terça-feira, 29 de julho de 2008

Notícia extraida do Jornal "A Guarda" de 08/02/2007

Joaquim Ribeiro e Natércia Lourenço

A notícia que aqui se transcreve, embora diga respeito a um evento já passado, faz parte da história do Carvalhal, razão porque me merece que seja mais uma vez aqui realçado o evento, assim como as informações prestadas pelos meus conterrâneos.


Arquivo: Edição de 08-02-2007
SECÇÃO:
Pinhel
Carvalhal de Atalaia, terra de tradições
“Uma aldeia exemplo, no concelho de Pinhel A Câmara Municipal de Pinhel escolheu a localidade de Carvalhal de Atalaia, localidade anexa da freguesia de Atalaia, para palco da apresentação pública do programa da edição da XII Feira das Tradições e Actividades Económicas de Pinhel, a realizar nos dias 16, 17 e 18 de Fevereiro sob a temática “Expressões Artesanais da Vida Rural”.A escolha do local, segundo o presidente da Câmara, António Ruas, ficou a dever-se ao facto de Carvalhal da Atalaia ser “uma das aldeias mais pequenas” do Concelho mas “é uma aldeia exemplo” em matéria de tradições e de recuperação de habitações. De facto, a aldeia que chegou a ter 500 habitantes e tem nesta altura menos de 40, possui uma grande actividade cultural proporcionada pela Associação Desportiva e Cultural “Os Amigos de Carvalhal”, presidida por Vasco Gaspar que criou uma área museológica que merece ser visitada.Na noite da apresentação do certame, o forno comunitário da aldeia voltou a ser aquecido, para satisfação dos presentes. Vasco Gaspar explicou então que o forno, antigamente, era “o clube” da aldeia. “Era o lugar onde se passavam os serões. O forno cozia toda a noite e todo o dia. As mulheres fiavam o linho e os homens faziam as decisões públicas no forno, como compor caminhos e a distribuição da água”.“Era o clube, era o lugar de reuniões e de acolhimento a todos os mendigos que passavam por aqui. Os caldeireiros e os pedreiros também aproveitavam o abrigo e calor do forno, porque a porta estava sempre aberta”, recordou o dirigente.Forno comunitário voltou a cozer pãoNaquela noite, Manuel Albino Pereira, de 70 anos, voltou a “aquecer” o forno onde foi cozido pão tradicional. “Daqueles que aqui estão, fui a pessoa que nasceu mais perto do forno e tenho que guardar a tradição”, atirou, referindo que “há mais de 40 anos que não metia lenha ao forno”.Para este habitante, “a evolução dos padeiros virem pelas portas”, acabou com a tradição “porque isto dá muito trabalho, é preciso ir à lenha e as mulheres têm que estender e amassar o pão e já não há pessoas que estejam em condições para fazer isso”. “Quando era aqui fabricado aquele pão centeio que era produzido nas terras e não levava adubo nem nada, o sabor era outro”, recordou.Já em relação ao seu trabalho, descreveu-o da seguinte forma: “Temos que ir à lenha e duas horas antes de se começar a preparar o pão temos que começar a aquecer o forno. É preciso estar sempre aqui a meter a lenha e com uns paus a arranhá-lo, como nós dizemos, que é para o pão não agarrar e ficar melhor”.Por sua vez, Natércia Lourenço, 77 anos, amassou o pão, coisa que também já não fazia “há 40 anos”, porque emigrou para a França e os habitantes da aldeia deixaram de dar utilidade ao forno. O trabalho da “amassadeira” está agora mais facilitado, pois como refere “agora a farinha já vem peneirada, mas antigamente era preciso peneirá-la”. “Peneirar o pão, depois amassá-lo e depois tendê-lo para o metermos ao forno”, eram as tarefas das mulheres, que, uma hora depois, retiravam o pão já cozido do seu interior.Natércia Lourenço estava muito contente naquela noite, pelo facto da terra ter mais vida do que o habitual. “Temos cá pouca gente, mas hoje temos cá muita”, referiu ao Jornal A Guarda, recordando que os mais novos da terra emigraram, outros foram para Lisboa e para a Guarda e “não querem saber disto”. “Quando nós morrermos, isto acaba tudo”, vaticina a mesma habitante de Carvalhal da Atalaia.

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