domingo, 20 de abril de 2008

Quatro tostões

Passeava eu os livros da quarta classe e certo dia tinha comigo quatro tostões.
Para os mais jovens informo que representa a módica quantia de €: 0,002, o que significa menos do que a moeda de menor valor (um cêntimo) hoje em circulação. Embora não me recorde da origem de tamanha fortuna, não garanto até que os tenha soropiado ao já vazio cofre dos meus pais, ou algum familiar que mos possa ter dado. O certo é que andava eu todo inchado na escola a gabar-me de ser possuidor de tamanha riqueza, até que outro companheiro de escola, um ou dois anos mais velho, mas da minha turma, de nome Manuel Américo, se apresenta disposto a fazer um negócio comigo.
O Américo mostra-me uma carteira e diz-me:
-Vendo-te esta carteira, em estado novo, por quatro tostões.
Olho para o objecto, vasculho as suas entranhas e, não havia dúvida, ali estava uma bela carteira, igualzinha a tantas outras que os homens crescidos usavam para guardar as moedas e notas que serviam para comprar as cervejas na loja do tio Alípio e da tia Palmira.
O Manuel Américo colocou-me um grave dilema.
Bem tentei baixar o preço, mas o "espertalhão", porque sabia o real valor do seu objecto ou porque sabia que eu tinha nos bolsos os quatro tostões e, a todo o custo mos queria sacar, a verdade é que não cedia no preço.
A minha cabeça fazia contas à vida e o maganão continuava a insistir:
-É pegar ou largar...
Ora porra, ter dinheiro no bolso eu já sabia o que era; aqui estava a oportunidade de ser proprietário de uma carteira e não ia desperdiçar, vai daí, negócio feito.
Paguei o preço da coisa e o Américo entregou-me a carteira.
Confesso que por alguns minutos fiquei muito feliz, mas depois começei a pensar e chamei-me mil vezes estúpido.
Afinal para que queria eu uma carteira se tinha ficado sem dinheiro?
Pensei:
- Quantas gasosas e laranjadas eu podia ter comprado na loja do tio Alípio e, concluí com os meus botões:
- Que merda de negócio eu fiz. Aquele gajo nunca mais me volta a enganar...
Não sei o que terá pensado o meu companheiro de escola, mas nunca mais quis fazer negócios com ele.
Afinal, ele tinha levado a desfazer-me de uma fortuna de que tanto me orgulhava de ser possuidor - quatro tostões.

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