sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Silêncio!

A noite vai alta e fria
duas crianças, sem lar,
estão dormindo ao luar,
numa velha escadaria.
Talvez andassem, de dia,
por aldeias, a esmolar,
e viessem descansar,
quando o céu escurecia.

Silêncio! Os lábios risonhos
denunciam lindos sonhos
a embalá-las, a entretê-las.

Se acordam, deixam de rir.
Deixá-las sonhar, dormir,
guardadas só pelas estrelas.

Fonte: Notícias do Carvalhal
Autor(a): L.C.

Saberes e sabores - Beringela Frita

Beringela frita ( Servida como entrada de refeição ou lanche)
Corta-se a beringela em rodelas finas e deixa-se em sal durante duas ou três horas. Faz-se um polme de farinha e ovo. Passa-se a beringela na calda e frita-se.
Pode-se fazer também com abóbora e aboborinhas.
Fonte: Notícias do Carvalhal
Autora: Gracinda Ribeiro

Saberes e sabores - Migas de peixe do rio

Num tacho, deita-se cebola picada, alho, louro, salsa e tomate.
Deixa-se refogar um pouco.
Adiciona-se água e peixe (pode ser desfiado depois de cozido). Junta-se um ovo batido com duas colheres de vinagre, um raminho de poejo ou erva peixeira.
Numa terrina, corta-se pequenas fatias de pão, de preferência caseiro.
Adiciona-se os ingredientes e deixa-se estar tapado durante alguns minutos.

Fonte: Notícias do Carvalhal
Autora: Gracinda Ribeiro

Resposta a uns amigos III

Consta que pelas vossas cidades a vida está muito difícil. Que as pessoas andam tristes e aborrecidas.
Nós por aqui nada nos falta.
Mando-vos mais uma ilustração como se vive neste paraíso, como lhe chamais.
Deixai de ser urbanos sofisticados, venham respirar o ar puro da nossa aldeia, em vez de mergulhados em tubos de escape.
Venham admirar paisagens com coloridos típicos das quatro estações do ano, em vez de pequenos jardins e espaços verdes organizados.
Venham sentir o cheiro da terra molhada ou orvalhada nos finais da Primavera, o crepitar da madeira, a arder na lareira, nas primeiras noites de Inverno.
Venham até aqui. Por estas bandas onde o sol no Verão é mais quente. Sol que abrasa as faces desta gente raiana. Ou no Outono, como diz o poeta -“As folhas caídas do teu arvoredo, são lágrimas vivas que o vento dispersa”.
Venham, Façam destas terras refugio para esquecer o urbano e abandonar a rotina, aqui, onde a memória se entrelaça com a tradição, os sabores e a rusticidade.
Pois meus caros!!. Continuai a chamar-me provinciano, porque me honra e me dá muito prazer.
Já Eugénio de Andrade dizia: “Dizem que há outros céus e outras luas, e outros olhos densos de alegria, mas eu sou destas casas, destas ruas, deste amor a escorrer melancolia”
Despeço-me à moda cá de riba. Até um dia amigos. Que Deus vos guarde.

Fonte: Notícias do Carvalhal
Autor: O Raiano

História da nossa gente de outras eras

A lua levantou-se calma sobre as estrelas, cheia e brilhante, deitada num tapete azul-escuro, beijando as canas e os arolos do milho que mulheres e homens descamisavam em frente ao “tronco”.
Rapazes e raparigas daquele tempo, adoravam ouvir o ti Manuel Gaspar pai de Josefa Maria Pereira, um contador de grandes galgas, só ombreado no feminino pela tia Sebastiana, também com fama de grande aldrúbia. Já com a alvura de muitos Invernos, o ti Gaspar gostava de ter rapazes e mulherio à sua volta dando-lhe o briol da casa e contando, de forma séria, exageradas façanhas que faziam rir as pedras da calçada.
Rapaziada! Ontem mandei fazer uma caldeira ao ti António cigano e não é que passa uma ave tão grande, tão grande, tão grande que o homem fez a caldeira à sombra das asas do pássaro que passava! A seguir todos riam a bandeiras despregadas com a esparrela.
- Grande pássaro esse ti Manel gracejava a Maria Ana.
- Na volta se calhar era um milheiro ti Manel! dizia o Manuel Joaquim a rir.
– Venha daí mais um copo dizia o António Justino.
Todas aquelas narrativas afinavam a fantasia de qualquer jovem e tinham o dom de facilmente transportar as crianças para um mundo mágico.
Oh ti Gaspar, conte lá como conseguiu caçar cinco perdizes e uma lebre só com um tiro, pedia a Ascenção Ana!
Ohme essa! Pois foi muito fácil! Um dia fui à caça ali para os lados dos moinhos, enquanto fui “armar a trápa à raposa”, deixei a lazarina debaixo de uma giesta. Sem saber, um verdugo entrou-me num rufo para dentro do cano da arma. De repente passa por mim um bando de perdizes e eu não faço mais nada, agarro na reluna que estava escarvada e tau, um tiro fora! Atirei uma chumbada ao bando. Ora nisto saiu também o verdugo que como um mangual doido, largou às sarabandas pelo meio do bando, vergastou e deitou abaixo cinco perdizes. Por sorte uma das perdizes foi cair em cima da cabeça de uma lebre que estava acaçapada na lora e estrafego-a também. Foi uma das melhores caçadas da minha vida.
Todos riram mas o ti Gaspar mantinha-se sério em sinal de superioridade. Pensa-se que ele não acreditava naquela e noutras façanhas fantásticas, mas que usava habilmente a sua fantasia para atrair os jovens para a sua beira!
E continuava ...
Sabes que uma vez, andava eu ali para os lados da Galafura, perto do talefe, era já lusco fusco, não é que um cabrão de um lobo me veio abucanhar uma cabra pelo cachaço, ali quase nas minhas barbas! Com catano, tinha um cacete de marmeleiro nas unhas, pus-me ao lado da cabra em posição de cernelhe, afinfei-lhe uma valente bordoada no lombo que o fez borrar todo e obrigou-o a largar a carniça. Quando ele ia a fugir, acagaçado de medo, atirei-lhe o cacete que tinha nas mãos, que quase parecia a moca aqui do meu lagar e não é que o brejoeiro se foi enterrar mesmo no meio das nalgas do lobo?! Pois é, e a história não fica por aqui! No ano seguinte vi esse mesmo lobo, mas em vez de vir com o fueiro espetado nas nalgas, trazia todo vaidoso, um pequeno marmeleiro cravado, onde o lombo muda de nome, cheio de folhas e já com dois grandes marmelos maduros!
Oh ti Gaspar isso é que foi pontaria - dizia a Emília Monteiro perdida de riso!
Então e os marmelos estavam no marmeleiro ou estavam no meio das patas do lobo! - Dizia a Rita Monteiro a rir.
Novamente todos se riram, mas agora da brejeirice da Rita.
E as histórias assombrosas e intermináveis do ti Gaspar continuavam noite dentro.
Num nítido sinal de superioridade assumida o ti Gaspar nunca ria das suas façanhas já que a seriedade sempre foi irmã do poder e daquilo que as pessoas julgam ser verdade.
- Bem rapaziada, posso gabar-me que tenho a junta de bois mais valente de todas as redondezas. Andava a lavrar muito bem uma terra centeeira ali
nas Eiras e não é que os bois me fogem com o arado para cima da eira. A rêlha enfiou-se bem fundo na pedra, mas pensais que isso fez parar os meus bois? O Possante levava a meia correia e assim mesmo deixaram um rego na pedra do tamanho de dois palmos.
Todos riram da imaginação do ti Gaspar pois sabiam bem que o homem não tinha bois e apenas duas vacas e que o rego que de facto existia na eira das Eiras, era um sulco talhado na pedra e estava lá desde o início dos tempos.
- Então, já que estão a gostar, ainda vos conto outra, sobre os meus bois!
- No ano passado fui vender o pão à praça da Guarda, com o chedeiro carregado de cagulo a fazer uma chiadeira infernal, passei por muitas terras deitado em cima do lombo do Possante, que levava a meia correia. A gordura do boi era tanta que eu ficava enterrado nela, e as pessoas nas aldeias por onde passávamos diziam pasmadas:
- Que rica junta de bois que aqui vai e não levam lavrador!
- E eu respondia lá de cima: Deixai ir os bois que cá vai quem os toca!
A gargalhada foi geral!
- Depois de chegar à praça da Guarda, ali uns do Manigoto, como não conseguiam o preço que eles queriam, deitaram fogo aos sacos do centeio, mas depois Deus castigou-os pois não tiveram colheita nos três anos seguintes e ainda tiveram que pagar a renda ao patrão que soube da queima do grão na praça da Guarda. Nesta época de tanta miséria, estavam mesmo a pedir o castigo de Deus.
E de repente toda a gente ficou séria e concordou com o ti Gaspar, com acenos de desagrado.
E logo de seguida o António Paulo pediu:
-Oh ti Manel conte lá aquela da raposa manhosa!
-Outro dia fui à corte que tenho nas Lajes Pintas que está encostada ao barroco grande, onde costumo deixar os borregos para serem vedados.
Abri a porta e escancaro com quatro borregos mortos e a gaja estendida no chão.
- Acontece que a raposa encarrapitou-se pelo barroco acima e entrou por uma nisga do telhado e depois pulou lá para dentro e matou e comeu nos cordeiros até se fartar.
Ajudengado, fartei-me de praguejar e até berrei:
- Grande puta, não bonda o que comeste, ainda me mataste os borregos, ainda bem que rebentastes!
- Nisto agarrei no rabo da raposa, que me parecia que tinha perdido o cheadoiro e atirei com ela para a rua. Oh pernas para que vos quero!
- Quando ela se encontrou livre, levantou-se a catrâmbiar e era ver a desalmada a correr pelo meio do restolho, que até parecia que lhe saía fogo pelo traseiro. Fugiu para os quintos dos infernos e nunca mais a vi!
- Com catano, nunca nenhum machacaz me engazupou como esta raposa!
E quando a lua já ia alta o ti Gaspar, já pingado como os demais, dizia:
- Bem rapaziada vamos mas é para o vale dos lençóis que amanhã é dia de trabalho!
Depois com a brisa a soprar dos lados do Freixo, ouvia-se o uivo dos lobos, talvez lá para o Vale do Pombo, um som triste e medonho que cortava a noite e desafiava o mais afoito, só amenizado pelos sons calmantes e próximos dos grilos e dos “lopes”, que ontem como hoje embalam as noites quentes da nossa aldeia.

Fonte: Notícias do Carvalhal
Autor: António Almeida Matias

Quem espera desespera

O homem andava um pouco triste. O dia da sua vindima estava prestes a chegar e a mulher tardava em aparecer.
Por motivos imprevistos estava impedida de se ausentar da cidade Invicta. Ele, certamente, já teria levado as mãos várias vezes à cabeça a pensar como se iria desenrascar.
Mas os amigos deram a ajuda necessária.
Fonte: Notícias do Carvalhal

História de uma pedra

Anos após anos, décadas e mais décadas, serviu de assento para que a mó movida pelas águas da Ribeira das Cabras, transformasse em farinha o cereal das gentes do Carvalhal e outras aldeias vizinhas, no moinho que foi propriedade de José Pedro; Pedro moleiro; José Samuel e presentemente do casal Mário e Glória Ferro.
Já gasta, serviu ainda de manjedoura, onde depositavam a ração que alimentava as mulas, quando aguardavam pelo transporte da farinha.
Em 01-10-09, terminada a vindima do nosso conterrâneo e amigo Joaquim Pires, depois de um belíssimo almoço, nada melhor do que um café na associação acompanhado de um bom digestivo. Conversa puxa conversa, alguém sugere ir aos moinhos para transportar as pedras que na véspera nos tinham sido oferecidas. Tratava-se de preservar referências com imensas recordações, vividas por inúmeras gerações e fazendo parte da história do carvalhal. Como as fotos documentam, não foi tarefa fácil. Foi necessário observar e conferenciar para que a operação tivesse o êxito desejado. Entendeu-se que ficariam bem junto à Mija Velha, no Tronco e uma outra junto à área museológica.
São referências que perpetuarão vivências dos nossos antepassados, contribuindo de uma forma inegável, para o alindamento e valorização da aldeia.
Da parte da associação, deixamos um agradecimento a todos os intervenientes.
Fonte: Notícias do Carvalhal
Autor: Joaquim Ribeiro

Galeria

É mais um espaço que abrimos no nosso jornal com o intuito de maior participação dos nossos leitores. Poderá contribuir com lembranças do passado, eventos referenciais da nossa comunidade ou relativos a pessoas.
Se desejar mostrar e participar, basta enviar a foto para o nosso endereço electrónico ou cedê-la por empréstimo.
A que hoje publicamos, foi-nos cedida por uma simpática senhora da nossa terra. Todas as pessoas da foto, foram e são do carvalhal.

Fonte: Notícias do Carvalhal
Autor: Joaquim Ribeiro

Cruzeiro da Faia

Quem passar pelo caminho que liga o Carvalhal ao Pereiro, na zona da Faia, próximo da fonte da moura, local onde se pode visitar sepulturas rupestres e uma lagareta, ou segundo informação de outros observadores, um lugar de sacrifício em honra das divindades da época, encontrará o marco cuja fotografia publicamos. O mesmo perpetua a morte acidental de José Louro, que foi natural do Pereiro.
Numa deslocação que este fez ao Carvalhal, para recolher um cão de caça que o amigo Francisco Domingos lhe tinha oferecido, fez-se acompanhar da sua velha espingarda de um só cano, carregamento pela boca e de cão saliente. Não querendo levar a arma para o Carvalhal, escondeu-a num silvado junto ao caminho, no lameiro que pertencia a António Pedro (moleiro). Inadvertidamente colocou-a de forma que o cano ficou virado para o exterior do silvado.
Após dois dedos de conversa e uns copos bem bebidos em casa do amigo Francisco Domingos, regressou já noite dentro, levando pela corda o referido cão de caça.
Chegado ao local onde tinha deixado a espingarda, e sem pensar no perigo, puxou pelo cano, sendo o tiro disparado. Teve morte quase imediata.
Só no dia seguinte, quando a jovem Maria Pedra foi levar as mulas ao lameiro, e estas recuaram por instinto para não pisarem o cadáver, deu conta do sucedido, regressando a dar a noticia à povoação.
Após se dar conhecimento aos familiares, o corpo teve que se manter no local até ser observado pelas entidades oficiais, o que só aconteceu no dia seguinte, dado que todo o percurso de Pinhel ao local tinha que ser feito a pé. Assim, apesar de ser em Fevereiro, numa noite fria e muito chuvosa, foi necessário que o regedor do Carvalhal, na altura: José Sebastião Gaspar, coordenasse todo o trabalho de guarda, feito por dois homens que se rendiam de duas em duas horas, dado que o sucedido, foi dentro da jurisdição do Carvalhal, embora a escassos metros do ribeiro Chão da Velha, onde esta terminava. Foi necessário construir choças improvisadas para resguardar aqueles que tiveram de passar junto ao cadáver, um dia e uma noite.

Fonte: Notícias do Carvalhal

Autor: Vasco Pereira Gaspar

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Conto de Natal


Nas pedras escalavradas da rua, a neve caía em flocos alvos e grossos há mais de três horas. O Ti António, com a sua idade avançada, contemplava, com os olhos embaciados de tristeza e encostado aos vidros da pequena janela do seu quarto da cama, os campos ao redor, já branquinhos como lençol do bragal de noiva casadoira.
Já há setenta anos, tantos quantos ainda retinha a sua memória, que não caía um nevão assim, tão grande, precedido por um frio glacial. A água gelara há mais de uma semana no chafariz da Lameira e no poço da Olga do Navalho. O nabal, ali bem perto de casa, ficara num ápice completamente branco. Os pinheiros da encosta da Galafura estavam dia e noite a rugir, sempre ameaçadores, tal era a intensidade e força do vento.
Decerto, iria ser um Natal bem frio. E o bom ti António, de cabelos brancos e tez enrugada, tinha todas as razões para andar com o coração gélido. E, dizia de si para si, com amargura e nostalgia:
- Ai Manel, Manel, meu único filho, nem pelo Natal te lembras deste pai velhinho e de tua mãe que continua entrevada numa cama desde o dia em que viste a luz do dia naquele amaldiçoado hospital! Tu nasceste robusto, a tua irmã gémea vinha já nado-morta e a tua mãe, só não deu a vida por ti porque Deus não lha aceitou. Mas, ela, Manel, deu a saúde e a alegria de viver por ti. E tu, lá tão longe, em Angola, nem escreves, nem dás novas à gente...
Entretanto, mais calmo e com as lágrimas a assomarem-lhe nos olhos encovados e baços, dizia amargurado e engolindo as palavras salivadas com a dor provocada por aquele nó na garganta:
- Talvez já estejas morto a esta hora nalguma emboscada no mato.
Com as ideias desalinhadas na sua mente, o bom do ti António voltava às conjecturas:
- Eu, quando estive no norte da França, na grande guerra, escrevia todas as semanas umas letras à minha boa mãe, que o Senhor guarde em sua santa paz. E agora, com tantas facilidades e rapidez do correio, tu, Manel, nem um postalzito escreves!
E o bom do velho voltava a olhar para o longe, lá para os lados do Azinhal, tentando atingir com o pensamento quiçá o território da Angola distante, que o filho, soldado raso, defendia com coragem e abnegação, embora ele, pai, nunca entendesse muito bem por que é que os grandes do mundo fazem as guerras e são os pequenos a sofrer e a ser carne para canhão!
Mas, alquebrado, e sem vontade nenhuma de reagir, continuava a chorar amargamente:
- Ai que Natal tão triste aí vem! Entre estas quatro paredes velhas e negras de fuligem aqui estamos dois velhos abandonados: uma já inválida há tanto ano e, eu, a arrastar-me já com muito custo. Ai que Natal tão triste aí vem! E como será o daquele filho, meu Deus?
Deixou cair a cabeça entre os braços e encostou-a às húmidas e gélidas vidraças da janela. E, assim esteve bastante templo, numa contemplação cega do infinito, talvez a sonhar, sempre a chorar...
Era já o início da noite quando batem à porta. De Pinhel tinha chegado o Joaquim Pontinha, estafeta dos correios e amigo de toda a gente, e trazia-lhe um aerograma.
-É de África, ti António! É bem capaz de ser do seu Manel.
- Ó Jaquim, então dizes que é do meu Manel? Abre-o já tu, homem. Que a mim até as pernas me tremem e as mãos se me engaranham!
E enquanto o Joaquim Pontinha tirava o aerograma do bolso interior da sua samarra, o coração do ti António batia com a cadência da sua juventude. O estafeta abriu-o e leu-lho alto, também ele a chorar de emoção: "Pai, saio hoje de Luanda. Vou de avião passar o Natal convosco. Chego ao Carvalhal dia 24. Beijos à mãe e a si. Vosso filho Manuel."
O Ti António saiu dali num ápice, foi acender a candeia, correu para o quarto a levar a boa nova à esposa. Ouviu-se um choro convulsivo de ambos, mas sabia-se já que eram lágrimas de emoção e de alegria. A mãe Sebastiana murmurava lá do seu leito: - Valeu a pena dar a saúde por aquele filho! Ao que o ti António replicava: - O rapaz saiu ao pai!
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No dia seguinte já toda a população do Carvalhal era conhecedora da boa nova. E todos, num gesto de solidariedade e de amizade - como, desde antanho, é timbre dos naturais desta terra de boas e honradas gentes - começaram a fazer filhoses, rabanadas e outras doçarias para quando o Manel chegasse, pois, coitadinha, a Sebastiana, entrevada, não as poderia fazer. E nada faltou na mesa do Natal em casa do ti António. No Mundo inteiro não houve nesse Natal um calor humano tão afectivo, tão intenso e tão solidário como no Carvalhal.

(Conto de ficção escrito e publicado há 50 anos por A.V., filho da ti Ricardina Simões, do Carvalhal)

Fonte: Notícias do Carvalhal

Autor: Abel Virgílio Simões

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O último pastor


O dia corria frio e entre amigos comentávamos como era andar no campo guardando o rebanho num dia de neve como aquele que se estava desenhando, eis senão quando o nosso amigo Zé resolveu posar para a foto procurando retratar os seus tempos de pastor quando ainda jovem.
Foi o último pastor do século XX no Carvalhal, já que alguns anos antes o ti Joaquim Jerónimo, meu pai, e o ti Carlos da ti Isabel Rebela tinham vendido os seus rebanhos, com a fuga para França, de forma clandestina, do António Gil, meu irmão e dos irmãos Zé e António Rebelo.
Claro que o Zé não se vestiu a rigor, esqueceu-se de trocar de botas e de colocar "polainas" feitas de plásticos atados com cordéis que se arranjavam das sacas de adubo que era deitado às cearas de centeio no final do Inverno. Com este remedeio no aproveitamento das sacas de plástico sempre se poupava "algum" na compra de polainas de cabedal que eram um luxo pouco acessível por aquelas paragens e naquela época.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carnaval 2010


O Carnaval no Carvalhal caracterizou-se por um período de intenso frio e veio a culminar em queda de neve no dia 15, vésperas do dia de Carnaval.
Se para outras paragens, nomeadamente, na Serra do Caramulo se registou um grande nevão; no Carvalhal limitou-se a pintalgar de branco alguns lugares, sem que no entanto se possa considerar ter havido um nevão, mas tão só uma ligeira queda de neve.
O frio que se fazia sentir foi "atacado" pela braseira permanente que constituía a lareira da casa do povo sempre aberta ao convívio de todos, graças ao trabalho de alguns amigos que trataram de rechear o centro de convívio com grande quantidade de cavacos de carrasco, em prol do bem estar de todos.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Vamos lá procurar uma solução.

Orgulhamo-nos de ter um museu, ali bem perto, mas há anos que este tonel espera por restauro e um local mais adequado para ser conservado.
No local onde está e, como está, não dignifica a associação.
Vamos lá tentar encontrar uma solução...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Gerações


O avô Joaquim com o neto Ricardo, o mais novo à data da foto. Ainda não havia calçada mas havia flores bem cuidadas dando cor e alegria à rua; hoje passeamos pela calçada mas o avô deixou de cantar e a avó já não tem força para segurar no regador...

Aqui fica o elo de gerações plasmado numa fotografia. Ao pai, sempre presente, direi que o neto o deve ter como uma referência pelos valores que sempre transmitiu ao filho.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Vozes de animais

"Palram pega e papagaio,
E cacareja a galinha;
Os ternos pombos arrulham,
Geme a rola inocentinha.

Muge a vaca, berra o touro,
Grasna a rã, ruge o leão
O gato mia, uiva o lobo,
Também uiva e ladra o cão.

Relincha o nobre cavalo,
Os elefantes dão urros,
A tímida ovelha bala,
Zurrar é próprio dos burros.

Regouga a sagaz raposa
Bichinho muito matreiro;
Nos ramos cantam as aves,
Mas pia o mocho agoureiro.

Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar;
Fazem gorjeios às vezes,
Às vezes põem-se a chilrar.

O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar:
Como os ratos e as doninhas
Apenas sabe chiar.

O negro corvo crocita,
Zune o mosquito enfadonho;
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.

Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir;
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.

Bramem os tigres, as onças,
Pia, pia, o pintainho;
Cucurita e canta o galo,
Late e gane o cachorrinho.

A vitelinha dá berros;
O cordeirinho, balidos;
O macaquinho dá guinchos,
A criancinha vagidos.

A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima
Se encontram, em pobre rima,
As vozes dos principais."

Literatura Infantil