domingo, 16 de novembro de 2008

De onde saltou a vareta?


Era domingo. Corria o ano de 1978.
Depois de uma visita ao Rogério na Parede, deslizava o Fiat 850 calmamente na estrada, quando na curva que antecede a chegada ao Aqueduto das Águas Livres, resolve ficar descontrolado e zigezague para aqui, mais ziguezague para ali, com outros carros a contornarem o animal descontrolado, decide quietar-se entre a faixa de rodagem que sobe em direcção à Praça de Espanha e a que desce, mesmo junto ao pilar do Aqueduto com uma das rodas traseiras encaixada, milagrosamente, num pneu ali abandonado, o que obrigou o burro a parar virado com o traseiro aos carros que desciam em direcção a Monsanto e a frente com vista panorâmica para a via que subia rumo à Praça de Espanha.
Os ocupantes, sem as cuecas sujas, mas a tremer como varas verdes, olhavam atónitos um para o outro e ainda não tinham compreendido o que tinha acontecido.
O condutor só tinha uma explicação, obra do diabo; a seu lado, o amigo Carlitos olha espantado para o seu colo onde repousa uma vareta de óleo.
Pega na vareta, ainda amarelo e pergunta:
- É pá, mas como é que a vareta do óleo do motor veio parar aqui?
O condutor, preso de raciocínio, ainda com o coração a palpitar e a imaginar-se debaixo de um autocarro que passava acelerado, diz:
- Sei lá, deve ter vindo do motor.
Mas, como aconteceu isso, pá?
Ripostava o Carlitos, já mais aliviado de tensão e de pensamento mais lúcido.
O condutor com alguns suores frios que lhe percorriam o corpo e meditando nas razões do despiste, continuava:
- Saltou do motor, pá.
- Porra, mas como é que saltou do motor se o motor está lá atrás , o carro não está nada partido, não bateu em lado nenhum e até está a trabalhar?
E assim continuaram sem perceber a razão mágica da vareta ter vindo ali parar.
Ao fim de uns bons minutos de cogitação sobre fenómeno tão estranho, o condutou, berrou:
-Porra, que grande estúpido, essa merda é uma vareta velha que eu trazia aí no porta luvas.
Riram do despiste, riram do caricato da vareta e, mais calmos lá saíram do bólide.
Tudo bem, nada partido, o susto tinha passado.
Depois de duas aceleradelas, aí vão eles em direcção à Praça de Espanha...

2 comentários:

Anónimo disse...

Conta a verdade toda pá !
- os pneus estavam carecas.
- o condutor era azelha.
mas o contrabando safou-se.

Jose Gil disse...

Se eu tivesse contado tudo, depois tu não tinhas nada para contar... Pois é! Eram contrabandistas de pé descalso, nem dinheiro para uns pneus novos. Azelha não, diz lá qual era condutor que teria a habilidade de procurar um pneu no meio da erva e que o utlizaria na travagem do bólide para não levar com os marretas que vinham da Praça de Espanha?
Safaste-te porque na altura eras o pendura do Fitipaldi.