terça-feira, 14 de julho de 2009

Peripécias da Juventude


O que vou contar passou-se antes de eu ir para a tropa,(1951),pelo que deve ter sido nos anos de 49 ou 50.Como já lá vão tantos anos, a maioria das pessoas que assistiram à cena já faleceram,(e que Deus os tenha em bom lugar) cujos nomes de alguns eu irei citar. Espero que os seus familiares não levem a mal, a quem desde já apresento as minhas desculpas. Começo pelo Sr. Joaquim Marques , que durante muitos anos foi feitor da casa do Sr.Doutor Seixas de Pinhel. Deslocava-se frequentemente à freguesia do Bogalhal, onde o referido doutor tinha propriedades. Foi nesta localidade que namorou a senhora professora Noémia, com quem viria a casar. Nessa época, o caminho que ligava Bogalhal a Pinhel, era ladeado por vários matagais de giestas e pinheiros, caminho que o sr. Marques percorria muitas vezes, algumas delas, a altas horas da noite. Contava ele, (e não era homem para mentiras) que em algumas noites, ouvia sair daquelas matas, o som de uma cabra a berrar, e que numa noite a viu passar à frente da luz do farolim da sua mota.
Acontece que, passado algum tempo, a srª. Isabel Guilhermina começou a dizer que também já tinha ouvido uma cabra a berrar para os lados da azinheira no Carvalhal. Seria a mesma?. Algumas pessoas começaram a andar assustadas. Numa noite calma e sem frio, princípios de Verão, lembrou-se o Alfeu e o Augusto de irem até à cruzinha do Azinhal e imitar-mos uma cabra a berrar. De lá avistávamos a porta de entrada da srª Brizida. A iluminação no interior das casas, era feita através de petróleo, azeite ou lenha, mas que dava para nós nos apercebermos quando a porta era aberta e alguém entrava ou saía. Foi numa ocasião destas, que notámos que alguém saía ( talvez para mudar a água aos tremoços) que depois viemos a saber ter sido um tal Alfredo Desertor, que demos inicio ao programa. Berras tu ou berro eu. Uma vez cada um para pensarem que são duas e aí vai: mééé…mééé…O tal Alfredo, chamou logo o pessoal, como não acreditassem, aí vão mais uns berros. Passados alguns minutos, notámos algum alvoroço no largo do Oitão. Os mais foitos, armados de pau e manta, meteram-se ao caminho. Chegados ao portão da tapada, pararam e ficaram em silêncio. Mais uns berros mééé…mééé…É ali à fonte diziam eles. Era aqui diziam outros; será que iria aos figos, diziam outros. Uns outros comentavam, berra agora filha da p… O sr. José Jaime comentava zangado: se não tens medo aparece agora que te parto os cornos com este sacho. Nós, metidos na quelha que dá acesso à Cotovia, mas já com o motor ligado, só berrámos mais uma vez,. Era vê-los ladeira acima, mas nós ligamos o turbo e foi rápido que chegámos ao caminho que vai para o Poço do Barro. Um pouco de descanso e como não éramos perseguidos, aí berrámos à vontade. A tropa regressou à base e já no largo do Oitão notaram a nossa ausência e, fomos tornados suspeitos. Na noite do dia seguinte, fomos chamados ao tribunal popular e julgados pelos juízos: Francisco Domingos; António Pedro e Joaquim Sebastião. Fomos submetidos a apertado interrogatório e confessámos a proeza. Como se tratou de uma brincadeira de bom gosto, saímos em liberdade condicional e com pena suspensa por dois anos.

Fonte: Notícias do Carvalhal
Autor: Augusto Afonso Pereira

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