sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O Cavaleiro

Uma das especialidades apregoadas pelo nosso amigo Bonifácio, é que era um exímio cavaleiro. Aprendeu esta arte de bem cavalgar toda a sela, com os belos exemplares que possuía na sua enorme xácara nas longínquas terras de Vera Cruz.

Na nossa aldeia, como amostra da raça equídea, possuía uma burra preta de sangue afinado, e, assim que o dono lhe saltava para o pêlo, a velocidade era sempre a do galope. Era ver o Bonifácio de braços abertos com o inseparável chapéu de feltro preto bem enfiado nas orelhas, incitando com gritos o animal, percorrendo vertiginosamente o estreito e sinuoso caminho em direcção à cozinha do azinhal, desaparecendo num ápice rumo às olgas do Bico.

Ora numa bela e quente tarde de verão, estava o pessoal sentado no largo do Oitão a gozar a sombra à beira da casa do tio Zé Jaime, quando na curva do caminho junto à casa do Joaquim Oliveira surgiu o Bonifácio e a sua montada em louco galope, demonstrando assim a sua destreza nesta arte de bem cavalgar. Eis senão que por artes do demo, a burra que tinha tanto de afinada como de espantadiça, cravou as patas dianteiras no chão, alçou as carchanetas e …zás …lá sai disparado o Bonifácio, qual disco voador, pelas orelhas empenichadas da burra, pespegando-se violentamente contra o chão. Que malhadão!....

A burra assustada saltou por cima do cavaleiro e em louca correria dobrou a esquina em direcção à corte das vacas. Num repente, deslocou-se o pessoal para o local onde já o Bonifácio desfeito do susto inicial sacudia o pó do corpo e enquanto apanhava o chapéu disparou alto e bom som:

-Aprendei como se cai, que eu não duro sempre!....

Limpou melhor as mãos sujas de terra, reactivou a pirisca ao canto da boca e ainda meio cambaleante e aturdido pela queda, passou altivo pelo meio da gentiaga, e lá foi à procura da burra, que já sabia que de umas valentes varadas não se livrava.


Autor: Joaquim Amaral

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