quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Grandes malhanços


Já andava farto de subir ao primeiro andar dos "verdinhos" que percorriam as artérias da capital. Invejava alguns amigos que se passeavam junto das garotas de mini, mas o salário era curto e absorvido pelos vícios e extravagâncias.
Um dia resolvi que não estava mais para esperar nas paragens dos autocarros e vai daí, resolvi comprar este belo exemplar.
Era bestial!
Com mais uns patacos comprei o capacete, uns óculos e toca de começar a circular por Lisboa.
Não podia ser mais económico; o pedal, como auxiliar do motor, servia também para fazer algum músculo nas pernas.
Nos semáforos ficava sempre na frente. É certo que quando o sinal verde abria, era vê-los arrancar em altas correrias, mas, como tartaruga que não teme lebre, no semáforo seguinte lá estava eu novamente na frente. Pelo menos enquanto estávamos parados nos semáforos tinha a honra de ser o primeiro e, se depois ficava em último, vinha o semáforo seguinte lembrar aos aceleras que a tartaruga não se deixava atrasar.
A máquina era perfeita, mas tinha uma manha terrível; no inverno e com piso escorregadio, a travagem tinha que ser feita sem que houvesse inclinação do corpo, pois se isso não acontecesse era espalhanço pela certa.
Foram muitas as vezes que o cavalo atirou com o cavaleiro ao chão, mas alguns segundos depois, lá continuava a marcha cidade fora, esquecendo a vergonha do olhar de desdém daqueles e daquelas que se sentavam ao volante de umas carripanas mais confortáveis.
Foi na década de 70 e fervilhava a capital nas onde de choque do 25 de Abril de 74. Nessa altura estava já desgostoso com a formação política em que militava, a UDP. Afinal já tinha percebido que muitos dos intelectuais, melhor dizendo, "bem falantes", não se importavam de ser da classe operária, desde que eles fossem os mestres de oficina.
Recordo o Durão Barroso, o Arnaldo de Matos, do MRPP, o Saldanha Sanches ou o actual Ministro António Nunes Correia, da UDP, ou o Mário Lino, actual Ministro das Obras Públicas, grande líder da classe operária do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Quando se criam condições positivas para reaparecerem as Solex e demais familiares, com pistas adequadas à sua circulação?
Seria bom que este tipo de veículo não fosse encarado com estatuto de menoridade, mas sim como um utilitário amigo do ambiente e facilicitador da mobilidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Saldanha Sanches da UDP????