sábado, 30 de agosto de 2008

Sempre matreira




O eco propagou-se até à margem direita da ribeira, desde a
ponte do bico às olgas do porto. O tiro, de tão afamado caçador, tinha sido certeiro e ela tombou junto às moitas, nas lapaçeiras.
Aproximou-se, com o cano da caçadeira fez-lhe deslizar a cabeça e, não restaram dúvidas. Ela estava morta.

-Bem morta -pensou ele.
Num ápice deita-a às costas e arrepia caminho em direcção às tapadas do lobo, ruma à cozinha do azinhal, para alcançar rapidamente a sua casa no centro da aldeia.
Os cães que o acompanhavam faziam constantes investidas e só não se lançavam a ela porque o Zé os acalmava e lhes dizia:
- Estejam quietos, está morta, não sejam estúpidos.
Eles, porém, continuavam a arreganhar os dentes e com vontade de se atirar a ela, sendo as investidas constantes.
Mas da raposa, nem um sinal, mantinha-se bem quieta, não fosse o Zé descobrir e dar-lhe um segundo tiro. Pacientemente, aguardava pela melhor oportunidade
Chegou a casa e junto às escadas, resolveu o Zé atirar com ela para o chão, já lhe pesava nas costas. Era chegada a altura de lhe tirar a pele, que bem vendida, sempre dava para comprar mais uns bons maços de tabaco.
Mal se apanhou no chão, ala que se faz tarde...foi vê-la esgueirar-se pela rua do fundo do lugar, rapidamente perseguida pelos cães que só a conseguiram apanhar já depois da casa da Celeste.
Tinha enganado o caçador, só não conseguiu enganar os cães que se mantiveram atentos à sua matreirice e, não fossem eles, o Zé "Cainadinha" lá ficava por mais algum tempo sem dinheiro para o tabaco.

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