terça-feira, 20 de abril de 2010

Os voos rasantes do Alberto da Tia Rita

Alberto da Silva Pereira, natural do Carvalhal da Atalaia, foi, nos anos quarenta e cinquenta do século passado, um distinto oficial da Força Aérea, onde chegou ao posto de major. E mais tarde, foi dos primeiros comandantes da TAP, pilotando os Caravelle e os Boeing da empresa, onde sempre foi muito estimado e conhecido como "o comandante Pereirinha".
Os seus conterrâneos e os pinhelenses conheciam-no apenas por "Alberto da tia Rita", que era o nome da sua mãe, que à época, vivia e tratava a quinta da Sarça, que fica entre o Manigoto e o Carvalhal.
Ora, o Alberto, como piloto da Força Aérea, de vez em quando aparecia aqui entre os céus de Pinhel e do Carvalhal, fazendo roncar o monomotor dum dos aviões que vieram para Portugal, oferecidos em troca da utilização da base das Lajes pelos Estados Unidos, e que já tinham feito muitas e muitas horas de voo na 2ª grande guerra mundial. Na nossa região ficou célebre pelos voos rasantes que fazia sobre a Quinta da Sarça para deixar cair cartas, mensagens e encomendas à sua mãe que naquela altura vivia nessa quinta.
Como naqueles tempos raramente se viam aviões a cruzar os céus de Pinhel, quando se ouvia o troar do monomotor militar, a população saía às portas de casa, à rua, e de mão na testa a servir de pala de boné, olhava o céu admirando as habilidades do Alberto da Tia Rita, que diante dos seus olhos fazia voos rasantes entre o Castelo, a torre do Relógio e a Trincheira e depois umas piruetas em forma de parafuso, e lá desaparecia ao longe, umas vezes na direcção da quinta do Sato, outras na da Surenta, espreitando, lá de cima do cockpit o terreiro da quinta da Sarça, para deixar cair ali a pouco mais de vinte metros de altitude, uma cartinha de amor ou uma encomenda para a sua bem amada Mãe.
Nós ... cá em baixo, no largo dos Combatentes ou no recreio do Colégio sonhávamos quando víamos o avião tripulado pelo Alberto da tia Rita: umas sonhavam vir um dia a ter uma declaração de amor de um bonitão piloto das FAP; outros - alguns dos meus colegas - sonhavam que, na sua actividade militar poderiam também, um dia, ser pilotos, fazer parte integrante dos "gloriosos malucos das máquinas voadoras" e vir fazer voos rasantes a Pinhel e às terras de onde eram naturais ou onde moravam as suas namoradas!
Mais tarde, o Alberto Pereira, foi comandante da TAP e foi formador de pilotos da empresa; foi ainda um dedicado coleccionador de objectos e recordações ligadas à aviação portuguesa, criando o museu da TAP. Agora esse espólio figura em sala própria com o seu nome - sala comandante Alberto Pereira - no Museu do Ar, na Granja do Marquês, em Sintra.
Precisamente há um ano - em 20 de Abril de 2009 - faleceu este ilustre carvalhense que nunca esqueceu as suas raízes e sempre se definia como alguém originário e amigo de Pinhel e da sua aldeia natal: o Carvalhal da Atalaia. Recordá-lo aqui é fazer reviver as suas e nossas juventudes.

O meu agradecimento a eneidabeirão por me ter feito chegar este bonito texto em homenagem ao saudoso "comandante Pereirinha"