quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Pistolão

Passados alguns anos após o seu regresso do Brasil, o nosso amigo, levava uma vida completamente integrada e quando já com um grãosito na asa, começava a contar as peripécias fenomenais vividas Além –Atlântico, ora no Ceará ora na densa e perigosa selva Amazónica ,vinha sempre à baila , que o que sempre o salvara nestes críticos momentos de desespero fora sempre o seu pistolão. O problema é que ninguém lhe tinha posto a vista em cima.Ora o “cara” Bonifácio tinha uma Olga no Bico, que por diversas vezes era visitada pelas famintas vacas do Vasco do Azinhal. Como é óbvio o prejuízo dessas visitas era mais que muito!... Vociferava o Bonifácio que se as apanhasse na Olga, que com o pistolão matava as que lhe apetecia e que não tinha medo de ninguém, com o pistolão isto, com o pistolão aquilo !..., mas vê-lo, é que nada !....Ora numa certa noite, daquelas que não havia nada para fazer, eu e mais dois compinchas, lá vamos nós a casa do Bonifácio. É hoje que tem de nos mostrar o pistolão!...Depois de nos mandar entrar, lá nos sentámos à lareira e conversa daqui, banalidade da colá, mais um caneco para aconchegar e eis que se solta o repto :-Oh ti António, dizem as más línguas que tem para aí um pistolão que trouxe do Brasil, mas é tudo mentira e é tudo para nos meter medo não é?!......-Ai é !... Ai é!..., não tenho, não tenho, já ides ver se o tenho ou não!...Levantou-se bruscamente do banco de madeira e enquanto praguejava a bom praguejar, dirigiu-se em passo acelerado para a arca de centeio que se encontrava à entrada da casa e que fazia parte do mobiliário. Num ápice abriu com raiva felina o tampo da mesma, mergulhou o braço na dita e retirou de lá o tão afamado pistolão. Lá estava ele bem agarrado, esbracejando ufanosamente nas mãos do dono, para que todos o pudéssemos contemplar!...-Oh tio António,!.. mas isso não dispara!... é só fogo de vista!...-atirou um de nós à queima - roupa.- Ai não dispara, não dispara, já ides ver se dispara ou não!...Com destreza, puxa-lhe os cães para trás, dá dois passos na nossa direcção, vira-se para a arca do centeio e perante a nossa estupefacção puxa o gatilho e PUM !.....O eco do estrondo entranhou-se de tal maneira nos nossos ouvidos que por segundos ficámos completamente alucinados. Ainda não nos tínhamos recomposto do susto e já vociferava de novo o “cara”: - Ai não dispara !... Eu já vos mostro!..... e num repente voltou a repetir a operação e o estrondo arrasou-nos e convenceu-nos de tal maneira que nem um pio se ouviu das nossas bocas.Foi o culminar da sua vitória sobre os boatos da sua estimada arma. Dois grandes buracões confirmavam nas tábuas da arca de centeio que o rombo era mesmo a sério. Por eles esgueiravam-se rapidamente os grãos de cereal que tanto custaram a entrar na arca. Após saborear aqueles momentos de glória acordou o Bonifácio para a dura realidade e exclamou :-Eh cabrões do diabo!.... Além de me obrigarem a gastar o meu arsenal ainda me lixais o pão!.... Escondido o fumegante e quente pistolão lá foi tapar os dois buracos com uns farrapos que estavam ali à mão de semear. Ainda hoje perante um qualquer aperto se recorda : - Ai quem me dera ter à mão o pistolão do Bonifácio.!.....A propósito por onde andará tamanha maravilha?...




Autor: Joaquim Amaral

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