Já andava farto de subir ao primeiro andar dos "verdinhos" que percorriam as artérias da capital. Invejava alguns amigos que se passeavam junto das garotas de mini, mas o salário era curto e absorvido pelos vícios e extravagâncias.
Um dia resolvi que não estava mais para esperar nas paragens dos autocarros e vai daí, resolvi comprar este belo exemplar.
Era bestial!
Com mais uns patacos comprei o capacete, uns óculos e toca de começar a circular por Lisboa.
Não podia ser mais económico; o pedal, como auxiliar do motor, servia também para fazer algum músculo nas pernas.
Nos semáforos ficava sempre na frente. É certo que quando o sinal verde abria, era vê-los arrancar em altas correrias, mas, como tartaruga que não teme lebre, no semáforo seguinte lá estava eu novamente na frente. Pelo menos enquanto estávamos parados nos semáforos tinha a honra de ser o primeiro e, se depois ficava em último, vinha o semáforo seguinte lembrar aos aceleras que a tartaruga não se deixava atrasar.
A máquina era perfeita, mas tinha uma manha terrível; no inverno e com piso escorregadio, a travagem tinha que ser feita sem que houvesse inclinação do corpo, pois se isso não acontecesse era espalhanço pela certa.
Foram muitas as vezes que o cavalo atirou com o cavaleiro ao chão, mas alguns segundos depois, lá continuava a marcha cidade fora, esquecendo a vergonha do olhar de desdém daqueles e daquelas que se sentavam ao volante de umas carripanas mais confortáveis.
Foi na década de 70 e fervilhava a capital nas onde de choque do 25 de Abril de 74. Nessa altura estava já desgostoso com a formação política em que militava, a UDP. Afinal já tinha percebido que muitos dos intelectuais, melhor dizendo, "bem falantes", não se importavam de ser da classe operária, desde que eles fossem os mestres de oficina.
Recordo o Durão Barroso, o Arnaldo de Matos, do MRPP, o Saldanha Sanches ou o actual Ministro António Nunes Correia, da UDP, ou o Mário Lino, actual Ministro das Obras Públicas, grande líder da classe operária do Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Quando se criam condições positivas para reaparecerem as Solex e demais familiares, com pistas adequadas à sua circulação?
Seria bom que este tipo de veículo não fosse encarado com estatuto de menoridade, mas sim como um utilitário amigo do ambiente e facilicitador da mobilidade.
1 comentário:
Saldanha Sanches da UDP????
Enviar um comentário