domingo, 18 de janeiro de 2009

A escava das videiras

Ir aos bailaricos nas aldeias vizinhas sem cheta no bolso era desprestigiante para qualquer jovem na década de 60 do século passado. Lá vinha a balsa do ramo e se alguma donzela convidasse o cavalheiro para dançar e este não tivesse 5$00 (0,025 euros) para oferecer publicamente pela honra de ter sido convidado, por malícia, por embeiçamento ou simplesmente por divertimento, só tinha uma alternativa, fugir da sala do baile para ninguém perceber que o rapaz estava na penúria.
A maioria dos pais não tinha dinheiro para dar aos filhos para as suas estroinices e por isso só havia uma solução, encontrar trabalho remunerado a fazer fora de horas, já que durante o dia tinham que trabalhar no âmbito da economia familiar, obviamente sem remuneração.
Nesse contexto muitos jovens disputavam uma tarefa agrícola que muitos agricultores resolviam entregar-lhes no regime de empreitada, a escava das videiras.
Essas empreitadas eram executadas, normalmente durante a noite ao luar, juntando-se, no mínimo dois jovens, para a levarem a bom termo, sendo muito desse trabalho feito entre as 9.00h da noite e as 2.00h da madrugada aproveitando o luar típico de Janeiro.
Recordo que muitas noites o meus irmãos Manuel e António, o Carlos da Arminda Josefa, o Horácio da ti Fidélia, O Manuel do ti Zé Samuel, o Joaquim Amadeu, O Paulo do ti Manel Amaral e tantos outros, depois da ceia juntavam-se e de enxada às costas lá iam até até às vinhas da Senhora da Piedade, do Cabeço ou outros lugares e, em ritmo acelerado, arreto a arreto, um de cada lado, retiravam a terra junto das cepas, arrancando as ervas daninhas.
Trabalho duro, feito muitas vezes com temperaturas negativas, mas a possibilidade de poder ter uns trocos no bolso para beber umas cervejolas ou poder ir aos bailaricos das redondezas de bolso recheado, fazia esquecer o lado mau dessas empreitadas feitas ao ritmo de umas cantarolas e de troca de confidências próprias da idade.

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