Dia 29 de Abril de 74 tinha entrado ao serviço do Laboratório Nacional de Engenharia. Ainda mal sabia como se viajava de Campo de Ourique para a Av. do Brasil e já podia festejar o primeiro feriado, o 1º de Maio.
O sol erguia-se bem alto quando resolveu sair de casa à procura de uma tasquinha para matar o bicho; comer uma sandes e beber talvez um sumo ou um galão.
O sol erguia-se bem alto quando resolveu sair de casa à procura de uma tasquinha para matar o bicho; comer uma sandes e beber talvez um sumo ou um galão.
Transpôs a porta do prédio e dirigiu-se na direcção do jardim de Campo de Ourique; não conhecia o bairro mas a sua intuição dizia-lhe que seria naquela direcção que iria encontrar um estabelecimento de comes e bebes aberto.
Depois de ter feito a aproximação a dois ou três que se mostravam fechados começou a sentir os primeiros arrepios e a pensar no que lhe estava a acontecer. Continuou e aproximou-se do Canas, cervejaria e casa de marisco muito famosa na época e, portas trancadas. Deitou contas à vida e pensou:
- Não haverá um único café aberto nesta maldita cidade? Será que vou passar uma barrigada de fome?
Voltas e mais voltas, calcorreando ruas na zona de Campo de Ourique, Estrela, Infante Santo, Pedro Álvares Cabral e, nada.
Bem sabia que a festa do 1º de Maio se desenrolava na Alameda, mas, além de não saber em que zona da cidade ficava essa dita Alameda, também não o motivava ir juntar-se às multidões desconhecidas onde não passaria de uma formiga de todos desconhecida e porventura por muitos pisada. O jovem provinciano, acabadinho de chegar à capital, sentia-se isolado e só, nada à vontade para ir gritar slogans revolucionários.
Em casa da velhinha que lhe tinha arrendado um pequenino quarto sabia que não tinha o direito de pedir nem que fosse pão seco e por isso, depois de já muito extenuado, dirigiu-se ao jardim da estrela ao inicio da tarde e por aí esperou que a noite caísse. Ao escurecer recolheu-se ao quarto e de barriga vazia lá procurou dormitar à espera que novo dia chegasse e assim pudesse matar a fome, que foi negra.
Nos anos seguintes ainda foi uma ou duas vezes para a rua festejar o 1º de Maio no meio da multidão, mas nunca esqueceu o 1º de Maio de de 74 e talvez por isso, ainda que compreenda o grande significado da efeméride, nunca se adaptou ao convívio das multidões que sempre as considerou irracionais e instrumentalizadas. Razão porque:
-Viva o 1º de Maio, mas multidões, não obrigado.
Sem comentários:
Enviar um comentário