 25 384
Freixedas 44 460
Gouveia 31 742
Lamegal 29 397
Lameiras 27 299
Manigoto 25 384
Pala 27 230
Pereiro 29 953
Pinhel 74 799
Pínzio 34 595
Pomares 21 710
Póvoa d' El-Rei 16 511
Safurdão 16 511
Santa Eufémia 21 710
Sorval 16 511
Souro Pires 28 538
Valbom 25 384
Vale de Madeira 18 635
Vascoveiro 26 032

domingo, 12 de outubro de 2008

O pão (8) Havia muita para contar...

Alguns dos utensílios que eram utilizados no campo
O tabuleiro, a peneira, os alqueires de 11 e 14 litros, medidas de 1 e de 2 litros e o rasoiro

Havia ainda muito trabalho para descrever inerente ao cultivo dos cereais; por exemplo, cortar a lenha e transportá-la para aquecer o forno, cuidar dos animais todos os dias, durante todo o ano, porque eles eram necessários para o cultivo das terras e transporte das culturas.
Acontecia muitas vezes o agricultor trabalhar durante todo o ano e, por grandes secas ou intempéries, ver a sua colheita reduzida a quase nada.
Conto-vos uma história verídica passada com o meu pai. Ele trazia de renda o casal do Sr. Matias a quem tinha de pagar cento e vinte alqueires de grão; houve um ano que a sua colheita foi apenas de cento e trinta alqueires. Conclusão, o meu pai ficou apenas com dez alqueires de grão para transformar em farinha para uma família de sete pessoas. E o que ele teve de fazer? Foi comprar os cem alqueires de grão ao patrão para poder alimentar a família.


A receita do pão
10kg de farinha
6l de água morna
150g de sal
150g de fermento.

CONCLUSÃO
Primeira fase: As sementeiras. São deitadas as sementes à terra, germinam, crescem, e amadurecem.
Segunda fase: As ceifas. Ceifam-se as cearas transporta-se para as eiras e aí faz-se a debulha, onde se separa a palha do grão.
Terceira fase: A moagem. Onde se transforma em farinha e é separada a casca do grão.
Quarta fase: Cozer o pão. Amassar a farinha, deixar fermentar, tender e, finalmente, vai ao forno a cozer.
Espero ter-vos dado a conhecer, todo o processo e transformação, pelo qual um grão de semente tem de passar; assim como o trabalho do agricultor, do moleiro e do padeiro.
E depois de saberem todo o trabalho que houve, compreendem o porquê do ditado: “Não estragues o pão porque é pecado”.
Assim me dizia a minha avó Maria Júlia.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

O pão (7) Cozer


Mais uma vez as pessoas tinham de se organizar para cozer o pão no forno comunitário. Como o forno era muito grande, juntavam-se duas famílias de cada vez e coziam o pão para uma semana. Todas as segundas-feiras havia uma família que tinha de ser a primeira a aquecer o forno, porque ela tinha de gastar duas ou três vezes mais de lenha do que as seguintes. Então essa família só voltava a ser a primeira depois de ter passado por todas as famílias da povoação a obrigação de cozer à segunda feira.
A primeira família a cozer na segunda-feira ia dando a vez à que queria cozer a seguir, a segunda dava à terceira e assim sucessivamente.
Chegada a nossa vez, vamos peneirar, que é separar o farelo da farinha, depois da farinha bem limpa dentro da maceira, junta-se à farinha água morna, fermento, sal e dois braços bem fortes para misturar tudo muito bem, pelo menos durante trinta minutos. Em seguida, tapa-se a massa para manter a temperatura morna e deixa-se fermentar, durante duas horas ou mais. Enquanto a massa fermenta vamos aquecer o forno com muita lenha. Entretanto alguém continua a aquecer o forno, outra vai tender a massa (dar a forma ao pão) e, para isso, tinha de ser alguém que soubesse do ofício, para que a massa não perdesse a sua elasticidade. Depois da massa tendida, punha-se no tabuleiro, onde se deixava a fermentar mais vinte minutos, tapando-se para manter a massa morna. Também se guardava uma tigela de massa para fermento da próxima fornada. Enquanto acabava de fermentar a massa, limpava-se o forno, retirando todas as brasas e cinza até as pedras ficarem bem limpas. Depois do forno estar bem quente e a massa fermentada, com uma pá de cabo bastante comprido, punha-se o pão dentro do forno, fechava-se a porta, dizendo sempre esta frase:
“Cresça o pão no forno e as graças de Deus pelo mundo todo “.
Uma hora depois o pão estava cozido, tirava-se do forno, punha-se no tabuleiro e levava-se para casa.
Os pães ficavam douradinhos, fofinhos e de crosta estaladiça.
Levava-mo-lo à mesa, juntávamos-lhe uma fatia de queijo ou de presunto ou uns bocadinhos de chouriça assada, comíamos e deliciava-mo-nos.
Esquecíamos todo o trabalho que ficava para trás mas, lá para o mês de Outubro, recomeçava tudo de novo.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

O pão (6) A Moagem

O grão limpo para se voltar a semear ou para se moer


A moagem era feita no Inverno porque os moinhos funcionavam com a corrente da água que fazia rodar as mós dos moinhos.
Cada agricultor ia levando o seu grão ao moleiro, nos dias que lhe eram marcados. O moleiro tinha de humedecer o grão e deixá-lo repousar durante algumas horas, só depois iam enchendo a caixa que fica por cima da mó. Da mó ia caindo a farinha que o moleiro ia recolhendo para dentro dos sacos. O moleiro também tinha de picar as pedras quando estavam gastas para uma melhor fricção uma com a outra. No fim da moagem a farinha era transportada de novo pelos burros ou carros de bois para grandes arcas de madeira. A farinha ficava aí armazenada e cada um ia retirando as quantidades necessárias, não só para se fazer o pão, mas também para se fazerem bolos e sobremesas.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira