domingo, 14 de março de 2010

O jovem pastor e o Presidente

José Abrantes Carneiro de Gusmão foi um dos mais notáveis pinhelenses da geração nascida no último quartel do séc. XIX (nasceu a 8 de Agosto de 1874). Na Câmara da nossa cidade foi vereador, vice-presidente com o Eng.º Augusto Furtado como presidente, e depois foi ele próprio o presidente da Câmara Municipal. Tomou pose deste cargo em 1931 e nele se manteve até 1945, levando a cabo obras que marcaram aquela época e contribuíram decisivamente para o progresso concelhio e para que o seu nome e as suas obras sejam ainda hoje lembrados. Futuramente voltarei a falar dele como uma das mais marcantes figuras de Pinhel.
Hoje venho evocar aqui uma história que na minha juventude me contou o “ti” José Simões. Do Manigoto, homem generoso e bom, de estatura meã, olhos vivos e sempre trajado, quando vinha a Pinhel, com uma impecável camisa branca debaixo dum fato completo (casaco, calça e colete), ostentando na botoeira do colete a corrente dum relógio de bolso. No futuro, noutra crónica, também gostaria de ter oportunidade para escrever sobre ele.
Contou-me que no principio dos anos quarenta do século passado, num domingo, quando, em visita de trabalho, esse presidente entusiasta e bairrista presidente da Câmara, senhor Carneiro de Gusmão, conhecido pelo “senhor Carneiro”, nessa altura perto dos setenta anos, mas montado ainda num esbelto cavalo, e acompanhado dum funcionário da Câmara, também a cavalo em luzidia égua, deslocaram-se de Pinhel para o Manigoto, com três objectivos no seu programa: observar as obras que, sob o patrocínio da Câmara, se andavam a executar na então estrada municipal Pinhel-Pínzio, ir à missa dominical celebrada na matriz da aldeia pelo padre Fragoso e, depois almoçar em casa do seu amigo e presidente da Junta senhor António Caetano Roque, cuja filha, a também generosa menina Aidinha, e a sua dedicada empregada senhora Ana, sabiam preparar como poucas a apetitosa refeição.
No caminho para o Manigoto encontrou junto a um lameiro, à ilharga da renovada estrada de macadame, um pequeno pastor, de uma dezena de anos a dar de beber ao rebanho num chafariz da berma.
Então parou a montada e perguntou-lhe: - Meu menino, sabes quantas ovelhas tem o teu rebanho?
O petiz respondeu: - setenta e oito ovelhas e um carneiro, meu senhor.
O senhor presidente ousou perguntar-lhe: - Quantos anos tem esse teu carneiro?
O pequeno imediatamente respondeu: - Tem um pouco mais de três anos, segundo diz o meu pai.
Então o nosso presidente Carneiro retorquiu-lhe: - Pois eu conheço um que já está a chegar aos setenta anos.
Resposta pronta do pastorzinho de palmo e meio: - Então, meu senhor, esse carneiro com essa idade já deve ter uns cornos muito grandes!
Claro, que o senhor Carneiro, depois dum sorriso amarelo mas ternurento, lá teve que esporar o cavalo e partir a trote para o Manigoto, que “se fazia tarde”, não sem ter desabafado para o companheiro de trajecto: “Quem com miúdos se mete… borrado se acha!”
Autor(a): Eneida Beirão
Fonte: Pinhel Falcão

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