domingo, 12 de outubro de 2008

O pão (4) As ceifas


Nos meses de Junho e Julho, vinha o trabalho mais difícil, as ceifas. Para que o trabalho fosse menos penoso, faziam-se trocas, (eu ia ceifar um dia para o vizinho e ele vinha outro para mim) e assim se juntava um rancho de vinte a vinte e cinco pessoas, para ceifar, mais três ou quatro homens para atar os molhos do pão. Tínhamos de estar na seara ao nascer do sol. Comíamos a côdea, que era o pão com queijo ou chouriça; às nove horas já íamos olhando para o caminho, para ver se alguém aparecia com o pequeno-almoço. Continuávamos o dia, rego a pós rego, até chegar o almoço, seguido de uma pausa de uma hora. Recomeçávamos o trabalho; torna a pós torna, sob o calor ardente próprio da época.
Para esquecer as dores das costas e dos pulsos, alguém começava a entoar uma canção a que todos os outros se juntavam e assim se ia aliviando o cansaço. Ao fim do dia todos participavam no juntar dos molhos e, um ou dois homens faziam os rolheiros, pois era preciso uma certa técnica; as espigas sempre viradas para o interior e terminá-lo com inclinação, as espigas tinham de ser protegidas de uma eventual tempestade.
O dia de trabalho só terminava ao pôr-do-sol.
Pelos caminhos de regresso a casa ainda havia a boa disposição para cantar, brincar ou chalacear uns com outros.
Eram precisas duas mulheres para preparar as refeições e levá-las ao campo. Terminadas as ceifas, cada um ia recolher os seus rolheiros e levá-los para a eira. A recolha era feita em carros de bois.
Texto de Maria dos Anjos Oliveira

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