sábado, 27 de junho de 2009

As tecedeiras de Pinhel

Museu do Carvalhal
No concelho de Pinhel, na primeira metade do século passado, existiam algumas tecedeiras que trabalhavam nos teares os fios de linho e estopa transformando-os em belos panos para lençóis, enxergas e toalhas e teciam também as conhecidas colchas de lã e mantas de farrapos.
O linho, que deixou praticamente, de se cultivar nos anos sessenta, era antes uma cultura de alguma importância em terras como Atalaia, Carvalhal, Safurdão, Lamegal e Pereiro.
O linho cultivava-se normalmente em Março, nos terrenos que tinham bastante água; era regado todos os dias. Deitava uma linda flor azul quando estava maduro. Cortava-se, normalmente em Junho, e tirava-se-lhe a semente para semear no ano seguinte. Faziam-se feixes que se iam pôr na ribeira, para curtir durante dias. Depois permanecia em casa até Setembro, ora metendo-o na água, ora espalhando-o ao sol.
No inicio do Outono levava muita pancada com a maça ou maçadoira para lhes tirar as arestas; com a espadana ou espadaneira, em cima dum cortiço alto, dava-se-lhe mais pancada; depois ia para o sedeiro, que era uma tábua estreita com muitos dentes, a parecerem sovelas, afiados para separar o linho da estopa e dos tomentos.
No Inverno seguinte, ao serão, as mulheres fiavam-no, utilizando rocas. Eram feitas com uma cana, tendo no cimo cavidades que se abrem metendo lá dentro uma rodela de cortiça onde se punha de forma a parecer uma maçaroca. Os fusos serviam para puxar o linho da roca através do uso da mão. À medida que o linho ia sendo fiado ficava em maçarocas de cerca de meio quilo. As maçarocas eram dobradas num sarilho ou argadilho que as transformava em meadas, que iriam cozer durante uma noite com água e cinza, dentro das grandes panelas de ferro ou nos caldeiros das lareiras, para depois poderem ir corar e, posteriormente, levarem uma boa barrela.
Mais tarde, as meadas já coradas, iriam para às oficinas das tecedeiras que as dobrariam nos argadilhos e, depois as urdiriam nas urdideiras, para irem para os teares. Era o momento em que “a teia de linho já estava urdida”, queria significar que estava pronta a teia a ser tecida.
Nessa altura, as tecedeiras enchiam as canelas, para serem metidas nas lançadeiras que, em movimentos ritmados, para cá e para lá, atravessavam as teias urdidas e montadas no tear, de onde iriam sair os panos de linho e de estopa. O tear tem como peças importantes o pente, por onde passam todos os fios da teia, as liças e os pedais.
Quando a teia estava pronta, a peça, por vezes, ainda tinha de voltar à barrela, a fim do linho ficar tão branco, tão branco, que pudesse ser transformado em alvo lençol ou numa toalha para o altar de igreja ou capela de solar!
No concelho de Pinhel, a tecelagem manual era profissão exclusiva de mulheres. Para mim, o Carvalhal da Atalaia foi o berço da tecelagem artesanal no concelho. Desde tempos imemoriais que a arte passava de mães para filhas; as tecedeiras mais conhecidas nesta pequena localidade são as senhoras Guilhermina Paula, Isabel Carlota e Isabel Pedra. Em Pinhel, só existia uma tecedeira, também originária do Carvalhal, que era a senhora Ricardina, que tinha a sua oficina de tear manual na rua dos Tiros, ali bem perto da porta de São Tiago. Fazia teias de muitas caras fabricando bobinas de linho fino (que comprava em meadas a fornecedoras suas conterrâneas do Carvalhal da Atalaia) para lençóis, toalhas, travesseiros, enxergas, colchas, tapetes e mantas de farrapos. Também no Safurdão sempre houve tecedeiras. Ficou conhecida a ti Beatriz (mãe do grande matador tauromáquico Amadeu dos Anjos) e mais tarde, entre outras, a ti Eulália, que ainda deixou familiares nesta penosa mas bonita profissão artesanal; a maior especialização das tecedeiras do Safurdão era a tecelagem de mantas e alforges, indispensáveis na vida rural para colocar sobre a albarda dos equinos, asininos e muares e as mantas tecidas em lã que se punham, ou nas camas para ornamento ou até no chão das salas de visitas em vez de carpetes. Em Pínzio, a última tecedeira foi a ti Teresa Jorge, filha doutra tecedeira que deixou saudades: a senhora Maria Clara.
Naqueles tempos era um orgulho ser tecedeira para poder tecer finos panos de linho para o ornamento dos altares das igrejas e para outros usos na liturgia católica. Como era motivo de vaidade para as senhoras ricas de Pinhel o ornamento que faziam nos seus solares com os panos de linho bordados e colocados nas camas, nas mesas e até como cortinados nas janelas e sacadas.
Fonte: Jornal Pinhel Falcão
Autora: Eneida Beirão

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