quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Chafariz

O chafariz da Lameira situado no centro da aldeia.
Lugar onde matávamos a sede. Local de encontro e de confraternização. Local onde muitas raparigas, enquanto enchiam os cântaros ou os regadores de água, ouviam piropos lisongeiros da rapaziada. À sua volta correram centenas de crianças que jogavam às escondidas. Em seu redor colheram-se ensinamentos e receberam-se conselhos dos mais velhos. Enquanto o balde ou regador engolia a água que iria para as modestas cozinhas da aldeia, aproveitavam, as mais velhas, para fazer corte e costura das vizinhas, inventando namoros às moçoilas que muitas vezes, coitadas, ainda nem conheciam as virtudes e sensações de um beijo picante.
Estou certo que não haverá um nascido no Carvalhal que não tenha dentro de si uma bela recordação do chafariz da Lameira...
Chafariz do Cimo do Lugar
Recorte simples, linhas direitas, granito trabalhado; em redor, bancos acolhedores, fazem do chafariz de cimo do povo uma das construções mais bonitas da aldeia.
Quando houver oportunidade divulgarei aqui também a imagem do chafariz do Fundo do Lugar.
O trio de chafarizes que há na aldeia são, no seu conjunto, a memória do tempo em que o povoado não tinha rede de abastecimento de águas às habitações. Os habitantes carregavam as vasilhas e abasteciam-se da água, gratuitamente, que jorrava das torneiras dos chafarizes. Nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado, a aldeia embora povoada por centenas de consumidores não sabia o que era restrição ou falta de água.
Estranhamente, ou talvez não, com a migração veio um período, ainda longo, em que secaram as torneiras dos chafarizes.
Para muitos, a escassez de água foi motivo de distanciamento da sua terra natal, já que no verão, por vezes havia racionamento do precioso líquido, o que causava desconforto, incomodidade e falta de condições mínimas de qualidade de vida.
Há cerca de um ano, finalmente, os carvalhenses foram bafejados com o abastecimento de água potável, sem cortes no abastecimento; o que contribuiu para a melhoria da qualidade de vida e bem estar dos residentes e dos visitantes.
O Carvalhal ficou mais acolhedor e mais rico.
Os chafarizes são a memória de um passado em que se misturou o encanto e a alegria de ver uma aldeia a fervilhar de gente jovem e muita pequenada com a vida difícil do amanho das terras sem rendimento capaz de fixar as gentes ao local.

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