domingo, 1 de junho de 2008

Não passou de um susto

A lua "movia-se" lentamente e banhava o vale de forma intensa permitindo-nos ver que elas já descansavam
Sentados em cima da laje, os quatro trocávamos monótonos diálogos. Afinal se elas já descansavam distribuídas em diversos aglomerados, o farrusco e o leão tinham já ocupado os seus postos de vigilância, era chegada a hora de estender as mantas, tirar o bornal e passar pelas brasas durante algum tempo.
O sono foi profundo mas de pouca duração.
Acorda o primeiro, olha em redor e de imediato dá o alerta.
- Acordem, porra, as ovelhas desapareceram.
Estremunhados, os outros, nem queriam acreditar. Num ápice corremos em direcção às olgas, com o coração apertado, imaginando já as olgas dos Amarais e Justinos dizimadas.
Saltam uma parede, mais outra, param para ouvir as campainhas ou algum balido e, nada. Silêncio absoluto.
Mais uma corrida em direcção às lapaceiras e nada.
O silêncio continuava a ser arrasador.
Chama-se pela princesa, pela andorinha e estas, contrariamente ao que seria de esperar, não dão resposta.
Chama-se o farrusco e o leão e estes ignoram-nos. O desespero apodera-se de todos.
Como teria sido possível os lobos terem atacado sem se ter ouvido um sinal dos que até aquela data nunca tinham permitido que tivesse acontecido?
Depois de uma boa meia hora de corridas sem norte e em todas as direcções, sem encontrar o rebanho, voltámos aos lameiros da ribeira e de uma forma mais concentrada procuraram-se pistas.
Não havia dúvida. Os rebanhos tinham seguido a direcção do picarrão e tomado o caminho que levava ao povoado.
Pernas para que vos quero, sempre na alçada da pista que, sem margem para dúvidas, levava ao Carvalhal.
Corremos em direcção à corte e aí chegados, tinha o Joaquim Jerónimo fechado a porta da corte do nosso rebanho e preparava-se para conduzir o rebanho dos Rebelos para a corte deles na quelha que dava aos murtórios.
Tememos a ira do pai, mas este, serenamente, só nos disse:
-É assim que se guarda o gado?
Afinal tinha-nos pregado uma partida, pensou em ir ter com os filhos para os acompanhar durante a noite na difícil tarefa de guardar as ovelhas, mas como nos apanhou a dormir, resolveu dar-nos uma lição.
Como poderia o farrusco e o leão terem dado sinal se o "lobo" era o patrão?
O Tónio e o Zé Rebelo, o Tónio e o Zé Gil não ganharam para os diversos sustos de que foram acometidos na noite; desde a possibilidade de terem que vir a indemnizar por danos cometidos nas olgas vizinhas, até terem ficado sem os rebanhos por um ataque de alguma alcateia, tudo lhes passou pela cabeça, o que não esperavam era a visita do mais velho, porque se assim fosse não se teriam deixado dormir naquela laje por volta das 3.00 h da manhã de uma noite de Agosto.


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