domingo, 29 de junho de 2008

A loja do ti Alipio

Há muitos, muitos anos, aqui o ti Alípio vendia de porta aberta. Ainda me recordo dos grandes bidões de petróleo que alimentaram centenas de candeias, candeeiros e "petromaxes" que à noite produziam uma luz ténue nas cozinhas e no Inverno ali ficavam horas a fio dando brilho aos serões das famílias.
Havia dezenas de motores de rega que se espalhavam pelos campos junto às ribeiras desde o Vale do Pombo até às Olgas do Navalho, sem esquecer os que se escondiam pela Ribeira de Pínzio acima até ao Condivau. Toda a gente estendia as suas mangueiras ribeira dentro e, já próximo do período da arranca das batatas, era vê-los a "inventar" poços escavando na areia até encontrar sinais de água onde se pudesse "sorver" mais uns litros que pudessem matar a sede dos batatais que Olga após Olga se espraiavam junto às margens das duas ribeiras.
Havia consumo e a loja do ti Alípio vendia de tudo, desde o petróleo ao rebuçado e, onde muitas vezes no Verão, ao final de tarde e fins de semana, se podia saborear uma cervejinha; os garotos bebiam laranjada e gasosas em que o gás muitas vezes nos subia ao nariz.
Era uma festa quando tínhamos uns tostões para gastar na loja do ti Alípio.
As Olgas não deram riqueza, os motores de rega começaram a ficar cansados. As gentes sumiam-se durante a noite para alguns meses mais tarde darem notícias de além fronteiras e a loja finou.
Mais tarde, as modernices permitiram o aparecimento dos fogões a gás e o ti Alípio percebeu que prestaria um bom serviço se instalasse um depósito de venda de botijas de gás butano.
Infelizmente o ti Alípio já não está entre nós, mas a ti Palmira teima em manter meia dúzia de garrafas de gás em frente à antiga loja, revelando-se este comércio como um óptimo contributo para o bem estar dos poucos residentes que não têm que se deslocar a Pinhel a comprar o gás.
A pergunta que se me coloca é de saber se a publicidade da GALP se mostra inevitável para a sustentabilidade e rentabilidade do negócio.
Seria interessante fazer um inquérito à população para saber quantos foram os que compraram gás ao ti Alípio e à ti Palmira porque reparam na publicidade instalada.
Nos tempos que correm e com o preço dos combustíveis a disparar apetece-me pedir à ti Palmira que "retire" aquele símbolo para, ao menos quando estivessemos na nossa aldeia, não pensassemos nesses monstros que nos sugam todos os dias os bolsos.

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