quarta-feira, 2 de abril de 2008

Raízes

Tem sido com especial agrado que tenho lido o “Notícias do Carvalhal”.
Começou ténue, mas hoje afirma-se como um instrumento fundamental de comunicação entre todos nós.
Confesso até que alguns episódios pitorescos trazidos à memória colectiva pelo meu grande amigo Joaquim Amaral me fazem transbordar de riso hilariante quando os leio no meu escritório num momento de descontracção entre a análise de um enfadonho acórdão e um telefonema de um cliente mais aflito.
Aquele momento de leitura traz-me à memória momentos de infância e juventude, deixa-me feliz ao recordar aquele universo delimitado pelo horizonte e circunscrito pelas paisagens que podemos apreciar quando nos encontramos no “Cavaleiro” ou nos transportamos até à “Cozinha do Azinhal”.
Se fecharmos os olhos por uns instantes, somos invadidos pela recordação do nosso passado vivido nas entranhas da nossa querida aldeia. Recordamos alegrias e prazer sem esquecer as lágrimas vertidas; mas estou certo que finalizamos o momento com um sorriso e com saudade.
Saudade, porque somos positivos e elevamos o bom para desvalorizarmos o mau. Com um sorriso transbordante, porque nada é mais forte na nossa memória do que as alegrias sentidas nos primórdios da nossa vivência. É inesquecível um jogo de futebol ao luar de Agosto ou a aventura de um furto comparticipado, assumido de forma espontânea, numa vinha ou cerejeira mais colorida de gotas cor de púrpura e que de noite se transformavam em sobremesa que escasseava na ementa da “ceia familiar”.
Quando criança, correndo atrás das ovelhas e das cabras, embrulhado na manta de pastor para me proteger da chuva copiosa que se abatia durante todo o dia no Inverno ou quando me dirigia à “Galafura” ou às “Trigueiras”, no Verão, atrás das vacas, e ouvia o ruído das cigarras anunciar um dia tórrido, sempre que via no horizonte um avião, pensava com os meus botões… ali vai o filho da senhora Rita, “o aviador”.
Que importante deve ser esse homem, pensava eu, fedelho que olhava para o infinito e sentia a distância que me separava desse mito; até porque, o meu horizonte era a paisagem agreste que me circundava e o seu, era o mundo que percorria aos comandos dos “jactos”, com que rasgava os céus.
Recentemente e, ao fim de muitos anos, tive o prazer de conhecer esse homem com quem tive o privilégio de poder conversar durante algumas horas no Carvalhal. Foram momentos de enriquecimento para todos os que puderam confraternizar com o Alberto Pereira numa sardinhada sempre bem orientada pelos nossos amigos Vasco Gaspar e Joaquim Ribeiro e outros que sempre mostram a sua disponibilidade na entre ajuda.
Estará o(a) leitor(a) pensativo(a) pela desconsideração em ter tratado por igual aquele senhor tão importante da memória da nossa infância. Afinal, pela sua provecta idade e pelo estatuto que granjeou ao longo da sua vida, ficar-me-ia bem falar no Senhor Comandante Alberto Pereira. É verdade, mas depressa percebi no convívio que tive com ele, que o Alberto Pereira dispensa honrarias e gosta de estar ao nível de qualquer seu conterrâneo; afinal, quase todos nós, ainda que em épocas diferentes, percorremos de pé descalço os mesmos caminhos poeirentos ou enlameados do Carvalhal.
O Alberto Pereira, conjuntamente com outros sócios, apreciou o projecto que o João Paulo apresentou para o futuro Centro de Convívio para servir as gentes do Carvalhal, dos mais idosos aos mais jovens. Foi interessante o debate em torno do projecto, mas retive na memória um apelo que não pode ficar esquecido.
Quando temos a funcionar o centro de convívio para apoiar os idosos do Carvalhal”? Perguntou, a dado momento, o “jovem” Alberto Pereira.
Pergunta acutilante, pergunta de um homem de convicção, que obrigou a troca de olhares sem resposta imediata entre os presentes, tal é a distância que separa um sonho da realidade, quando os recursos são escassos e finitos.
Essa pergunta tem que ter uma resposta; razão porque me sinto obrigado a divulgá-la junto de todos vós, ciente das minhas responsabilidades, mas também convicto da generosidade de todos os amigos do Carvalhal.
Vamos honrar o repto do Alberto Pereira que tão generoso se tem mostrado com a sua e nossa aldeia. Todos vamos dar o nosso melhor para que a obra seja uma realidade.
Vamos contribuir para um projecto que será de todos e para todos.
Vamos ajudar a Direcção a concretizar um sonho, mostrando o nosso orgulho de ser do Carvalhal, de raíz ou por adopção.
Publicado no último "Notícias do Carvalhal"

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