sábado, 5 de setembro de 2009

Pinhel Cidade dos Inhos

RECORDAÇÕES DE PINHEL
Nos dias de hoje, por qualquer razão que me escapa - como diria a escritora Clara Ferreira Alves - não há empregado ou dono de restaurante que não se exprima por diminutivos. Eles dizem: a saladinha, o pãozinho, a manteiguinha, o queijinho, as azeitoninhas, o robalinho, o pratinho, a cervejinha, o copinho, e, no fim, obviamente, a continha e a facturinha (quando se lhes pede)!
Ao longo do tempo o uso dos diminutivos para nomes próprios utilizava-se fundamentalmente no tratamento de crianças: Chiquinho, Ruisinho, Luisinho, Huguinho, Nuninho, Pedrinho e por aí fora.
Todavia, nos anos cinquenta e sessenta do século passado, em Pinhel os "inhos" nos nomes próprios dos adultos estiveram na moda por razões de afectos e de um tratamento carinhoso, mas nunca depreciativo ou irónico. Eram tempos de grande proximidade e de amizade entre adultos. E aqui lhes deixo exemplos demonstrativos disso mesmo:
O senhor Aleixinho era dono da farmácia; o senhor Marinho era dono duma ourivesaria e relojoaria; o senhor Luisinho, tanto podia aplicar-se aos comerciantes Luís Alves, Luís Teixeira ou Luís da Silva, como ao bibliotecário e ajudante do registo civil Luís das Neves; o senhor Adrianinho ao Bulha, ao Teixeira ou ao Saraiva; o senhor Quinzinho, ao Ricardo, Figueiredo ou Torres (Pinguinhas); o senhor Alfredinho, ao Apolinário, ao Amaro, ao da Benedita ou ao Dias Coelho; por senhor Manelzinho: ao Seixas, do solar dos Mena Falcão, ao Silva, das Souropires, ao Pereira; por Carlinhos chamavam o senhor Carlos Carneiro, homem latagão, com os seus cerca de cem quilos; por senhor Zézinho: o Pardalejo, o Coelho, o Navega, o Torres Lima ou o Ferreira (que foi durante muitos anos dedicado e exemplar comandante da corporação dos bombeiros voluntários, orgulho da nossa cidade), etc. etc..
Fugia a esta regra ou moda o senhor Zé do Cantinho, que não tendo no José o diminutivo inho, acabava por apanhar com ele no "Cantinho"!
Gracioso na resposta era o senhor José Pardalejo, que, muitas vezes, quando o chamavam Zézinho ele respondia com franca bonomia: - Ó mulher fique sabendo que um zézinho é um capote sem mangas! Olhe cá para mim e veja que nem capote hoje trago vestido! ...


(Nota: publicado na edição de 03.09.2009 do quinzenário "PINHEL FALCÃO")

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