sábado, 7 de novembro de 2009

Stress na Aldeia


Histórias Brejeiras

STRESS NA ALDEIA


Vivemos num mundo de stress. É o stress quotidiano da pontualidade, da assiduidade, da produtividade, dos objectivos. É o stress financeiro dos compromissos do fim do mês. É o stress familiar. É o stress dos transportes. É o stress do trânsito infernal. Em suma vivemos num mundo stressado.
Pasme-se que, até para entrar na nossa airosa aldeia, nas ditas horas de ponta, é um suplício com os engarrafamentos, trânsito a passo de caracol. È irritante!....
Para quando Sr. Presidente da Junta o cumprimento das promessas eleitorais de colocação de semáforos nas entradas da povoação e da construção de pelo menos três rotundas na confluência das principais avenidas!...
Com este balanço atrevo-me ainda a sugerir que com a falta de emprego, poderíamos ainda recrutar três ou quatro sinaleiros para a confluência das ruas mais problemáticas. Estou certo que com estas medidas poderiam ser atenuados os graves problemas de tráfego rural com que se debatem no dia a dia os residentes e até para nós seria de uma ajuda acrescentada quando pretendemos visitar a aldeia. Concordam com a proposta?....
A história brejeira (verídica) que vou recordar ocorreu há várias décadas e vem demonstrar na minha perspectiva que embora o trânsito dos veículos circulantes na aldeia (carros de vacas e algumas (poucas) carroças, fosse mais suave e menos poluente, a espera demasiada, já fazia mossa no sistema nervoso de alguns habitantes da aldeia.
Era o dia do casório do António das Fontainhas. O enlace matrimonial era na vizinha aldeia de Valverde e a noiva era a Lurdes, filha do Zé Sebastião. Os convidados, após tratarem das lides domésticas vestiram os fatos domingueiros e foram-se aglomerando no curral da casa do pai do nubente. Foi-se aconchegando o estômago, pois a caminhada até Valverde assim o exigia e calmamente ia-se pondo a conversa em dia. Após algumas horas de espera, tudo parecia estar pronto para se iniciar o trajecto, mas o tio Zé Joaquim não havia maneira de sair de casa. Era a mulher a chamá-lo, o filho, e nada, nem sombra do Zé Joaquim!...Até que o ti Vicente já farto de esperar e depois de ajeitar a garbosa jaqueta preta, do alto do seu metro e cinquenta explodiu alto e em bom som:
Já sabandes, se estandes à espera do meu cunhado, ao meio dia ainda cá estandes!.....
E dito isto, juntamente com a tia Anunciação pôs os pés a caminho rumo a Valverde sem se importar do cunhado. Os restantes convivas aturdidos com a sábia sentença depressa se juntaram ao casal, pois o sol começava a queimar e a distância a percorrer ainda era longa.

P.S. Será que o tio Vicente já estava a pensar no possível engarrafamento de trânsito que a essa hora já se fazia sentir na ponte das poldras!?...

Esta brejeirice é dedicada à inveja que eu tenho da vida simples e sem stress dos trinta e sete residentes do Carvalhal e também às seis viaturas ligeiras dos mesmos que sem stress de vez em quando se espreguiçam nos melancólicos paralelos da aldeia e “obrigam” os seus proprietários a irem até à cidade.

J. Amaral

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